JUSMAPP

Startup caça 'terra fantasma' com IA e já movimenta R$ 2 milhões

WILL ESAYENKO/UNSPLASH

Mão vestindo luva branca posicionada em um mapa

Especialista manuseia mapa; startup JusMapp movimentou R$ 2 milhões em 2024 com geolocalização

Publicado em 29/5/2025 - 7h00

Uma nova geração de startups jurídicas aposta em mapas, inteligência artificial e dados de satélite para resolver um problema estrutural do Brasil: a insegurança fundiária. A JusMapp, legaltech fundada em 2024 por Luiz Ugeda, desenvolveu um sistema que identifica quem tem o direito legal sobre um pedaço de terra. Seu ecossistema, que inclui a JusMapp e outras soluções integradas, faturou cerca de R$ 2 milhões no último ano.

"Estamos na pré-história de uma nova infraestrutura regulatória da economia verde. O capital está disponível. A tecnologia, madura. Falta saber quem tem o direito legal sobre o ativo", afirma Luiz Ugeda, CEO da JusMapp, em entrevista ao Economia Real.

O problema é antigo, mas o cenário mudou. Desde 2023, a nova regra da União Europeia contra o desmatamento (EUDR) exige que produtos como soja e carne tenham origem comprovada em áreas regularizadas. Se não houver rastreabilidade da terra, a exportação é barrada.

Hoje, a JusMapp atende empresas de forma recorrente, com destaque para concessionárias de energia, consultorias técnicas e escritórios de advocacia especializados em temas fundiários, ambientais e regulatórios. Desde a entrada em vigor da EUDR, observou-se um crescimento significativo na demanda por diagnósticos territoriais e análises de titularidade fundiária, especialmente para o mercado de exportação de commodities agrícolas e regularização de áreas.

"O Brasil possui cerca de um bilhão de hectares registrados em bases fundiárias, mas sua área real é de 850 milhões. Esses 150 milhões excedentes são terras fantasmas — fruto de registros duplicados, títulos sobrepostos e ocupações sem formalização", explica o executivo, que possui formação em Direito e Geografia.

Sem titularidade definida, não há segurança jurídica. Muitos créditos no Brasil simplesmente não têm dono. Isso afasta investidores e compromete a credibilidade do mercado. O EUDR exige mais que promessas: requer comprovação via georreferenciamento e documentação legal. Isso implica integrar dados fundiários, ambientais e logísticos", diz.

Esse cenário impede que imóveis rurais, mesmo ambientalmente regulares, emitam créditos de carbono. Assim, a startup oferece diagnósticos jurídicos automatizados, com base em inteligência artificial e análise normativa sobre mapas dinâmicos. “O jurídico precisa deixar de ser um centro de custo e assumir um papel estratégico na geração de receita e mitigação de riscos regulatórios", acredita.

DIVULGAÇÃO/JUSMAPP

Luiz Ugeda

Luiz Ugeda, CEO da JusMapp

Direito geográfico vira ativo estratégico

Setores como energia, mineração e licenciamento ambiental já adotam esse novo paradigma jurídico-geoespacial. "Esses segmentos atuam diretamente sobre o território — e o território, hoje, é digital. A integração entre geoinformação, IA e legislação permite diagnósticos em tempo real, simulações jurídicas e redução de litígios", destaca.

Em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (SEMAS - PA) e a Equatorial Energia, concessionária que atua no Estado, a Geocracia (empresa-mãe da JusMapp) antecipou litígios em projetos de distribuição elétrica na Amazônia.

"Antes mesmo do protocolo na Aneel, ajustamos traçados, evitamos áreas sensíveis e estruturamos estratégias processuais robustas", exemplifica Ugeda.

Nos próximos anos, ele acredita que o mercado de soluções jurídicas com mapas e dados geográficos vai crescer e se fortalecer. “Hoje, o Brasil ainda não vê os dados geoespaciais como prova legal, mas isso vai mudar. O futuro é de quem conseguir transformar mapas em segurança jurídica. Não basta só mostrar o mapa — é preciso provar quem tem o direito sobre a terra”, conclui.

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