ANÁLISE

Em apenas 100 dias, Trump muda rumo da economia global: 'Blefe no pôquer'

ISAC NÓBREGA/PR

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump; segundo mandato atingiu marco do 100° dia

Publicado em 29/4/2025 - 15h55
Atualizado em 29/4/2025 - 17h11

Donald Trump completa 100 dias como presidente dos Estados Unidos nesta quarta (30). Ao longo dos três primeiros meses do segundo mandato, o empresário mudou o rumo da economia global com novas políticas fiscais, duras medidas contra a imigração e posicionamentos controversos em conflitos internacionais. Para os especialistas ouvidos pelo Economia Real, o cenário atual se parece mais com um jogo de pôquer, repleto de blefes — nem sempre bem-sucedidos — liderados pelo político.

"Trump age como um jogador de pôquer, confiante no blefe. Mas a economia global funciona mais como uma partida de xadrez", avalia Fabio Ongaro, economista e CEO da Energy Group. Natália Fingermann, professora de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), complementa: "Apesar de ter se apresentado como pacifista inicialmente, a prática é outra. O governo americano já realizou ataques contra os hutis no Iêmen, o que aumenta a instabilidade no Oriente Médio".

Dentro dos Estados Unidos, essas medidas afetam negativamente a popularidade de Trump. Levantamento do Instituto Ipsos, em parceria com o Washington Post e a rede ABC News, aponta que 55% dos americanos desaprovam o governo, frente a 39% de aprovação e 5% de abstenções.

No campo econômico, 61% dos entrevistados reprovam a condução da economia dos Estados Unidos. O resultado representa a pior avaliação presidencial nos primeiros 100 dias dos últimos 80 anos.

"Se ele achar que não é importante manter a sua popularidade, mas sim executar o seu projeto de governo, podemos assistir a um processo de radicalização ainda maior", adverte a docente, que destaca um dos principais efeitos da guerra tarifária: "Alguns produtos específicos ficaram mais caros, e o bolso sempre impacta a popularidade e as intenções de voto".

Ela ainda observa que as demissões em massa em órgãos como o Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DOD) prejudicaram ainda mais a imagem do presidente. "Isso gerou um impacto grande em alguns serviços públicos e em toda uma rede de funcionários que atuavam no governo e, de repente, se viram sem trabalho", acrescenta.

"A promessa de Trump é simples e sedutora: restringir importações, tributar produtos estrangeiros, obrigar empresas a 'trazerem empregos de volta' e fortalecer o selo 'Made in America'. A realidade, porém, é mais complexa", afirma Ongaro, que prossegue:

Trump aposta na resiliência de seu eleitorado, convencido de que pagar mais por produtos chineses hoje é um preço justo por uma América mais independente amanhã. Mas essa lógica ignora que os custos são imediatos, e os benefícios, incertos", alerta.

DIVULGAÇÃO

Especialistas ouvidos na matéria

Fabio Ongaro e Natália Fingermann

Trump I vs Trump II

À reportagem, Natália afirma que Trump inicia o segundo mandato com muito mais força institucional: "Ele entra com uma capacidade de execução muito maior do que no primeiro mandato. Vemos uma radicalização mais forte no discurso e nas práticas".

Além do novo cenário, sem a pandemia da Covid-19, Trump agora conta com maioria republicana no Congresso e no Judiciário. "O governo ganhou características mais autoritárias porque tem maior controle institucional", analisa.

Esse fortalecimento permitiu que o presidente colocasse em pauta reformas administrativas e fiscais com mais rapidez. A docente também relata que, nos primeiros 100 dias, Trump abandonou pautas moderadas e reforçou a presença dos Estados Unidos em conflitos internacionais.

O "tarifaço" de Trump agrava ainda mais a situação. Apesar do apelido de "Dia da Libertação" atribuído pelo próprio presidente, organizações financeiras alertam que o impacto das tarifas pode ser negativo até mesmo para a economia dos Estados Unidos.

Ontem (28), Trump assinou decretos que intensificam a repressão contra imigrantes. Segundo o The New York Times, as instruções incluem "buscar todos os recursos legais e medidas de execução necessárias" contra as chamadas cidades-santuário — municípios que adotam políticas mais brandas em relação à imigração.

"Quando analisamos os dados de imigração, o governo que mais realizou deportações foi o de Obama. Agora, Trump parece querer superar essa marca e ser lembrado como o governante que de fato reduziu o número de imigrantes ilegais nos Estados Unidos", conclui a especialista.

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