CRISE NACIONAL
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Fernando Collor no período em que foi presidente da República; político foi preso hoje (25)
Publicado em 25/4/2025 - 10h33
Atualizado em 25/4/2025 - 10h52
A prisão do ex-presidente Fernando Collor, realizada nesta sexta (25), reacende uma das principais marcas do período em que governou o Brasil: o confisco da poupança. O episódio abalou as finanças da população e ainda hoje causa impactos no imaginário dos brasileiros.
"O confisco da poupança ocorreu há 35 anos e, com o tempo, grande parte da população brasileira nem tinha nascido ou era muito jovem naquela época. Mas, como o Brasil não tem planos claros de desenvolvimento, isso ainda reverbera", explica Odilon Guedes, presidente do Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo (Corecon-SP), em entrevista exclusiva ao Economia Real.
Em 1990, logo após a posse, Collor adotou uma série de medidas econômicas para conter a hiperinflação. A mais radical, e até hoje lembrada, aconteceu em 16 de março, quando o governo anunciou a retenção de 80% do saldo das cadernetas de poupança.
O bloqueio durou 18 meses e gerou sérios prejuízos financeiros e emocionais, especialmente para aposentados. O valor confiscado foi estimado em cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) da época.
O governo propôs um plano de devolução parcial a partir de 1991, mas isso não foi suficiente para reparar os danos causados. Apesar de Collor ter pedido desculpas posteriormente, o episódio segue como um dos maiores erros da história econômica recente do país.
Existe uma desconfiança geral em relação à política econômica no Brasil. Por isso, as pessoas preferem deixar o dinheiro na poupança, que tem liquidez imediata, em vez de investir em títulos da dívida pública, que exigem confiança e conhecimento", reforça Guedes.
O presidente do Corecon-SP afirma que as medidas econômicas adotadas pelos governos influenciam diretamente as decisões financeiras da população.
"Você tem várias interferências, como o teto de gastos no governo Temer, o ajuste fiscal no governo Lula e a reforma da Previdência no governo Bolsonaro. Isso mexe com o imaginário das pessoas e com a vida real", complementa.
A medida do confisco foi apenas o começo de uma série de decisões questionáveis durante o governo Collor. Acusado de corrupção, ele foi investigado após denúncias de envolvimento em esquemas ilícitos.
Seus familiares e aliados políticos também se envolveram em escândalos, o que arranhou ainda mais a imagem do então presidente.
Em 1992, Collor se tornou o primeiro presidente da história do Brasil a sofrer um impeachment, sendo afastado do cargo. Dois anos depois, ele foi absolvido pelo STF e, em 2006, retornou para Brasília ao ser eleito como senador por Alagoas.
Fernando Collor foi preso nesta sexta (25) em Maceió (AL) por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em um desdobramento da Operação Lava Jato. O político foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro em 2023.
De acordo com informações repassadas pelos advogados de Collor para a TV Globo, ele foi preso por volta das 4h enquanto se deslocava voluntariamente para Brasília. O ex-presidente encontra-se detido na Superintendência da Polícia Federal em Maceió.
Na decisão, Moraes afirma que Collor apresentou recursos "meramente protelatórios" ao longo dos últimos anos, ou seja, apenas com o intuito de adiar o início da pena de oito anos e dez meses de prisão.
O ministro também pediu para que o presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, marcasse uma sessão virtual para que a decisão seja avaliada pelos demais membros da Corte, o que ocorrerá ao longo do dia.
A denúncia contra Collor foi apresentada pela Procuradoria-Geral da República em 2015. Segundo o Ministério Público, o ex-presidente recebeu R$ 20 milhões em propina entre 2010 e 2014 para favorecer contratos da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, por meio de indicações políticas.
Dos oito anos e dez meses de condenação, quatro anos e quatro meses correspondem ao crime de corrupção passiva. A defesa tentou anular essa parte da pena, mas o ministro Alexandre de Moraes rejeitou os pedidos.
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