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Produtor rural usando tecnologia em sua lavoura; investimento em IA revoluciona o agronegócio
Publicado em 14/6/2025 - 6h00
Um dos principais motores da economia brasileira, o setor do agronegócio prepara um investimento de R$ 25,6 bilhões em tecnologia nos próximos meses. Mais da metade desse montante será direcionada à inteligência artificial (IA), com o objetivo de aumentar a eficiência no campo, cortar custos e reduzir desperdícios.
"A inteligência artificial vem com tudo para reforçar a liderança do produtor rural brasileiro em produtividade. O termo agronegócio 4.0 já é uma realidade", afirma Rodrigo Cruz, vice-presidente de Estratégia de Crescimento e Inovação de Portfólio da consultoria Keyrus, em entrevista ao Economia Real.
O investimento bilionário foi calculado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em parceria com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP), e representa um crescimento de 21% em relação ao valor aportado em 2024.
E os recursos investidos no ano passado já mostraram resultado: no primeiro trimestre de 2025, o agronegócio cresceu 12,2% em comparação aos últimos meses de 2024 e puxou o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que avançou 1,4%. A estratégia por trás desse novo ciclo de investimentos é clara: não apenas produzir mais, mas produzir melhor — com menos desperdício, mais sustentabilidade e decisões mais ágeis.
Apesar de muitas pessoas ainda imaginarem o produtor rural como alguém com a bota suja de lama, a produção agrícola brasileira é extremamente tecnológica", complementa Cruz.
O Brasil está entre os líderes globais em produtividade agrícola, à frente de grandes potências como os Estados Unidos e em níveis semelhantes aos da China, maior produtora agrícola do mundo.
De acordo com a Produtividade Total dos Fatores (PTF), indicador que mede a eficiência no uso de recursos, a produção agrícola nacional cresceu 3,1% entre 2000 e 2019, quase o dobro da média internacional no mesmo período (1,6%). Para 2025, a CNA projeta um crescimento de 7,4% no Valor Bruto da Produção (VBP) do agronegócio nacional, que deverá atingir R$ 1,4 trilhão.
divulgação
Rodrigo Cruz, da consultoria Keyrus
Segundo os dados da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP), propriedades rurais que passaram por transformação digital tiveram um aumento médio de 18,7% na produtividade e uma redução de 12,3% no uso de insumos como fertilizantes e defensivos agrícolas.
A digitalização também impulsionou a rentabilidade: fazendas tecnológicas lucram, em média, 23% mais do que aquelas que ainda não aderiram ao agronegócio 4.0. Os investimentos em tecnologia no agro vão além da lavoura.
No "antes da porteira", consultorias oferecem soluções para o uso eficiente de sementes, planejamento de safras com apoio da IA e digitalização de processos em indústrias de insumos. "Essas empresas investem milhões de dólares pesquisando as sementes ideais para cada microrregião", observa o executivo.
No "depois da porteira", a transformação inclui plataformas de e-commerce para produtores, sistemas inteligentes de logística e ferramentas de previsão de demanda com machine learning.
Na logística e produção, o foco é produtividade. A hiperautomação, por exemplo, usa inteligência artificial para automatizar tarefas repetitivas, liberando o ser humano para atividades mais estratégicas", detalha.
A Tereos, uma das maiores produtoras de açúcar e etanol do Brasil, estima economizar R$ 25 milhões por ano após implantar um centro de operações com tecnologia de ponta que integrou suas áreas agrícola e industrial.
Segundo estimativa da consultoria McKinsey, o mercado brasileiro de tecnologias agrícolas deve movimentar R$ 42 bilhões até 2030. E o alerta é claro: não investir em tecnologia pode significar um atraso irreversível. "A margem para decisões baseadas apenas na intuição está encolhendo. A nova era do agro exige dados, análises e precisão", conclui Cruz.
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