PAPEL E CANETA

A conta que o CLT precisa fazer antes de aceitar uma vaga PJ como MEI

TIM GOUW/PEXELS

Homem analisa trabalho no computador

Homem analisa trabalho no computador; entenda a conta que precisa ser feita ao virar PJ

Publicado em 16/9/2025 - 11h37

Trocar um emprego CLT por uma vaga PJ como MEI pode parecer mais vantajoso à primeira vista. O salário bruto maior chama atenção e, muitas vezes, dá a impressão de que a renda líquida será mais alta. Mas a realidade é que o trabalhador precisa fazer as contas: afinal, quanto um PJ deve ganhar para ter a mesma segurança de quem tem carteira assinada?

Segundo Antônio Sanches, analista de research da Rico, o ponto central está nos benefícios. "O CLT recebe direitos que o PJ não tem garantidos, como férias remuneradas, 13º salário e FGTS. Quando colocamos tudo isso na ponta do lápis, a diferença chega a quase 20% em salários mais baixos", explica.

Na simulação feita pelo analista, um profissional CLT com um salário de R$ 2 mil recebe, além da remuneração mensal:

  • Férias remuneradas: equivalente a 33% do salário (R$ 660);
  • 13º salário: um salário extra no ano (R$ 2 mil);
  • FGTS: 8% do salário depositado mensalmente, totalizando R$ 1.920 em 12 meses.

Ao somar o salário anual com os benefícios, o CLT termina o ano com R$ 28.580, o que equivale a uma média mensal de R$ 2.381. Para se equiparar, um PJ precisaria ganhar cerca de 19% a mais todos os meses.

Quando o salário é maior, a diferença diminui. De acordo com a PNAD de fevereiro de 2025, a remuneração média no Brasil é de R$ 3.378. Nesse cenário, o PJ precisaria de cerca de 15% a mais para empatar.

Isso ocorre porque a tributação do MEI é fixa (cerca de R$ 72 por mês), enquanto o CLT paga Imposto de Renda progressivo, que pode chegar a 27,5%.

Benefícios invisíveis do CLT

Além dos cálculos básicos, o trabalhador CLT costuma contar com adicionais como vale-refeição, plano de saúde, seguro de vida, previdência privada e participação nos lucros (PLR).

Esses benefícios não entram na conta oficial, mas têm grande impacto no bolso. Para quem avalia migrar para PJ, é importante calcular quanto custaria contratar esses serviços por conta própria.

Por outro lado, o MEI pode ter mais flexibilidade para organizar seu dinheiro. "O modelo PJ pode ser vantajoso em salários mais altos, mas exige disciplina para reservar recursos para férias, criar uma espécie de 13º e planejar o futuro", ressalta Sanches.

Riscos e limites do modelo MEI

O grande risco de aceitar uma vaga PJ sem planejamento é cair na armadilha de gastar tudo o que entra. Nesse modelo, o trabalhador é responsável por organizar sua aposentadoria, pagar tributos em dia e manter uma reserva de emergência.

Segundo a Receita Federal, o MEI contribui com valor fixo até R$ 81 mil de faturamento anual. Mas, se ultrapassar esse teto, precisa migrar para o Simples Nacional, onde a carga tributária aumenta significativamente.

No fim das contas, a escolha entre CLT e MEI não deve se basear apenas no valor do salário. É uma decisão que envolve segurança, benefícios e planejamento financeiro. "A liberdade financeira não vem só de ganhar mais, mas de planejar bem o que se ganha", conclui Sanches.

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