ENTENDA
TARA WINSTEAD/PEXELS
Boneco humanoide simboliza a inteligência artificial, já presente na tecnologia dos bancos.
Publicado em 17/6/2025 - 6h30
A Inteligência Artificial Generativa (IA Generativa) já faz parte da nossa vida financeira. E, ao que tudo indica, vai fazer cada vez mais. Muitos bancos brasileiros já estão usando essa tecnologia para melhorar o atendimento ao cliente. Segundo a Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária 2025, apresentada na Febraban Tech, 8 em cada 10 bancos no Brasil já utilizam IA Generativa em suas operações.
A maior parte (72%) está usando a IA para melhorar o atendimento ao cliente, e metade também emprega a tecnologia para personalizar as interações. O Banco do Brasil, por exemplo, começou a usar IA Generativa para dar um upgrade na área de educação financeira. A tecnologia foi integrada ao "Minhas Finanças", uma ferramenta do app do banco que ajuda o cliente a organizar o dinheiro.
A ideia é dar dicas mais certeiras e personalizadas, ajudando o correntista a escolher um crédito mais adequado ou até um investimento que combine com seu perfil. E não para por aí: o BB também espera que isso ajude a diminuir a inadimplência e reduza o risco de crédito.
Só no ano passado, o "Minhas Finanças" teve mais de 15 bilhões de lançamentos, com mais de 91% de acerto, segundo Marisa Reghini, vice-presidente de Negócios Digitais do banco. A IA Generativa também está auxiliando os funcionários com respostas mais rápidas sobre normas do Banco Central e transações internas.
Outros grandes nomes do setor financeiro também estão avançando no uso de IA Generativa. A B3, por exemplo, adotou a tecnologia no site "Bora Investir" para tirar dúvidas de quem está começando a investir. A ferramenta não recomenda ativos, mas explica conceitos como renda fixa, renda variável, como escolher uma corretora, entre outros.
O Itaú lançou o "Inteligência Itaú", que começa atendendo 10 mil clientes dos segmentos Personnalité e Uniclass, com planos de chegar a 500 mil até o fim de 2025. O objetivo é apoiar quem investe, mas ainda não tem uma assessoria personalizada.
Já o Bradesco, que foi pioneiro com a BIA (sua assistente virtual) em 2016, agora integrou a IA Generativa à ferramenta. Os primeiros resultados animaram: 82% dos problemas resolvidos já no primeiro contato e 89% de retenção. O banco também utiliza a tecnologia para personalizar campanhas de marketing, identificando o melhor momento para falar com cada cliente.
O Santander seguiu na mesma linha e criou uma IA Generativa super personalizada, que ajuda os assessores a montar carteiras de investimento com base no perfil de cada cliente de alta renda.
Não é à toa que o setor financeiro é o que mais investe em tecnologia no Brasil. Faz sentido que os bancos estejam puxando a fila na adoção da IA Generativa.
Ao contrário da Inteligência Artificial tradicional, que apenas executa tarefas com base em regras pré-definidas, a IA Generativa aprende com conteúdos existentes e, a partir disso, consegue criar textos, imagens, vídeos e até códigos. Tudo isso de forma muito mais rápida do que um ser humano faria.
Além da criação de conteúdo, a IA Generativa também é capaz de analisar milhões de dados em segundos. Por exemplo: ela pode identificar uma transação fora do padrão e acionar um alerta de fraude em tempo real.
Mesmo estando no início de sua adoção em larga escala, a expectativa é que o uso da IA Generativa cresça exponencialmente nos próximos anos, justamente por agilizar tarefas que antes levavam horas ou dias.
Segundo o relatório "Barômetro de Empregos de IA 2024", da PwC, setores que adotaram Inteligência Artificial viram a produtividade crescer quase cinco vezes mais. E quem tem habilidades com IA tende a ganhar até 25% a mais que colegas da mesma área que não têm esse conhecimento.
A expansão da IA Generativa está mudando o jeito como as empresas enxergam o trabalho. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, 40% das empresas pretendem reduzir o número de funcionários em áreas que podem ser automatizadas. Além disso, 2 em cada 3 empresas querem contratar profissionais com habilidades específicas em IA.
No Brasil, esse é um grande desafio. A educação ainda deixa muito a desejar. Dos 48,5 milhões de jovens entre 15 e 29 anos, mais de 30 milhões precisam trabalhar. Quase 40% estão na informalidade, e outros 4,4 milhões estão desempregados. O ensino médio também não prepara para o mercado: apenas 11% dos jovens fazem cursos profissionalizantes, enquanto a média dos países da OCDE é bem maior.
Além disso, cerca de 30% da população brasileira entre 15 e 64 anos é considerada analfabeta funcional – ou seja, consegue ler e escrever o básico, mas não entende o que lê nem consegue resolver problemas simples de matemática. Tudo isso dificulta a formação de mão de obra qualificada para lidar com tecnologias como a IA Generativa.
Um estudo da OIT (Organização Internacional do Trabalho) apontou que 37% dos empregos no Brasil podem ser impactados pela IA – e que as mulheres estão duas vezes mais expostas à substituição do que os homens. Os cargos administrativos e de escritório são os que mais correm risco, já que muitas dessas funções podem ser automatizadas.
Mas atenção: isso não significa que os empregos vão desaparecer. O estudo indica que o mais provável é que as funções mudem – e não que deixem de existir. Para que essa transição aconteça de forma positiva, será necessário investir pesado em educação e qualificação profissional.
Os bancos também estão atentos a isso: só em 2025, devem investir quase R$ 48 bilhões em tecnologia – um aumento de 13% em relação ao ano passado. Além disso, o setor prevê um crescimento de 15% nas vagas em TI.
Um ponto que não pode ser ignorado é o impacto ambiental da IA Generativa. Essa tecnologia exige uma capacidade imensa de processamento de dados – o que significa alto consumo de energia. Por exemplo: uma busca feita com auxílio de IA pode consumir até 10 vezes mais energia que uma pesquisa em buscadores tradicionais.
O Google revelou que suas emissões de carbono aumentaram quase 50% em cinco anos, enquanto a Microsoft registrou alta de 30%. Tudo isso devido ao uso crescente de IA.
Outro problema é o consumo de água: os data centers que sustentam os modelos de IA usam grandes volumes de água para resfriamento dos servidores. Uma resposta simples de 100 palavras gerada por IA, como o ChatGPT, consome cerca de 500 ml de água. Parece pouco, mas em escala, o impacto é gigante. Um estudo mostrou que se apenas 10% da força de trabalho dos EUA usasse IA toda semana, o consumo de água subiria em 435 milhões de litros ao ano.
Além disso, o aumento da geração de lixo eletrônico é outro desafio. Segundo estudo publicado na Nature Computational Science, a IA pode gerar até 5 milhões de toneladas de lixo eletrônico até o fim da década.
Apesar dos desafios, IA Generativa e sustentabilidade podem caminhar juntas. É possível adotar práticas para reduzir o consumo de energia e água, além de investir em reciclagem de equipamentos.
Empresas como Google, Microsoft e Meta já se comprometeram a operar 100% com energia limpa até 2030. A Universidade de Cambridge, por sua vez, lidera pesquisas para desenvolver supercomputadores mais eficientes e com menor impacto ambiental.
Além disso, a IA já vem ajudando em causas ambientais: prever desastres naturais, melhorar a precisão das previsões climáticas, auxiliar agricultores na gestão de safras e até colaborar no diagnóstico precoce de doenças como o câncer.
O uso sustentável da IA Generativa é possível – e deve ser incentivado. Assim, podemos aproveitar o melhor que a tecnologia tem a oferecer, sem descuidar do planeta e das pessoas.
*As opiniões da colunista não refletem, necessariamente, o posicionamento do Economia Real.
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.