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O agro puxou o PIB, mas não do jeito que você imagina

THIBAULT LUYCX/PEXELS

Trabalhadoras em produção de tabaco

Trabalhadoras em produção de tabaco; fumo foi o principal produto do agro no primeiro tri

Publicado em 29/6/2025 - 8h00

A agropecuária foi a protagonista do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no primeiro trimestre de 2025. Mas, ao contrário do que muitos imaginam, as estrelas desse desempenho não foram a soja, o arroz ou o milho. O destaque coube ao tabaco, cuja produção cresceu 25,2% no início do ano — um salto expressivo em um cenário social no qual fumar deixou de ser tendência, ao contrário do que se via no século passado.

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"Costumamos dizer que, em tempos de crise e guerra, as pessoas fumam e bebem mais. Apesar de existirem muitas informações sobre a queda no número de fumantes, isso é uma meia verdade. O consumo global de tabaco permanece significativo", afirma Valmor Thesing, presidente do SindiTabaco, ao Economia Real.

Segundo o estudo IPC Maps, que analisa o potencial de consumo por categoria em todo o país, os brasileiros devem gastar R$ 32,1 bilhões com produtos derivados ou relacionados ao tabaco ao longo de 2025 — uma alta de 10% em relação a 2024, quando o setor movimentou R$ 29,2 bilhões. Além disso, dados do Ministério da Saúde indicam que o número de fumantes no Brasil cresceu 25% no ano passado — a primeira alta relevante desde 2007.

"Se olharmos um gráfico de 25 anos, veremos que o Brasil exporta cerca de 500 mil toneladas de tabaco por ano, com receita média de US$ 2,5 bilhões. O que ocorre, por vezes, são atrasos logísticos causados por eventos como a pandemia ou guerras, como a atual no Oriente, que impactam os embarques nos portos", detalha Thesing.

Essas oscilações logísticas afetam o desempenho trimestral das exportações e, por consequência, o impacto do setor no PIB da agropecuária. "Contudo, é importante destacar que, nos últimos dois anos, o Brasil superou consistentemente essa média histórica de 500 mil toneladas e US$ 2,5 bilhões em exportações", complementa.

Segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o tabaco liderou o crescimento da agropecuária no primeiro trimestre de 2025. Em seguida, vieram a soja (13,3%), o arroz (12%) e o milho (11,8%).

O papel do tabaco no agronegócio

Para Thesing, o bom desempenho da produção de tabaco no Brasil está diretamente ligado ao Sistema Integrado de Produção de Tabaco (SIPT), modelo que organiza a relação entre a indústria e os produtores rurais.

"Esse modelo foi desenvolvido ao longo de décadas e já serviu de referência para outras cadeias produtivas. Ele envolve empresas com estrutura de campo, assistência técnica e fornecimento de insumos. E, o mais importante: garante a compra integral da safra, com remuneração considerada muito satisfatória", explica.

A área cultivada de tabaco no Brasil atingiu aproximadamente 310 mil hectares — alta de 9% em relação ao ciclo anterior. A expectativa é que a safra 2024/2025 alcance 696,4 mil toneladas, mais de 100 mil acima do volume registrado na temporada anterior.

Hoje, o Brasil é o segundo maior produtor de tabaco do mundo, atrás apenas da China, e mantém desde 1993 a liderança como maior exportador global. Cerca de 95% da produção nacional está concentrada na região Sul. Santa Catarina registrou o maior crescimento (+34%), seguida por Rio Grande do Sul (+22,1%) e Paraná (+21,5%).

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