ENTREVISTA EXCLUSIVA

'Só prosperei quando o dinheiro correu atrás de mim', diz João Kepler

DIVULGAÇÃO/EQUITY GROUP

Imagem de João Kepler, investidor-anjo e CEO do Equity Group, com terno sem gravata

João Kepler, investidor-anjo e CEO do Equity Group; empresário detalha cenário econômico atual

Publicado em 23/4/2025 - 10h25

Um dos principais nomes do país quando o assunto é investimento em startups e novos negócios, João Kepler é enfático ao dizer qual foi o ponto de virada da sua trajetória profissional: "Corri muito atrás do dinheiro. Só prosperei quando ele começou a correr atrás de mim". Hoje, o empresário organiza sua rotina agitada entre mentorias com empreendedores, gravações de programas de TV e a gestão das próprias empresas -- sem deixar de lado a família e a criação dos três filhos.

Em entrevista exclusiva ao Economia Real, o amapaense criado em Belém (PA) e radicado em Maceió (AL) defende que, mesmo com a alta dos juros, os empreendedores quem possuem mentalidade ágil e visão estratégica conseguem crescer. Para ele, o momento atual exige que empresários atuem como "jet skis" e busquem alternativas fora do tradicional. "O melhor dinheiro que existe hoje é o do consumidor, pois não tem juros", resume.

Kepler reforça que muitos empreendedores ainda ignoram o valor do equity (patrimônio da empresa) como ferramenta de captação. "Você negocia um percentual da companhia e faz negócios sem depender da volatilidade econômica", afirma. 

Reconhecido como uma das vozes mais importantes do Brasil quando o assunto é smart money, o investidor destaca que o conceito vem sendo mais valorizado pelos empreendedores.

O verdadeiro investidor é aquele que tem o dinheiro e o conhecimento. Quem só quer dinheiro não precisa de investidor. Quem busca smart money sabe que uma palavra pode mudar o jogo", destaca.

Nesta quarta (23), o empresário estreia um novo programa na TV, o Smart Money, exibido semanalmente pelo canal de notícias BM&C News, às 22h. Ao Economia Real, Kepler também detalha os bastidores da nova atração e explica sua trajetória no universo televisivo.

Confira a entrevista na íntegra:

ECONOMIA REAL — Kepler, como você enxerga o cenário do empreendedorismo e das pequenas empresas neste ano, principalmente com a alta dos juros? Quais as principais dores que os empresários compartilham com você?

JOÃO KEPLER — Depende muito do segmento, mas, em linhas gerais, quem empreende no Brasil, empreende em qualquer lugar do mundo. Temos problemas o tempo todo. Este não será nem o primeiro nem o último problema que enfrentaremos.

Um bom empreendedor é aquele que, efetivamente, observa um problema e tenta encontrar alguma solução. É óbvio que os juros altos atrapalham, desorganizam o mercado e prejudicam o desenvolvimento dos negócios — principalmente os pequenos.

Só que quanto menos estrutura você tem, mais escalável você é, o que é o caso dessas empresas de tecnologia. Quanto menor a estrutura, menor o impacto e mais rápido elas conseguem desenvolver os negócios.

O que tenho observado neste momento crítico? Quem está se dando bem é quem tem mentalidade de "jet ski", quem está conseguindo desenvolver alternativas de forma rápida e eficiente. Por exemplo, não é o momento de pegar dinheiro [em bancos] por causa dos juros. Então, qual é a alternativa? Captação de clientes, porque o melhor dinheiro que existe hoje é o dinheiro do consumidor, pois não tem juros. Assim, é melhor crescer organicamente, usar o poder das redes sociais e investir em estratégias de comunicação.

Outra alternativa é usar o equity, o patrimônio da empresa — que pouca gente usa — para conseguir investimentos, parcerias e negócios. Você negocia um percentual da companhia, e os empresários que reconhecem e têm essa mentalidade fazem negócios sem a dependência da volatilidade econômica.

Porém, os empresários ainda enfrentam dificuldade em calcular o valuation [valor da empresa], pois não é algo muito tangível para quem está começando.

Por isso, criei uma ferramenta automática e gratuita para que eles possam buscar essa informação. Qualquer empresário pode acessar o link, ir lá e buscar o seu valor — não precisa de contador.

Ela é autodeclarada. Você só tem que colocar informações verdadeiras, até para não se enganar.

Outra coisa é ampliar o conhecimento sobre equity. Quanto mais empresários entenderem o valor intangível do patrimônio empresarial, mais negócios serão feitos.

Sobre esse aspecto, lembro do smart money, conceito que você praticamente foi o embaixador aqui no Brasil. Hoje, você sente que as pessoas valorizam mais esse tipo de investimento?

Recebo esse título com muita honra! As pessoas me param e pedem para tirar foto, mas não tem o mesmo efeito de quando dizem: "Você é referência nesse assunto, pois isso mudou meu negócio". Eu gosto da foto, mas não é a mesma coisa.

E sobre a sua pergunta, sim, as pessoas valorizam muito mais o smart money e reconhecem quem realmente tem isso para oferecer. Muitas pessoas se apresentam como investidor, mas são apenas mentores. O verdadeiro investidor é aquele que tem o dinheiro e o conhecimento — ou pelo menos um dos dois.

Com o smart money, é o empreendedor quem escolhe o investidor. Quem só quer dinheiro não precisa buscar um investidor. Quem quer smart money realmente merece o investimento, porque sabe que uma palavra pode mudar o jogo.

E quando você avalia uma empresa, quais são os principais fatores que observa nos empreendedores?

Cada investidor tem sua tese, seu jeito de investir, e isso depende do estágio da empresa. Como também invisto em empresas no estágio inicial, valorizo muito a "escutatória" do empresário. Se a pessoa diz: "Já sei, sou bom, conheço tudo", evito fazer negócio.

É difícil mudar o ser humano. Você consegue mudar a empresa, mas não a pessoa. Até hoje, valorizo muito mais o comportamento e as habilidades do empreendedor. A partir disso, vejo outros fatores, como gratidão e honestidade. Há questões emocionais, uma química mesmo, mas isso não dá para quantificar.

Existe alguma dificuldade em comum nas suas empresas investidas?

Nas empresas tradicionais (varejo, indústria, agronegócio), o maior problema é fazer diferente a mesma coisa. É escalar e distribuir. Escalar é crescer o faturamento sem crescer a despesa. Essa é a maior dor. Eles não conseguem enxergar o próprio negócio como um "drone".

Olhar como um drone é fazer coisas diferentes em torno do que você faz. Essa é a minha maior contribuição: fazer o empresário enxergar o que ele ainda não vê.

Com as startups, mesmo com a tecnologia acessível, há competição com as facilidades. Por exemplo, empresas de software como serviço (SaaS) muitas vezes cobram uma mensalidade recorrente, mas amanhã uma nova ferramenta pode oferecer isso de graça, integrada à inteligência artificial.

Você também começou a apresentar programas na TV, como o reality O Anjo Investidor (Jovem Pan) e o talk show Pivotando (SBT). Como esse lado apresentador entrou na sua vida?

Meu filho Theo teve a ideia do reality. Ele viu o que eu fazia no dia a dia e disse: "Leve isso para a TV. Mais empresários conhecerão seu modelo de trabalho, o que vai inspirar mais investidores".

Depois, fizemos o Papo com o Anjo, que foi uma evolução do reality. Eu não tinha mais tempo para gravar na casa das pessoas, mas precisava continuar com essa jornada de ajuda aos empresários.

Depois dei um tempo nos programas, mas eles geraram um reconhecimento muito importante para os meus negócios. Melhores empreendedores e investidores apareceram. As pessoas se atraem pelo que tem conexão.

Em seguida, recebi o convite do SBT para apresentar o Pivotando, que populariza os termos do empreendedorismo. Um dono de farmácia ou padaria precisa entender que é possível escalar sua empresa. Foi um baita desafio. Nesse período, deixei de investir só em startups e passei a investir em empresas da nova economia.

Não tenho veia de apresentador. Uso isso para fazer negócios baseados no que acredito. Não quero ser celebridade, mas sim ajudar quem está assistindo e fechar bons negócios.

DIVULGAÇÃO/BM&C NEWS

João Kepler no programa Smart Money

Kepler e convidados no Smart Money

E sobre o Smart Money, seu novo programa na BM&C, como ele foi desenvolvido? Qual o diferencial em relação aos outros?

O canal reprisou o reality e sugeriu gravar uma nova temporada. Mas o reality me dava muito trabalho, pois eu entrava na vida do negócio e hoje não tenho mais esse tempo.

Além disso, o dinheiro era a mola principal. Mas hoje existem dores maiores. Fiz uma contraproposta: criar um programa onde ajudo o empresário ao vivo em uma mesa de negociação.

O empresário expõe a dor, e eu mostro o caminho, com direcionamento e conexões corretas. Se rolar dinheiro, ótimo, mas esse não é o foco. Isso é o verdadeiro smart money, por isso o nome do programa.

E para finalizar: se o João Kepler de 2025 pudesse dar uma mentoria para o João Kepler do início da carreira, qual seria o principal conselho?

"Não tenha apego ao dinheiro". Tendo ou não, ele te sabota. Se você não tem, diz que não pode. Se tem, entra o medo de perder ou a ambição de ter mais.

No final, ele te sabota. Quando olho para minha trajetória, vejo que ela foi muito de correr atrás do dinheiro. Só prosperei quando o dinheiro começou a correr atrás de mim.

Para isso, você precisa desapegar, e não é fácil. Eu era muito neurado com dinheiro, era muito do "ter", não do "ser".

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