INVESTIMENTO DA SEGUNDA
Entenda se comprar dólar ainda vale a pena, como investir em ativos dolarizados e quais cuidados tomar para proteger seu patrimônio.
ALEXANDER GREY/UNSPLASH
Na estreia do quadro Investimento da Segunda, especialistas explicam investimentos em dólar
Publicado em 4/8/2025 - 5h00
Se você pensa que comprar dólar é coisa de quem vai viajar ou estudar fora, talvez seja hora de rever essa ideia. Com até 20% do consumo do brasileiro atrelado à moeda americana, mesmo para quem nunca saiu do país, ter parte da carteira dolarizada pode ser mais do que proteção: é estratégia.
"O dólar é a moeda global de referência, então ter parte do patrimônio em dólar ajuda na manutenção do poder de compra globalmente", afirma Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad.
A estratégia é útil para quem tem gastos no exterior (como viagens, filhos estudando fora ou compras internacionais), mas não se restringe a esses perfis. Segundo um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV), até um quinto do consumo médio do brasileiro é afetado pela oscilação cambial, mesmo sem sair do país.
"É só a gente pensar nas marcas que consumimos: tudo que comemos e bebemos tem impacto de alguma commodity, que acaba sendo cotada em dólar. Logo, ter uma parte do patrimônio dolarizado é necessidade para quase todo brasileiro", explica Tomás Roque, analista sênior de Treinamento e Conteúdo da Avenue.
"Essa estratégia pode ser útil para quem planeja uma viajem para o exterior, e que pode comprar dólares em momentos de baixa, geralmente aos poucos, para se proteger de grandes variações no câmbio que possam ocorrer próximas à data da viagem", complementa Alex Nery, professor da FIA Business School.
Comprar moeda em espécie pode ser necessário para uma viagem próxima, mas é ineficiente no longo prazo. Os especialistas recomendam:
"Comprar dólar em espécie ou por meio de casas de câmbio tende a ser menos eficiente em situações de longo prazo, porque em geral esses dólares serão mantidos em moeda física e não terão rendimento. Para uma estratégia de proteção de longo prazo, costuma ser mais interessante usar fundos cambiais ou contas internacionais com acesso a investimentos no exterior", orienta o docente.
Paula reforça: "Pensando em investimentos, existem BDRs e ETFs que oferecem exposição a índices americanos e globais, por exemplo. Escolhendo produtos sem hedge cambial, é possível ter exposição ao dólar".
"Quando você fala do acesso direto, você está falando de realmente ter parte do seu patrimônio no exterior, seja numa conta de investimentos, uma conta de uma corretora ou uma conta corrente e a gama de possibilidades acaba sendo muito maior", explica Roque.
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Tomas Roque (Avenue), Paula Zogbi (Nomad) e Alex Nery (FIA)
Além da volatilidade do câmbio, há riscos de liquidez, crédito e mercado, comuns a qualquer investimento. Também há o custo de oportunidade: deixar o dinheiro sem render em dólar pode significar perder ganhos em outros ativos. "O principal risco é a volatilidade, ou seja, a variação da taxa de câmbio. O dólar pode cair, ou seja, se desvalorizar frente ao real, e com isso o investidor exposto à variação cambial terá prejuízo financeiro", alerta Nery.
A gente pensa muito que o dólar chacoalha, sobe e desce bastante pelo que vemos nas notícias, mas esquecemos que um dólar sempre sempre valeu um dólar. O dólar existe há mais de 230 anos. O que realmente oscila muito é a moeda brasileira, o real", pontua Roque.
"Tudo isso é mitigado selecionando ativos apropriados para o seu perfil de investidor e seus objetivos, o que também implica dizer que é importante conhecer o mercado onde se está investindo para fazer as escolhas mais adequadas", destaca Paula.
Não há uma regra fixa. O ideal é alinhar a exposição cambial ao seu perfil e consumo. A Nomad recomenda, com base na teoria de Markowitz, que cerca de 25% da carteira total esteja em ativos fora do Brasil.
"De acordo com o estudo da FGV, de 16 a 18% do nosso dia-a-dia é impactado pelo câmbio. Então isso pode ser um ponto de início para começar essa locação no exterior", sugere Roque.
Apesar dos juros altos no Brasil, o dólar segue valorizado, os Estados Unidos mantêm taxas elevadas e a economia brasileira continua cercada de incertezas fiscais e políticas. "Cada caso é um caso, e o ideal é considerar os objetivos pessoais, o apetite ao risco, o horizonte de investimento e as estratégias de diversificação", ressalta Nery.
"Independentemente do cenário, é importante que a alocação no exterior seja estrutural, algo que vai fazer parte da carteira, independente do que a gente esteja vivendo", reforça Roque. "Temos um balanço de riscos delicado no Brasil, e a incerteza é mais um fator que reforça a importância de manter o dinheiro diversificado em investimentos descorrelacionados", complementa Paula.
Este conteúdo faz parte do quadro Investimento da Segunda, em que o Economia Real traduz o universo dos investimentos financeiros para pessoas físicas de forma acessível e prática. Antes de investir, consulte um profissional autorizado e avalie se a estratégia está alinhada ao seu perfil e aos seus objetivos.