ENTENDA O CASO

Recebe em dólar? Descubra se novo IOF reduz salário antes de cair na conta

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Close up em nota de um dólar

Olhos da nota de um dólar; nova regra no imposto afeta o bolso de quem trabalha nos EUA

Publicado em 23/5/2025 - 16h39

As mudanças no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), anunciadas pelo Ministério da Fazenda na quinta (22), não impactam profissionais brasileiros que ganham salário em dólar de origem estrangeira. Segundo os especialistas ouvidos pelo Economia Real, a nova tributação atinge quem manda dinheiro para o exterior, não o contrário.

"Quem recebe dinheiro do exterior e converte para reais não sofreu impacto com a nova alíquota. A principal mudança afeta quem compra moeda estrangeira ou transfere dinheiro para fora do Brasil, tornando essas operações mais caras", explica Caio Cesar Braga Ruotolo, sócio do Silveira Law Advogados.

Quem envia US$ 1 mil por mês para uma conta internacional, pagava US$ 3,80 de IOF. Agora, esse valor sobe para US$ 35 — um aumento de mais de 800%. Já a entrada de recursos, como o pagamento de salário por uma empresa estrangeira, continua com IOF de 0,38%, sem mudanças.

O impacto aparece apenas quando há decisão de manter parte do salário em dólar ou enviar recursos para uma conta internacional. A fintech Nomad, que oferece contas em dólar para brasileiros, confirmou que vai repassar o IOF conforme as novas regras.

"O IOF de compra de moeda para conta corrente de pessoa física passa de 1,1% para 3,5%. Já para investimentos, sobe de 0,38% para 1,1%", diz a empresa em comunicado enviado à imprensa.

A medida é uma resposta do governo para uma situação fiscal complexa, que envolve crescente endividamento público. Movimentos de aumento do IOF reforçam a visão de que os brasileiros devem manter parte de seus patrimônios no exterior, com investimentos em ativos internacionais e moeda forte", complementa a fintech.

Para quem usa cartão internacional — seja de débito, crédito ou pré-pago — também houve mudança: a alíquota de IOF foi fixada em 3,5% e não passará mais por redução gradual até 2028, como previa a regra anterior. A decisão foi oficializada no Decreto 12.467/2025, publicado nesta sexta (23).

"O governo justificou a mudança como forma de uniformizar as alíquotas e desestimular a saída de recursos do país, mas já existem discussões sobre a eventual inconstitucionalidade da medida, pois o IOF é tributo de natureza regulatória e não arrecadatória", destaca o advogado.

IOF: Entenda o que muda

O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) é um tributo federal aplicado em transações como empréstimos, câmbio e investimentos. Cada tipo de operação financeira tem uma alíquota específica de IOF. No crédito, a cobrança incide diariamente sobre o valor total do empréstimo.

Como afeta diretamente o custo de transações financeiras, o IOF impacta consumidores e empresas. Por ser de aplicação rápida, o governo utiliza esse imposto como ferramenta para controlar o consumo, ajustar o crédito e regular o fluxo de capital estrangeiro. Em 2023, o IOF arrecadou R$ 58 bilhões para os cofres públicos.

A proposta original de Haddad amplia o escopo do imposto. O decreto previa aumentos nas alíquotas para operações de crédito entre empresas, transações cambiais e aportes em seguros como o Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL).

A estimativa de arrecadação adicional era de R$ 20,5 bilhões em 2025 e R$ 41 bilhões em 2026. Parte desse montante, segundo análise da Warren Investimentos, já estava prevista nas contas oficiais do governo, o que levantou questionamentos sobre a consistência das projeções fiscais.

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