CONTAGEM REGRESSIVA
Tarifaço de 50% de Trump ameaça exportações brasileiras a partir de agosto e acende alerta entre empreendedores e setores como o agronegócio.
PAUL TEYSEN/UNSPLASH
Contêineres de transporte marítimo; tarifaço de Trump começa na sexta (1º) e preocupa mercado
CASSIANE LOPES
redacao@economiareal.com.brPublicado em 30/7/2025 - 6h00
Atualizado em 30/7/2025 - 9h23
A dois dias de entrar em vigor, a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos EUA, a partir de 1º de agosto, promete causar um impacto profundo no comércio exterior e na economia nacional.
Segundo Ulisses Dedonato, economista-chefe da Liberum Ratings, o maior impacto inicial será sentido no agronegócio, particularmente em produtos classificados como insumos primários, como grãos, carne bovina e laranja — um dos carros-chefes das exportações brasileiras.
"O mercado americano é um dos maiores compradores da laranja brasileira, e essa tarifa pode se tornar um impeditivo para esse mercado em específico", avalia Dedonato ao Economia Real. Em médio e longo prazos, ele alerta para prejuízos também em setores de maior valor agregado, como a indústria de aviação, ao citar a Embraer como uma das empresas que pode enfrentar consequências severas.
Durante um painel com investidores realizado na Expert XP na semana passada, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), classificou a medida como "muito severa" e anunciou um pacote de crédito subsidiado de R$ 200 milhões, além de R$ 1 bilhão em devolução de créditos de ICMS. O governador também afirmou estar buscando diálogo com parlamentares e empresas norte-americanas.
Na visão do governador, o tarifaço pode reduzir o PIB do estado de São Paulo em até 2,7%, provocar a perda de 44 mil a 120 mil empregos e gerar um impacto negativo de até R$ 7 bilhões em massa salarial por ano.
O que me preocupa é o pequeno produtor de café, porque em cada contêiner que sai do porto de Santos, sai um blend de vários produtores e cooperativados", afirmou Tarcísio, ao destacar também a vulnerabilidade de multinacionais com operações no Brasil, como a Caterpillar.
O anúncio de Tarcísio provocou repercussão dentro do evento. Para João Campos, presidente do PSB, a medida tem caráter político e exige uma resposta firme, "para não negociar o inegociável".
O ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), afirmou que o governo federal busca diálogo e endossou a atuação do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). Já Edinho Silva, presidente do PT, alertou para o risco de uma guerra comercial: "A terceira guerra mundial pode não ser bélica, pode ser comercial e será tão letal quanto".
Empresários e associações setoriais pressionam o governo federal por uma solução. A equipe econômica estuda alternativas, incluindo medidas de reciprocidade tarifária e negociações diplomáticas. Enquanto isso, empreendedores de menor porte que exportam para os Estados Unidos aguardam com apreensão os próximos passos — conscientes de que o tarifaço pode transformar radicalmente a dinâmica do comércio exterior entre Brasil e EUA.