MUDANÇA NA REGRA
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Casa com dinheiro dentro; nova alíquota do IOF dobra custo do imposto em empréstimos
Publicado em 23/5/2025 - 12h46
Empresas que contratarem empréstimos a partir desta sexta (23) enfrentarão um aumento significativo no custo do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Com as novas alíquotas, as tarifas em um financiamento de R$ 10 mil sobem cerca de 110%, de acordo com cálculos obtidos pelo Economia Real.
"Esse custo adicional deve integrar o planejamento financeiro das empresas, especialmente as que operam com margens apertadas ou que dependem de capital de giro constante", afirma Gianluca Di Mattina, especialista em investimentos da Hike Capital.
A pedido da reportagem, o profissional fez uma simulação de um crédito empresarial no valor de R$ 10 mil. Antes da mudança, essa operação pagava uma alíquota fixa de 0,38% na contratação (R$ 38,00) e 0,0041% ao dia (R$ 149,65 ao longo de um ano), o que totaliza R$ 187,65 apenas no imposto.
Com a escalada da taxa Selic nos últimos meses, esse empréstimo ficaria ainda mais salgado. Com as novas alíquotas, a fixa de 0,95% (R$ 95,00) e a diária de 0,0082% (R$ 299,30 em 12 meses), o total salta para R$ 394,30. Isso representa um aumento de R$ 206,65, cerca de 110%.
Segundo economistas, o aumento no IOF para empresas deve pressionar principalmente pequenos e médios negócios que dependem de capital de giro. No caso de empresas do Simples Nacional, o impacto é menor, mas ainda existe: a alíquota fixa também passa a ser de 0,95%, com alíquota diária de 0,00274%, limitada a 1,95% ao ano.
"O governo se vale da flexibilidade do IOF para promover um aumento de carga sem necessidade de observar a anterioridade anual ou nonagesimal. O impacto será direto sobre quem precisa de financiamento, crédito e operações de câmbio — elevando o custo do capital e podendo gerar efeitos econômicos indiretos de médio prazo", afirma Eduardo Natal, advogado tributarista e sócio do escritório Natal & Manssur.
A mudança, anunciada pelo Ministério da Fazenda na quinta (22), integra um pacote voltado a aumentar a arrecadação federal em 2025 e 2026. Apesar do recuo em outras frentes do decreto, como a taxação de fundos offshore, o aumento no crédito entre empresas foi mantido.
Para pessoas físicas, o IOF permanece inalterado em compras parceladas, renegociações de dívidas e operações de Pix no crédito.
O anúncio do aumento do IOF no crédito corporativo provocou reação negativa no mercado financeiro. O Ibovespa caiu 1,59% na quinta (22), aos 137,2 mil pontos, enquanto o dólar subiu 1,24%, cotado a R$ 5,71.
Investidores criticaram a ausência de memória de cálculo apresentada pela Fazenda, o que dificultou a avaliação do real impacto fiscal da medida. Pressionado, o governo recuou em partes do decreto — como na proposta de taxar fundos offshore —, mas manteve o aumento sobre o crédito empresarial.
Na manhã desta sexta (23), o Ibovespa registrava nova queda de 0,26% às 12h10, aos 136,95 mil pontos. Mesmo com as revisões, o mercado ainda percebe aumento no risco fiscal, o que ampliou a volatilidade nas bolsas e no câmbio.
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