OLHO NOS JUROS
MARCELLO CASAL JR./AGÊNCIA BRASIL
Prédio do Banco Central em Brasília (DF); Copom eleva taxa Selic para 14,75% em nova decisão
Publicado em 7/5/2025 - 18h44
Atualizado em 7/5/2025 - 18h57
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevou a taxa Selic para 14,75% ao ano. Com a decisão anunciada nesta quarta (7), a taxa básica de juros da economia brasileira atinge o maior patamar desde julho de 2006, em um cenário marcado pela alta nos preços de alimentos e energia.
"O Copom decidiu elevar a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 14,75% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego", diz o comunicado.
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A última vez em que a Selic esteve próxima desse nível foi em julho de 2006, durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando a taxa chegou a 15,25% ao ano. Segundo o BC, a decisão desta quarta foi unânime.
"Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação", reforça o Comitê no comunicado oficial.
A alta da Selic já era esperada pelos agentes econômicos. O Boletim Focus, divulgado na segunda (5), projetava o aumento da taxa e estimava que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), considerado a inflação oficial do país, encerraria 2025 em 5,53% — bem acima da meta de 3%, com teto de tolerância de 4,5% definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
"O aumento impacta setores sensíveis ao crédito, como o varejo e a construção civil, que enfrentam custos mais altos de captação e menor consumo. No setor de meios de pagamento, o crédito mais caro pode prejudicar pequenas e médias empresas, enquanto grandes companhias, com acesso à credito mais barato, mantêm maior resiliência", detalha Marcio Saito, CFO da Entrepay.
Felipe Queiroz, economista-chefe da Associação Paulista de Supermercados (APAS), acredita que a decisão do Copom foi equivocada. "O Banco Central opta por manter uma política de juros elevados, o que funciona, na prática, como um freio à atividade econômica", destaca o especialista.
Com a taxa Selic nos patamares atuais, o Brasil favorece o rentismo e a especulação, em detrimento da geração de empregos, do investimento produtivo e do crescimento econômico de médio e longo prazo", afirma o economista.
"Apesar do tom firme, o Banco Central sinalizou que poderá reduzir o ritmo de aperto nas próximas reuniões. Parte do mercado já começa a enxergar a alta de hoje como uma das últimas deste ciclo", complementa Pablo Spyer, conselheiro da Associação Nacional das Corretoras de Valores (Ancord).
A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira. Ela funciona como instrumento da política monetária e serve de referência para as demais taxas de juros do mercado. É também o rendimento pago pelo governo federal a quem investe em títulos públicos, como os do Tesouro Direto.
Além disso, a Selic influencia diretamente as taxas de empréstimos, financiamentos e cartões de crédito. Em um cenário de alta da Selic, as operações de crédito se tornam mais caras para consumidores e empresas, o que tende a frear o consumo e controlar a inflação.
Em contrapartida, a alta dos juros favorece aplicações em renda fixa, como CDBs, LCIs, LCAs e fundos de investimento atrelados à taxa básica.
Os integrantes de Copom se reúnem para novas definições em 17 e 18 de junho. Via de regra, as reuniões são realizadas às terças e quartas-feiras. Confira o calendário completo do Comitê em 2025:
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