OPINIÃO

O investimento que realmente importa é a proteção dos nossos filhos

SZILVIA BASSO/UNSPLASH

Pai ao lado do filho

Pai ao lado do filho; entenda como a proteção dos nossos filhos é um investimento essencial

Publicado em 19/8/2025 - 12h15

A denúncia feita por Felca despertou a sociedade para um problema crescente: jogos e formas de entretenimento disfarçados que corroem uma geração inteira. Os números assustam e compartilho alguns deles com você!

Brasil no ranking mundial: o país é o quinto com mais denúncias de abuso infantil online. Das mais de 50 mil páginas denunciadas, 10.833 foram encaminhadas a autoridades de outros países.

Telegram: denúncias de grupos com exploração sexual infantil cresceram 78% no primeiro semestre de 2023. A plataforma é criticada pela falta de transparência financeira global, operando entre diferentes provedores de pagamento. A empresa, em sua defesa, declara "tolerância zero" à pornografia ilegal.

FBI: em três anos de estudos no Brasil, a agência identificou criminosos montando "menus" de conteúdos para vender material a compradores, explorando crianças e adolescentes.

Inteligência Artificial Generativa: especialistas alertam para o risco de criação de imagens sexualizadas com rostos de menores retirados de fotos públicas. Muitas vezes, são imagens que os próprios pais compartilharam na internet.

Instagram: já alcança 13 milhões de jovens brasileiros entre 9 e 17 anos. Pesquisas mostram que 39% dos usuários da dark web já assistiram transmissões ao vivo de abuso sexual infantil — em alguns casos, pagos em criptomoedas.

Sextortion: o FBI classifica como chantagem sexual. O criminoso conquista a confiança do adolescente em redes sociais ou jogos online, pede fotos íntimas e, depois, ameaça divulgá-las. Em 2023, a ONG We Protect Global Alliance registrou 26.718 notificações de sextortion, contra apenas 139 casos em 2019.

Segundo o FBI, só em 2023, foram cerca de 20 mil casos de adultos abordando crianças pela internet.

Como escolhem as vítimas

O reconhecimento já não é manual. Criminosos usam automação e inteligência artificial para identificar fragilidades em escala. Em 2024, ataques cibernéticos chegaram a 36 mil verificações maliciosas por segundo, segundo relatórios de segurança digital.

Um estudo da Human Rights Watch, conduzido por Hye Jung Han, verificou que fotos de crianças brasileiras foram parar no banco de dados LAION-5B, usado para treinar ferramentas de inteligência artificial. As imagens incluíam nomes, localizações e até datas, o que torna possível rastrear identidades.

Pesquisas da Transparency Market Research mostram a existência de 20 mil páginas explorando imagens de jovens com IA generativa, em um mercado criminoso que pode movimentar mais de US$ 1 trilhão até 2030.

Segundo o Childlight Institute, da Universidade de Edimburgo, cerca de 300 milhões de crianças já foram vítimas de abuso sexual online em todo o mundo.

Realidade brasileira

No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) tipifica crimes como aliciamento (artigo 241-D), produção e posse de pornografia infantil.

O uso intenso da internet em escolas e lares aumenta a exposição de jovens, que passam horas em redes sociais e jogos online.

Autoridades apontam a migração de grupos criminosos para plataformas como Instagram e, principalmente, Telegram, que operam com menor regulação.

Juízas e promotores têm alertado para o crescimento de crimes graves envolvendo menores, como estupro virtual e até homicídios decorrentes de chantagens.

Medidas e propostas

O ECA trouxe avanços, como restrições ao uso de celulares em escolas, mas a responsabilidade em casa recai sobre os pais. O movimento Desconecta defende regras mais rígidas: proibir celulares até os 14 anos e o uso de redes sociais apenas após os 16.

Após o caso Felca, surgiram 32 projetos na Câmara dos Deputados para discutir proteção infantojuvenil online. Há um pedido de CPI com 70 assinaturas para investigar a sexualização de crianças na internet. Algumas propostas incluem:

  • verificação de idade dos usuários;
  • sistemas de notificação de abuso;
  • contas de crianças vinculadas a perfis dos pais;
  • maior controle parental sobre conteúdos acessados.

O papel das famílias

Denunciar é essencial — casos podem ser reportados em denuncie.org.br. Mas a prevenção começa em casa. Dicas para pais e responsáveis:

  • Converse abertamente: se seu filho ver algo que o assuste ou deixe desconfortável, ele deve se sentir seguro para contar.
  • Defina regras de uso de dispositivos: horários, locais e limites de tempo de tela.
  • Mantenha softwares atualizados e ative as configurações de privacidade.
  • Ensine seu filho a não compartilhar informações pessoais.
  • Cubra webcams quando não estiverem em uso.
  • Use controles parentais em dispositivos, aplicativos, jogos e provedores de internet.
  • Incentive interações online seguras com amigos e familiares.
  • Fale sobre os riscos de interações com desconhecidos, mesmo em ambientes aparentemente seguros como jogos online.

Existem riscos reais, mas também ferramentas eficazes de proteção. A combinação de educação digital, diálogo constante e uso consciente da tecnologia pode reduzir a vulnerabilidade e garantir que crianças e adolescentes aproveitem os benefícios da internet de forma mais segura.


*As opiniões do colunista não refletem, necessariamente, o posicionamento do Economia Real.

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