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Guerra tarifária freia M&As e acende alerta sobre incerteza global

REPRODUÇÃO/CANVA

Bandeiras dos Estados Unidos e da China

Bandeiras dos Estados Unidos e da China; guerra tarifária impacta mercado de fusões e aquisições

Publicado em 22/5/2025 - 6h30

A guerra tarifária entre Estados Unidos e China tem ampliado a incerteza econômica e pode reduzir em até 4% o volume de transações de fusões e aquisições (M&A) nos próximos 12 meses, segundo dados obtidos com exclusividade pelo Economia Real. O levantamento da boutique de M&A Zaxo aponta uma queda de até 7% no valor total dessas operações.

"Intervenções tarifárias comprometem a previsibilidade do ambiente econômico. Essa instabilidade era esperada diante da escalada na guerra tarifária", explicam Leonardo Grisotto e Jefferson Nesello, sócios-fundadores e diretores da Zaxo responsáveis pela análise.

As medidas protecionistas dos Estados Unidos e as retaliações da China criaram um ambiente de imprevisibilidade econômica global. A análise se baseia nos estudos do economista Frank Knight (1885–1972), conhecido por distinguir risco e incerteza nos modelos econômicos.

"O risco envolve eventos com probabilidade mensurável, como o lançamento de uma moeda. Já a incerteza ocorre quando não há como calcular probabilidades com precisão", detalham os diretores.

A incerteza econômica afeta tanto indicadores macroeconômicos, como o crescimento do PIB, quanto questões microeconômicas, como o desempenho individual de empresas. Eventos não econômicos, como guerras e mudanças climáticas, também contribuem para esse cenário volátil.

O mercado de M&A é particularmente vulnerável a essas incertezas, já que depende da projeção de fluxos de caixa futuros e do cálculo de sinergias entre companhias. "É uma decisão de investimento que requer confiança no cenário à frente", comentam.

Segundo a Zaxo, o índice Economic Policy Uncertainty, que mede o nível de incerteza sobre políticas econômicas, atingiu nas últimas semanas níveis comparáveis aos registrados durante a pandemia de Covid-19.

"Caso esse cenário se prolongue, podemos ver uma retração temporária nas operações de M&A, com adiamentos de cronogramas e renegociações de acordos", destacam os diretores.

divulgação

Especialistas

Leonardo Grisotto e Jefferson Nesello

Guerra tarifária está no "pause"

Na semana passada, Estados Unidos e China concordaram em reduzir temporariamente as tarifas recíprocas por 90 dias. Produtos chineses vendidos em solo americano estão atualmente sujeitos a uma taxação de 30%, ante os 145% impostos anteriormente pelo governo de Donald Trump.

Do outro lado do mundo, produtos americanos que entram na China enfrentam uma tarifa de 10%, bem abaixo dos 125% aplicados anteriormente. Graças a esse acordo, a guerra tarifária encontra-se temporariamente contornada até agosto. O que acontecerá depois ainda é incerto.

Mesmo diante da instabilidade, a Zaxo acredita em uma retomada gradual, à medida que o mercado assimile os novos patamares tarifários. "É fundamental enxergar além dos riscos imediatos e identificar as oportunidades de longo prazo", ressaltam os especialistas.

Para negociações já em fase final, os consultores recomendam uma reavaliação estratégica. No médio prazo, o cenário pode abrir boas janelas de aquisição.

É preciso verificar se as novas tarifas alteram as sinergias projetadas e revisar as premissas do negócio", orientam.

"Empresas que pretendem investir nos próximos 12 a 24 meses devem aproveitar para sondar o mercado, se aproximar de alvos e encontrar ativos valiosos. A incerteza é parte da economia, e a competitividade segue essencial, mesmo em tempos turbulentos", concluem os executivos.

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