CUIDADO
REPRODUÇÃO/RECORD
Ilustração criada por IA mostra idosa recebendo cesta básica; quadrilha aplica golpe em idosos
Publicado em 4/8/2025 - 14h51
Um esquema criminoso usava a doação de cestas básicas como fachada para aplicar golpes financeiros em idosos no Brasil. Segundo as autoridades, o grupo chegou a movimentar cerca de R$ 3 milhões em um ano, enquanto o líder, Caio César Solano, ostentava uma vida de luxo nas redes sociais.
"A maioria dos empréstimos era em torno de R$ 20 mil a R$ 30 mil. Podemos dizer que, no período de um ano, foram cerca de R$ 3 milhões aplicados por esses estelionatários", afirmou o delegado Luciano Pinheiro, responsável pelo caso, em entrevista ao Domingo Espetacular exibida no último domingo (4) -- confira a reportagem na íntegra no começo da página.
De acordo com as informações exibidas na revista eletrônica da Record, com os dados coletados durante as visitas em que eram doadas as cestas básicas, a quadrilha abria contas bancárias e contratava empréstimos consignados em nome das vítimas, sem autorização. Esse dinheiro era transferido para contas de laranjas e lavado por meio de movimentações na bolsa de valores.
Jorgina dos Santos Francisco, de 73 anos, foi uma das vítimas do golpe do empréstimo consignado. Em outubro do ano passado, ela recebeu em casa uma mulher que se apresentou como representante de uma ONG parceira do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A suposta voluntária informou que a idosa havia sido beneficiada com uma cesta básica, pediu para tirar fotos e coletou seus dados pessoais para um suposto cadastro.
"Fiquei feliz com uma cesta básica, né? Parecia um gesto de solidariedade, uma ajuda que chegou na hora certa. Achei que era um milagre. Mas, infelizmente, não foi. A gente precisa, mas poxa, por que as pessoas não fazem uma coisa boa? Como alguém tem a capacidade de pensar em fazer o mal?", desabafou a idosa.
Dias depois, ao ir ao banco acompanhada do filho, Jorgina descobriu que havia um empréstimo consignado de mais de R$ 20 mil registrado em seu nome, sem qualquer consentimento. O advogado da idosa, Diego Gomes, responsabiliza a instituição financeira pelo empréstimo fraudulento: "O banco é responsável por essa operação, uma vez que não há contrato assinado pelo beneficiário nem registro presencial na agência".
Esses valores eram transferidos para contas de intermediários e, posteriormente, destinados a Solano, apontado pela Polícia Civil como líder da organização criminosa. As investigações apontam que o suspeito usava os recursos obtidos com os golpes para operar na bolsa de valores, por meio da compra e venda de ações em operações diárias — estratégia usada para lavar dinheiro e aumentar os lucros.
A estimativa é que mais de 100 idosos tenham sido lesados. Durante a operação policial, foram apreendidos cartões bancários e R$ 10 mil em espécie na posse de Solano. Segundo os investigadores, os indícios reforçam a complexidade da quadrilha e o uso de técnicas de ocultação de patrimônio.
Para Flávio Martins Rodrigues, representante da Comissão de Previdência Social da OAB-RJ, a falta de fiscalização e de sistemas inteligentes favorece a prática de golpes contra aposentados. "É urgente criar um sistema informatizado que aponte movimentações fora do padrão, com alertas automáticos. O governo precisa modernizar seus processos para acompanhar a sofisticação dos estelionatários", destacou o especialista.
Em nota, o banco envolvido no caso declarou que "repudia veementemente qualquer insinuação de conivência institucional com práticas fraudulentas" e considera "extremamente grave a sugestão de que haja facilitadores internos atuando em desrespeito à legislação". A instituição, que não teve seu nome apresentado na reportagem, também afirmou manter canais abertos para contestação de operações e colaborar com as autoridades competentes.
A equipe da Record tentou contato com Caio César Solano, mas não obteve resposta.