FLASHPOINTS FINANCEIROS

O trauma que te impede de poupar pode estar na sua infância; entenda

Educação financeira vai além de saber o que fazer: traumas e emoções moldam nossos hábitos com o dinheiro. Entenda como mudar esse ciclo.

BERMIX STUDIO/UNSPLASH

Criança com dinheiro na mão; especialista detalha como traumas podem prejudicar finanças

Publicado em 13/5/2025 - 6h30

Você já deve ter percebido: educação financeira nunca esteve tão em alta. É banco explicando, influencer gravando, youtuber ensinando... Parece até que basta abrir o Instagram para virar o novo Warren Buffett. Mas, na prática, muita gente ainda se sente frustrada. Sabe o que precisa fazer com o dinheiro, mas simplesmente não consegue mudar os hábitos. Se informação financeira fosse o suficiente para enriquecer, bastaria decorar algumas dicas e pronto: milionário antes do almoço.

Segundo os estudiosos da economia comportamental, o problema não está no saber, mas no agir. E aí entra um vilão silencioso: os chamados flashpoints financeiros. O nome parece coisa de super-herói, mas são traumas financeiros do passado, como ver os pais brigando por causa de dinheiro, crescer sem saber quanto se ganha ou se gasta, ou ouvir que "dinheiro é coisa feia".

Esses episódios grudam na memória e afetam, sem a gente perceber, a forma como lidamos com o dinheiro na vida adulta. Sabe aquela mania de estourar o limite do cartão e fingir que não viu a fatura? Ou a crença de que gente rica é arrogante? Tudo isso pode vir desses flashpoints.

O tabu de falar de dinheiro em casa? Clássico. Nossa relação com o dinheiro é emocional, não racional, e vem acompanhada de vergonha, medo, ansiedade.

Um estudo do Itaú com o Datafolha publicado em 2020 escancarou essa realidade:

  • 46% dos brasileiros evitam olhar a conta bancária;
  • 97% têm dificuldade em lidar com dinheiro;
  • 83% acham que enriquecer compromete os valores morais;
  • 60% escondem quanto ganham, até do travesseiro;
  • E 49% preferem nem pensar em finanças para não ficarem mal.

Segundo o psicólogo americano Bradley Klontz, autor do livro A Mente Acima do Dinheiro, nossos comportamentos financeiros são moldados por experiências da infância. E quanto mais difícil foi essa relação no passado, mais difícil é mudar agora.

Afinal, muitos hábitos funcionam no piloto automático, como parcelar por impulso, porque foi o que aprendemos a fazer. O grande drama é saber o que fazer (poupar, investir, evitar dívidas), mas simplesmente não conseguir.

A culpa? Está nas emoções que sabotam nosso comportamento financeiro. E o ciclo é cruel: vem o erro, depois a culpa, a paralisia... e o comportamento se repete. Mas dá para reprogramar a mente com pequenas estratégias:

  1. Dê nome ao seu dinheiro: "Esse é meu fundo da casa própria", "Esse é para a viagem dos sonhos", "Esse é para minha aposentadoria". Isso gera conexão emocional com suas metas;
  2. Evite decisões financeiras com fome ou estresse: supermercado de barriga vazia e promoção relâmpago são ciladas certeiras;
  3. Cole um adesivo no cartão escrito "RESPIRE": esse simples gesto pode evitar compras impulsivas;
  4. Planeje com carinho para o seu 'eu do futuro'. Você vai agradecer por não precisar pedir empréstimo emergencial lá na frente.

Por fim, lembre-se: dinheiro não compra paz de espírito. Ter uma reserva ajuda, sim, a promover segurança, saúde e uma pizza no fim de semana. Mas a felicidade está também em bons relacionamentos, afeto e propósito.

Você não precisa ser o novo guru das finanças. Só precisa começar, com calma, consciência e, quem sabe, um pouco de ajuda profissional. O importante é entender que educação financeira começa na mente, passa pelas emoções e se concretiza em ações. Mesmo que seja só colar o adesivo no cartão e respirar fundo antes da próxima compra.


*As opiniões da colunista não refletem, necessariamente, o posicionamento do Economia Real.

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