PSICOLOGIA FINANCEIRA
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Aspirador drena notas de dólar; Elaine Bast explica como cérebro pode drenar nosso dinheiro
Publicado em 29/4/2025 - 8h15
Se alguém dissesse que consegue prever o futuro com 100% de certeza… você acreditaria? Tipo, certeza mesmo. Vai ter recessão? Vai rolar estagflação nos EUA ainda este ano? E o crescimento mundial, vai para quanto? Pois é. Quem pode cravar essas respostas?
O ex-colunista do The Wall Street Journal, Morgan Housel, tem uma sacada boa sobre isso: "As pessoas acham que querem previsibilidade, mas o que elas querem mesmo é certeza". E ele completa: "Se alguém fala que tem 60% de chance de recessão, isso não alivia a angústia". Porque, né… existem os outros 40%. E a dúvida continua ali, incomodando. O risco permanece.
Agora, quando alguém afirma: "Vai ter recessão", pronto. Mesmo que não seja verdade, a gente se agarra naquilo. Parece que finalmente alguém entregou um mapa. Dá um alívio, uma sensação de que estamos no controle — o que é ótimo, especialmente na hora de tomar decisões, como onde investir, o que cortar do orçamento, como lidar com os boletos… ou com a vida mesmo.
Nosso cérebro adora respostas simples. Preto no branco. Porque perder dói, e ganhar dá prazer. E prazer libera dopamina — esse neurotransmissor incrível que motiva e faz a gente se sentir bem.
Um exemplo? Sabe aquela comprinha que você faz só pra se dar um carinho depois de uma semana difícil? Então. Dopamina na veia. No meu caso, chocolate. Amo. Mas já me peguei viciada nessa dopamina da mordida — e, claro, ganhei uns quilinhos. Para perder? Só com sofrimento, caminhada e musculação.
E não, pra mim não virou prazer depois de um mês, como dizem por aí. Vou para a academia com esforço mesmo. Só vou porque meu filho, que é viciado em treino, me arrasta. Agora, quando a gente perde alguma coisa (dinheiro, tempo, oportunidade) entra em cena o tal do cortisol, o hormônio do estresse.
Ele é tipo um alarme que o corpo aciona em tempos difíceis. E o efeito? A gente fica mais lento, tenta economizar energia. Muitas vezes, isso vem na forma de não querer falar com ninguém, de querer ficar quietinho, isolado. Quando o estresse vira rotina, o cortisol sobe e leva junto a nossa motivação. Ficamos travados. Cansados. Sem vontade de fazer nada. Por isso, entender o tamanho do problema, principalmente financeiro, é fundamental. Olhar de frente. Sem fantasiar o pior. E mudar o comportamento.
Sim, concordo que mudar o comportamento em relação ao dinheiro não é fácil. Às vezes, a gente precisa da ajuda de um terapeuta financeiro. Mas encarar o orçamento e parar de sofrer por antecipação já é meio caminho andado.
Ken Honda, autor de Dinheiro Feliz, resume bem: "A gente toma decisões financeiras por medo, não por amor". Parece estranho, mas é verdade. Medo de errar, de pagar caro, de fazer um mau negócio. E aí vem aquele monte de pensamento negativo: "sou um idiota", "nada dá certo pra mim", "não vou ter o suficiente". Isso mina a autoestima, paralisa, aumenta o cortisol… e a gente não faz nada.
O que fazer? Mudar a relação com o dinheiro. Exemplo: evitar comprar no impulso. Pesquisar antes de tomar uma decisão importante. Vai comprar carro? Veja os prós, contras, parcelas, juros, outras opções. Vai investir? Comece com Tesouro Direto, que tem dado bons rendimentos e é mais seguro que a poupança.
Prefere falar com alguém? Converse com o gerente do banco sobre opções de aplicação. Num cenário de incerteza, renda fixa costuma ser mais segura. Nunca esqueça de perguntar a carência desse investimento. Mas e se o salário for curto? Algumas ideias: chame amigos e comprem no atacado juntos — sai bem mais barato.
Dê uma chance para a seção de "vencidinhos" no mercado: produtos perto da validade que somem em dois dias. Preço? Quase a metade. Roupas? Brechó. Tem um monte online com peças lindas por menos de R$ 50.
E se você está começando agora, a regra 20-30-50 pode ajudar:
Dá para economizar também dando nome para o dinheiro. Quer viajar? Crie a "conta Viagem". Quer dar entrada num apê? "Conta Casa". Isso ajuda a manter o foco.
E uma verdade importante: todo mundo erra. Mesmo. Faz parte da vida. O importante é aprender e seguir em frente. A gente costuma dar mais peso aos erros do que aos acertos. E esse medo constante de errar pode travar nosso sucesso financeiro.
Vivemos num mundo em que dá para ganhar muito dinheiro… e perder também. Isso exige coragem para correr riscos — seja investindo, seja empreendendo. Nosso cérebro vive num eterno cabo de guerra entre razão e emoção, como diz Peter Roxanne no livro Entre Neurônios e Hormônios. A razão mora no córtex frontal. A emoção, nas áreas mais antigas do cérebro. E muitas vezes, são as emoções que tomam a frente.
Por isso, antes de qualquer decisão — especialmente envolvendo dinheiro — respire. Dê tempo para a razão entrar no jogo. A emoção decide rápido. A razão precisa de alguns segundos a mais.
Tomamos muitas decisões todos os dias: em média, 35 mil. Sim, trinta e cinco mil! Claro que muitas são automáticas, tipo piscar. Mas muitas outras mexem com nossa vida financeira.
Thiago Godoy, no livro Emoções Financeiras, resume bem: "Para mudar qualquer coisa, precisamos mudar nossas decisões. E para mudar nossas decisões, precisamos mudar nossos comportamentos". Dinheiro não é só número. É emoção. É autoestima. Então, não deixe suas emoções sabotarem sua relação com o dinheiro. Fique em paz com ele.
*As opiniões do colunista não refletem, necessariamente, o posicionamento do Economia Real.
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