COBERTURA ESPECIAL

Reforma Tributária força pequenas empresas a mudar como fazem negócios

ILUSTRAÇÃO/CHATGPT

Empreendedor dividido entre dois caminhos com Reforma Tributária

Empreendedor dividido entre dois caminhos com Reforma Tributária: planejamento e venda bloqueada

Publicado em 26/8/2025 - 8h00

Empreendedores de pequenas e médias empresas (PMEs) terão que tomar decisões estratégicas nos próximos meses se quiserem se manter competitivos após a entrada em vigor da Reforma Tributária. Mais do que uma mudança na forma de cobrar impostos, a nova legislação exige profissionalização da gestão, adoção de sistemas e o apoio de contadores capacitados.

"A reforma não é só sobre pagar mais ou menos imposto, mas também sobre gestão: caixa, fornecedores, regime tributário. E ela afeta empresas de todos os tamanhos", afirma o economista Felipe Beraldi, da Omie, plataforma de ERP voltada para PMEs.

Em entrevista ao Economia Real, Beraldi aponta três pilares fundamentais para enfrentar esse momento: tecnologia, contador e educação. Desde 2023, a empresa tem investido na capacitação de contadores para que se tornem agentes de transformação dentro das pequenas empresas.

Segundo Beraldi, menos da metade das PMEs no Brasil usa um sistema de gestão. Com a reforma, essa realidade precisará mudar rapidamente.

O sistema já é crucial hoje. Com a reforma, vai acelerar a adoção entre PMEs. O contador terá um papel duplo: consultor tributário e agente de transformação digital, explica.

A adoção de um ERP atualizado é essencial para emitir notas fiscais dentro das novas exigências. A partir de 2026, as empresas terão que incluir os novos tributos (CBS e IBS) nas notas. Caso contrário, as notas serão rejeitadas e a venda, bloqueada.

"Mesmo com valores baixos no período de testes, é fundamental se adequar. Não é um detalhe apenas operacional: pode paralisar vendas já no início do ano", alerta Beraldi.

Decisões estratégicas dentro do Simples Nacional

Uma das grandes mudanças que a Reforma Tributária traz para pequenos negócios está na forma de recolher impostos. Para empresas do Simples Nacional, surgirá uma escolha inédita: recolher o IVA (CBS e IBS) dentro ou fora do regime simplificado.

"Essa escolha envolve preço, margem e relacionamento com clientes e fornecedores", diz o economista. "É preciso usar o período de transição, que vai de 2026 a 2033, para se planejar".

Essa decisão, antes restrita a grandes empresas com departamentos fiscais robustos, agora chega às PMEs. "A reforma cria uma nova árvore de decisões para quem está no Simples. Quem deixar para virar a chave lá na frente pode não sobreviver", afirma Beraldi.

Um dos efeitos práticos mais imediatos será o impacto nas cadeias de fornecimento. Pequenos fornecedores que atendem empresas maiores poderão ser pressionados a mudar de regime tributário para que os clientes otimizem seus créditos fiscais.

"Estimamos que cerca de 2,5 milhões de empresas do Simples que atuam em B2B serão diretamente impactadas. O jogo não muda apenas em termos de carga tributária, mas também na forma de fazer negócios", aponta.

Isso exigirá do pequeno empresário uma revisão completa da estratégia: como formar preço, com quem comprar, qual regime seguir e como manter margens saudáveis.

Para as empresas que ainda estão distantes desse debate, Beraldi é direto: "As empresas precisam começar agora. Não é só uma questão de pagar mais ou menos impostos, mas de rever modelos de negócio e se manter competitivo. Quem se planejar durante a transição vai sair na frente".


Este conteúdo integra a série especial do Economia Real sobre a Reforma Tributária. Publicamos novos textos às terças e quintas, com análises práticas para quem quer se preparar desde já para as mudanças no sistema tributário brasileiro.

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