SETOR AUTOMOTIVO

Carros nacionais aceleram, mas sofrem com 'buracos' chineses e argentinos

VITOR MENDES STAFUSA/UNSPLASH

Alto número de carros na Avenida Paulista

Alto número de carros em avenida; Vendas continuam a crescer no Brasil, mas importados ameaçam

Publicado em 4/5/2025 - 5h30

A indústria automotiva brasileira acelera! No primeiro trimestre de 2025, a produção cresceu 8,3% em relação ao mesmo período do ano passado. Apesar do bom desempenho, o setor enfrenta dois "buracos" nessa estrada: a forte presença de veículos importados da China e da Argentina, que foram responsáveis por 61% do crescimento das vendas neste início de ano.

"Dois principais fatores afetam a venda de veículos leves: renda das famílias e acesso ao crédito. Temos uma taxa de desemprego em um dos menores níveis e aumento do salário médio. Apesar dos juros estarem elevados, há acesso a crédito para compra de veículos", explica Luciano Nakabashi, professor de Economia da Universidade de São Paulo (USP), ao Economia Real.

Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), 2024 bateu recorde de vendas, com 14,2 milhões de veículos leves comercializados (carros novos e seminovos). Em 2025, a tendência se mantém: só em março, as vendas diárias foram 11,3% maiores do que em fevereiro.

Apesar do ritmo positivo, Nakabashi faz um alerta: "Acredito que as vendas não devem crescer como em 2024, visto que a taxa de desemprego já está muito baixa e que a economia deve crescer menos em 2025. Os juros estão altos, e o atual ciclo da Selic tende a encarecer o crédito, inclusive para compra de veículos. Dessa forma, 2025 tende a ser mais fraco que 2024".

Ycaro Martins, ex-vendedor de concessionária e CEO da franquia de venda de veículos Vaapty, também prevê desafios à frente. "O setor automotivo depende de crédito. Quando as portas do crédito se fecham ou os juros ficam muito altos, a venda de carros zero ou seminovos cai", diz.

No acumulado trimestral, as montadoras brasileiras produziram 583 mil veículos, alta de 8,3% em relação ao mesmo período de 2024. No entanto, o mês de março registrou queda de 12,6% na produção, após avanços de 15,1% em janeiro e 15% em fevereiro, na comparação com os mesmos meses do ano anterior.

"É preciso observar o que acontece nos próximos meses. Pode ter havido uma antecipação das montadoras em relação ao que projetam para o comportamento das vendas", destaca Nakabashi.

Fator China preocupa

Em nota à imprensa, o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, comentou os pedidos da montadora chinesa BYD para que o governo brasileiro reduza a tarifa de importação de carros parcialmente desmontados.

"Esses impasses podem comprometer parte dos investimentos anunciados, sobretudo num momento de grande tensão global, com as tarifas impostas pelo governo norte-americano impactando negativamente toda a geopolítica econômica global, inclusive o setor automotivo nacional e sua longa cadeia de suprimentos", afirma.

Apesar das preocupações, Nakabashi vê a presença das montadoras estrangeiras sob outra ótica. "A China é um fator relevante nas vendas de veículos no Brasil. Eles entraram muito forte com os carros elétricos a preços competitivos e com vários itens de segurança e conforto. Já a Argentina faz parte da estratégia logística das montadoras, com parte da produção lá e parte aqui. É mais uma questão de logística do que uma ameaça à produção nacional", detalha.

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