LILIAN MARQUES

O plano da empresária que vende bolsas de luxo como investimento financeiro

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

Lilian Marques, CEO da Front Row

Lilian Marques, CEO da Front Row; executiva vende bolsas de luxo como investimento financeiro

Publicado em 1/7/2025 - 12h00

Muitos não sabem, sobretudo os homens, mas as bolsas de grifes consagradas como Hermès, Louis Vuitton e Chanel são muito mais do que acessórios de moda: elas funcionam como ativos financeiros para quem deseja investir no mercado de luxo. De olho nessa movimentação, a empresária Lilian Marques criou a Front Row, plataforma que revende peças novas e seminovas e faz mulheres desembolsarem, de forma recorrente, cerca de R$ 55 mil na compra de um único item de alto padrão.

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"Com o tempo, o cliente brasileiro, seguindo uma tendência mundial, começou a investir em vez de apenas comprar. Como? Escolhendo bolsas como se escolhe ativos, para reserva de valor e acúmulo de capital. Temos clientes colecionadoras que já faturaram entre R$ 300 mil e R$ 400 mil conosco revendendo itens", explica Lilian, CEO da companhia, ao Economia Real.

Fundada em 2017, durante o mestrado da empreendedora em Paris, a Front Row começou como um brechó de luxo, especializado na revenda de peças de segunda mão (second-hand) das principais grifes internacionais. Com o tempo, a marca passou a atuar também com produtos novos e ampliou sua curadoria de moda de alto padrão para atender um público ainda mais exigente.

"Hoje, estamos posicionados como uma multimarca com curadoria de peças que são verdadeiros investimentos. Enxergamos a Front Row como uma conselheira de investimentos em moda de luxo para essas mulheres", afirma a executiva.

Nos Estados Unidos, modelos como a Birkin 25, da francesa Hermès, registraram valorização de 15,7% entre 2019 e 2024 ao saltarem de US$ 9,8 mil para US$ 11,4 mil. Em reais, os valores superam R$ 60 mil – e esse está longe de ser o teto de preços no universo das bolsas premium.

A Birkin 30, que teve uma valorização mais modesta nos últimos 4 anos (13,6%), é negociada nos EUA a US$ 12,5 mil, ou cerca de R$ 68 mil. Na Europa, a valorização da Birkin foi expressivamente maior nos últimos 4 anos. A Birkin 25 subiu 30,3% no período e a 30 teve alta de 24,5%.

É com base nesse cenário que a Front Row orienta suas clientes a enxergarem bolsas de luxo, joias e relógios como instrumentos de diversificação patrimonial — e não apenas como itens de desejo.

"A princípio, evoluímos para revender itens novos de marcas exclusivas. Seguimos com opções second-hand no portfólio, mas o refinamento da curadoria e o reposicionamento da comunicação foram essenciais para nos consolidarmos no topo desse nicho de mercado", relata Lilian.

A empresa encontra-se em negociações avançadas de M&A (fusões e aquisições) e, por isso, não divulga publicamente o faturamento de 2024. Atualmente, a Front Row conta com mais de 4 mil clientes ativos. No ano passado, registrou um crescimento de 33,1% no volume de vendas e um avanço de 54,5% na receita líquida. Para 2025, a meta é crescer 40%, impulsionada por parcerias estratégicas.

Como investir no mercado de luxo?

Para quem deseja investir em bolsas de luxo como ativo financeiro, Lilian destaca três pilares essenciais: status, exclusividade e autenticidade. São essas variáveis que determinam o preço e o potencial de valorização no mercado secundário. Por isso, a companhia mantém processos rigorosos de curadoria e certificação da origem de cada item, o que assegura a autenticidade e a escassez, os principais fatores que valorizam os ativos.

A curadoria passa por uma análise criteriosa: verificamos o estado de conservação, a presença de itens como nota fiscal e caixa original, e, claro, autenticidade. A precificação leva em conta valores praticados em leilões internacionais. A escassez de modelos também eleva o potencial de valorização. Quanto mais raro o item, maior seu valor no mercado secundário", detalha Lilian.

Cerca de 25% das nossas clientes que compram Hermès têm perfil investidor. Elas enxergam esses produtos como uma forma de alocação de capital – algumas sequer chegam a usá-los, revela.

O analista Gerson Brilhante, da Levante Inside Corp., alerta que o cenário global do mercado de luxo em 2025 é desafiador. "A desaceleração econômica na China, a repressão à ostentação e as tensões comerciais entre grandes potências têm pressionado marcas tradicionais, como Louis Vuitton, Kering e Hermès. Algumas empresas registraram quedas de até 11% nas vendas na Ásia-Pacífico", afirma.

"A Hermès segue resiliente, impulsionada por sua exclusividade e produção artesanal, mas o crescimento global do setor deve ficar entre 4% e 6% neste ano, abaixo dos patamares pré-crise. Ainda assim, há espaço para valorização seletiva, principalmente em modelos raros com forte percepção de valor", analisa Brilhante.

Ele ressalta que o comportamento da Geração Z e dos Millennials também fomenta essa redefinição do consumo de luxo: "Há uma tendência de busca por autenticidade, sustentabilidade e experiências personalizadas, em vez de ostentação. Isso muda o jogo para marcas que não se adaptarem".


Colaborou GABRIELA PESSANHA.

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