OLHO NA BOLSA
TÂNIA REGO/AGÊNCIA BRASIL
Javier Milei em evento do G20, em novembro de 2024; entenda os desdobramentos do mercado argentino
Publicado em 9/9/2025 - 12h00
A segunda (8) foi dia de "barata voa" nas mesas de operação do mercado financeiro com os desdobramentos na Argentina. A bolsa de Buenos Aires perdeu 13,75% em um único pregão e o peso argentino caiu 4,5% frente ao dólar. Economistas apontam que o principal gatilho foi o resultado das eleições nas províncias argentinas: a derrota de Javier Milei em Buenos Aires, que concentra cerca de 40% do eleitorado, foi muito maior do que analistas políticos esperavam.
A província registrou a maior derrota eleitoral do presidente desde que assumiu a Casa Rosada em dezembro de 2023. Enquanto isso, o peronismo, que vinha enfraquecido após o governo de Alberto Fernández (2019-2023), obteve sua primeira vitória expressiva.
Até pouco tempo, os investidores estavam em "lua de mel" com o plano econômico de Milei. Sua principal promessa de campanha, cortar gastos para reduzir a inflação, começou a dar resultado: de 23% ao mês em dezembro, o índice caiu para 4,2% em agosto de 2025.
Foi o primeiro superávit fiscal da Argentina em anos, resultado de cortes drásticos no funcionalismo (com demissão de 35 mil servidores), ajustes em aposentadorias e paralisação de obras públicas.
Apesar disso, especialistas alertam que controlar a inflação a qualquer custo pode estar deixando de lado outros pontos cruciais para a recuperação de longo prazo, como o fim dos controles cambiais, a acumulação de reservas e o acesso ao mercado internacional de capitais.
Segundo o FMI, a inflação argentina deve fechar 2025 em 35,9%, bem abaixo dos mais de 210% anuais registrados no fim de 2023. A previsão é de crescimento de mais de 5% no PIB, o dobro da média da América Latina. A Moody’s, inclusive, elevou a nota de crédito do país de CAA 3 para CAA 1, mas mudou a perspectiva de positiva para estável.
O avanço econômico, no entanto, esbarrou no que a imprensa argentina apelidou de "Karinagate": denúncias de corrupção envolvendo a irmã do presidente, Karina Milei, em supostas propinas ligadas à compra de medicamentos para pessoas com deficiência. O caso minou apoio político no Congresso e pesou no resultado das eleições provinciais.
Essa instabilidade preocupa o mercado brasileiro. A Argentina é o terceiro maior destino das exportações nacionais e o maior comprador de automóveis do Brasil na América Latina. No primeiro semestre de 2025, as vendas de veículos para lá cresceram 60%, e o comércio de carnes saltou de US$ 1 milhão para US$ 22,9 milhões em julho.
Muito. Bancos e fundos que investem em títulos de países emergentes, como Brasil e Argentina, podem vender papéis brasileiros (mais líquidos e fáceis de negociar) para cobrir perdas no mercado vizinho. Isso pressiona os juros no Brasil, encarece o crédito e dificulta a vida de quem depende de financiamento.
Ao mesmo tempo, uma economia instável na Argentina reduz as exportações brasileiras de manufaturados, setor que gera empregos de maior qualidade. Menos dólares entrando no país significam um real mais fraco e inflação mais alta.
No curto prazo, analistas apontam que o cenário ainda é favorável para a renda fixa no Brasil, com CDBs acima de 100% do CDI e fundos pós-fixados. Mas a "super quarta" da próxima semana, quando Banco Central e Federal Reserve decidem sobre os juros, será determinante para o rumo da economia.
*As opiniões do colunista não refletem, necessariamente, o posicionamento do Economia Real.
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