BASTIDORES DO M&A

Por que as fusões de empresas vão além das gigantes do mercado

CYTTON PHOTOGRAPHY/PEXELS

Executivos apertam as mãos ao fechar um acordo

Executivos apertam as mãos ao fechar um acordo; entenda os bastidores de uma fusão e aquisição

Publicado em 2/7/2025 - 7h00

Nos últimos anos, o Brasil presenciou uma série de fusões entre grandes empresas. Grupos que antes competiam diretamente passaram a operar sob o mesmo CNPJ. Um exemplo recente é a fusão entre Petz e Cobasi, aprovada em junho deste ano — uma movimentação que não apenas chamou atenção pelo porte do mercado pet, mas também simboliza algo maior: a necessidade de se adaptar para sobreviver.

-> Clique e inscreva-se na "Entendendo que...", a newsletter de negócios e carreira do Economia Real!

Por trás de cada fusão de empresas está uma lógica estratégica baseada em escala, eficiência e, em muitos casos, sobrevivência. E embora essas transações pareçam distantes do cotidiano de quem não é executivo de uma grande companhia, elas têm impacto direto em toda a cadeia: fornecedores, clientes, concorrentes e até consumidores finais.

Afinal, cada fusão aprovada, ou barrada, pelo CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) muda as regras do jogo no mercado. Antes de avançarmos, vale um alinhamento básico:

  • Fusão ocorre quando duas empresas se unem e formam uma nova companhia;
  • Aquisição, por outro lado, é quando uma empresa compra a outra, mantendo ou absorvendo suas operações.

Em ambos os casos, o objetivo é similar: reduzir custos, acelerar o crescimento, ganhar participação de mercado ou, simplesmente, sobreviver. O papel do CADE nesse cenário é central.

O órgão regula e analisa essas transações para evitar que a concentração de mercado gere monopólios ou práticas abusivas. Ele pode autorizar, impor condições ou até barrar a fusão, sempre considerando o impacto para o consumidor.

Um exemplo foi a compra da Fox pela Disney no Brasil. O CADE impôs como condição a venda do canal Fox Sports para que a fusão fosse aprovada. Como não houve comprador, a Disney seguiu com o negócio mesmo assim — integrando ESPN e Fox Sports. O episódio mostrou o quão sensível é esse processo e o quanto ele pode afetar o cenário competitivo.

Mas por que essas fusões estão se intensificando agora?

A resposta está nas condições econômicas: juros altos, custos crescentes, digitalização acelerada e um consumidor cada vez mais exigente. O resultado é que crescer sozinho ficou mais difícil. A saída para muitas empresas tem sido unir forças, compartilhar estruturas, integrar dados, otimizar operações e buscar sinergias — palavra que, na prática, significa "fazer mais com menos".

Exemplos não faltam. A união do Grupo Soma com a Arezzo consolidou duas potências do varejo de moda, com o objetivo de ampliar canais de distribuição e potencial criativo.

A aproximação entre Itaú e XP, ainda que parcial e estratégica, revelou que bancos e fintechs podem colaborar em vez de brigar. Já a fusão entre Localiza e Unidas criou um gigante da mobilidade urbana, integrando frotas, atendimento e inteligência de mercado.

E o consumidor, onde entra nisso tudo?

Ainda que ele nem sempre perceba imediatamente, os efeitos logo aparecem. Os preços podem subir, se a concorrência diminuir, ou cair, se houver ganho de eficiência. O portfólio pode ser ampliado, com mais produtos e serviços, ou reduzido, com o fim de linhas menos rentáveis.

A inovação pode acelerar, se houver mais caixa e foco, ou desacelerar, caso o novo grupo reduza o apetite por risco. O atendimento, idealmente, deveria melhorar — mas nem sempre é o que acontece na prática.

Essas movimentações também trazem lições importantes para os pequenos e médios empresários. Ainda que fusões bilionárias estejam fora do alcance, a lógica por trás delas é bastante aplicável. Crescer em parceria pode ser mais inteligente do que tentar vencer sozinho. Negócios locais podem se unir, compartilhar estrutura, logística, canais de venda ou até desenvolver produtos juntos.

Sinergia nos negócios é, muitas vezes, mais poderosa do que vaidade. Em vez de disputar o mesmo bairro, dois negócios complementares podem criar algo novo, com menos risco e mais escala. E mesmo sem uma fusão formal, colaborações estratégicas (como vendas cruzadas, parcerias comerciais ou desenvolvimento conjunto) podem destravar crescimento.

A verdade é que o mercado deixou de premiar apenas quem grita mais alto. Ele valoriza quem entrega melhor, com mais eficiência e clareza de propósito. Às vezes, crescer não é sobre inventar algo novo. É sobre juntar o que já existe de bom — e multiplicar o impacto.

A próxima grande fusão talvez não envolva bilhões. Pode ser a união entre dois negócios de bairro, duas ideias complementares ou dois empreendedores que decidem caminhar juntos.

No novo jogo dos negócios, quem joga bem junto vai mais longe. A pergunta que fica é: Com quem você poderia crescer mais — e com menos risco — se estivesse junto?


*As opiniões do colunista não refletem, necessariamente, o posicionamento do Economia Real.

Leia mais sobreDadosNegóciosVarejo
comentáriosComente esta notícia

Últimas notícias

Comentários

Política de comentários

Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.

Economia Real