NA PRÁTICA
THIS IS ENGINEERING/PEXELS
Códigos projetados sobre uma mulher; entenda como equilibrar tecnologia e trabalho de verdade
Publicado em 24/4/2025 - 6h50
A Inteligência Artificial (IA) chegou chegando. Automatizou, organizou, otimizou. Fez planilha, gerou relatório, sugeriu estratégia, entregou conteúdo. E agora? Onde entra o ser humano nessa equação? E mais: onde entra a cultura?
Esse papo de "a IA vai acabar com os empregos" já me cansou. A discussão mais urgente agora é outra: como vamos manter o engajamento, o propósito e a colaboração num ambiente altamente automatizado? Porque sim, a IA veio para ficar. Antes que você me pergunte, eu não sou contra isso, muito pelo contrário.
Mas o que tenho visto nas empresas é um movimento silencioso — e perigoso: a tecnologia avança e a cultura fica para trás. A cultura precisa correr no mesmo ritmo da tecnologia. Empresas estão investindo milhões em ferramentas de IA, mas não investem metade disso em preparar as pessoas que vão trabalhar com essas ferramentas.
Fala-se em eficiência, produtividade, performance — e tudo isso é ótimo. Mas cadê a conversa sobre autonomia, responsabilidade e conexão humana?
No SXSW 2025, pude acompanhar algumas matérias, e a grande mensagem foi clara: o mundo ainda é feito de pessoas.
A IA pode ser brilhante, mas só brilha mesmo quando está a serviço dos valores humanos. Ou seja: sem cultura, a IA vira só mais um robô performando no vazio.
"Ah, mas a IA vai resolver tudo". Vai mesmo? Vamos ser sinceros: a IA é boa para resolver problemas complexos, mas ela não vai salvar seu clima organizacional tóxico.
Ela não vai olhar nos olhos de alguém no meio de uma crise pessoal e dizer: "estamos juntos, vamos achar um jeito". Quer dizer, até faz… mas não é a mesma coisa. Isso, quem faz, ainda somos nós.
E se a empresa não cuidar disso, vai perder o que tem de mais valioso: as pessoas que ainda se importam. Então o que fazer? Dá para viver com IA e com cultura? Dá. E vou te dizer como, porque não adianta só problematizar — tem que entregar o caminho também.
Se criatividade, empatia e ética são importantes, precisam estar na prática, não só na missão impressa no crachá. Reveja comportamentos esperados, critérios de promoção e comunicação interna. Gente se inspira em gente — não em prompt de IA.
IA evolui todo dia. O seu time também precisa. Crie um plano real de desenvolvimento. E não me venha com “LinkedIn Learning liberado” como se fosse solução mágica. Quer que a galera performe com tecnologia? Invista. Treine. Garanta tempo e espaço para aprender.
A IA não veio para te substituir. Ela veio para te libertar do operacional e te dar mais tempo para pensar. Mas isso só acontece quando a liderança reconhece a tecnologia como aliada, não como ameaça.
Com mais dados e mais velocidade, o controle centralizado já era. Você quer decisões ágeis? Confie nas pessoas. Dê autonomia. Crie um ambiente onde errar não seja sinônimo de punição.
Isso aqui é sério: a IA pode ampliar nossos erros se não houver diretriz clara. Seja transparente, estabeleça limites e alinhe os usos da IA com os valores da empresa.
As empresas inteligentes que sobreviverem à revolução da IA serão aquelas que irão equilibrar dados e humanidade, tecnologia e comportamento. Serão aquelas que cuidam da cultura com a mesma dedicação com que atualizam seus sistemas.
Porque, no futuro do trabalho, a única coisa que nos diferenciará das máquinas... será a nossa capacidade de sermos cada vez mais humanos.
*As opiniões da colunista não refletem, necessariamente, o posicionamento do Economia Real.
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