CONTA DE LUZ

Energia de graça? Governo articula MP que pode aliviar bolso dos brasileiros

Governo Lula aprova MP que amplia tarifa social de energia elétrica para 60 milhões de pessoas. Entenda impactos na conta de luz e no setor elétrico.

MARCELO CASAL/AGÊNCIA BRASIL

Conta de luz aumentou neste mês; Governo prepara MP para ampliar tarifa social de energia

Publicado em 12/5/2025 - 7h00

Desde o início de maio, os brasileiros enfrentam um aumento na conta de luz. No entanto, o Governo Federal prepara uma reforma no setor elétrico que promete aliviar o bolso da população de baixa renda. A medida provisória (MP) que amplia os descontos da tarifa social de energia elétrica já recebeu o aval do Palácio do Planalto e aguarda apenas a assinatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para ser enviada ao Congresso Nacional.

"O presidente Lula aprovou a reforma e os termos que nós encaminhamos à Casa Civil. Assim que retornarmos [de uma nova rodada de viagens internacionais], queremos que ele faça o anúncio oficial e encaminhe a proposta ao Congresso Nacional", afirmou o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, à Agência iNFRA na última terça-feira (6).

O Ministério de Minas e Energia desenvolve o texto da MP há mais de dois anos, em parceria com a Casa Civil. A proposta prevê a criação de um mercado livre de energia elétrica, no qual o consumidor poderá escolher a fornecedora de energia até, no máximo, 2030, o que pode modernizar o setor e reduzir a burocracia.

Hoje, cerca de 40 milhões de brasileiros recebem os benefícios da tarifa social de energia, que concede até 65% de desconto na conta de luz para famílias de baixa renda cadastradas no CadÚnico. A gratuidade total é restrita a indígenas e quilombolas.

Com a nova MP, o governo quer ampliar o benefício para 60 milhões de pessoas, sendo 14 milhões totalmente isentas e os demais com descontos progressivos conforme renda e consumo mensal. Para obter a isenção completa, é necessário ter renda per capita de até meio salário mínimo e consumo inferior a 80 kWh por mês.

Quem consome entre 80 e 120 kWh continuará recebendo descontos proporcionais. Idosos e pessoas com deficiência que recebem o BPC (Benefício de Prestação Continuada) também estão incluídos na proposta.

Reforma pode impactar consumidores não beneficiados

De acordo com Silveira, o custo estimado da ampliação será de R$ 3,6 bilhões, mas não sairá do Tesouro Nacional. O valor deverá ser coberto por uma reestruturação da política tarifária do setor elétrico, com redistribuição de encargos entre empresas e consumidores.

Esse modelo, porém, impõe desafios às concessionárias, segundo os especialistas ouvidos pelo Economia Real. O advogado tributarista Alexandre Mazza explica que a Constituição assegura que empresas não tenham redução em suas margens de lucro.

"O Governo pode criar o desconto, mas precisa compensar as empresas. Isso pode levar ao aumento da conta de luz para quem não for contemplado pelo benefício", alerta.

"Não existe almoço grátis. A conta de energia não se reduz magicamente, ela apenas muda de bolso", afirma o jurista Antonio Carlos de Freitas Jr., doutor em Direito Constitucional pela Universidade de São Paulo (USP).

Ele defende investimentos estruturais em fontes renováveis, como energia solar e eólica, para garantir sustentabilidade e tarifas de energia elétrica mais baratas no longo prazo.

A proposta surge em um momento politicamente delicado para o governo. O Planalto enfrenta desgaste com o escândalo de fraude no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), críticas por perda de articulação no Congresso e insatisfação popular diante de uma economia estagnada.

O anúncio da MP, feito sem passar pela Secretaria de Comunicação Social (Secom), gerou atritos internos com os ministérios da Fazenda e da Casa Civil. Apesar do potencial de popularidade, a MP enfrenta resistência da oposição, que acusa o governo de repassar o custo para os consumidores não beneficiados pela tarifa social.

Para Freitas Jr., o governo Lula terá dificuldades em aprovar a MP, mesmo sendo uma medida com apelo social. "O orçamento público é limitado. Propostas que beneficiam os mais pobres costumam ter maior aceitação, mas a articulação política atual está enfraquecida", conclui.

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