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Sondagem revela que 56% das PMEs veem impacto negativo da economia. Juros altos e incertezas de 2026 derrubam a confiança dos pequenos negócios.
ILUSTRAÇÃO/CHATGPT
Pequeno empresário preocupado com o futuro diante de juros altos e incertezas. (Imagem IA)
Publicado em 7/10/2025 - 8h00
A combinação de juros altos, crédito caro e incertezas sobre o cenário político de 2026 aumentou o pessimismo entre pequenos e médios empresários brasileiros. De acordo com a Sondagem Omie das Pequenas Empresas, levantamento obtido com exclusividade pelo Economia Real, 56% dos empreendedores acreditam que o ambiente econômico deve piorar e impactar suas vendas no curto prazo, enquanto 38% já desistiram de contratar novos funcionários neste semestre.
"O que dói no empreendedor é o bolso. Hoje, o pequeno empresário enfrenta inflação alta, mercado de trabalho aquecido (que eleva o custo de contratação) e crédito caro. Para muitos, a taxa final de um empréstimo chega a 40% ou 50% ao ano. Isso trava tanto decisões de investimento quanto a operação do dia a dia", explica o economista Felipe Beraldi, gerente de Estudos e Indicadores Econômicos da Omie.
O especialista reforça que o clima de pessimismo se consolidou após dois anos de incertezas e juros elevados. "A confiança empresarial se deteriorou. A taxa Selic em 15% afeta diretamente quem depende de crédito ou vende produtos de maior valor agregado. O consumidor pisa no freio, e o empresário sente isso na ponta", acrescenta.
Apesar das dificuldades, Beraldi destaca que há espaço para reação, desde que os empreendedores mantenham disciplina de gestão e visão de médio prazo.
"Não há expectativa de juros de um dígito no curto prazo, mas há chance de uma trajetória de queda gradual. Isso, por si só, já melhora o clima de confiança. O que o empreendedor precisa fazer agora é se preparar para continuar operando com crédito caro, cuidando da gestão e do capital de giro", afirma.
Com a proximidade das eleições de 2026 e o início da implementação da Reforma Tributária, o alerta é para que os donos de pequenos negócios não deixem o pessimismo paralisar suas decisões.
"Planejamento é a palavra-chave. Juros altos e incertezas continuarão presentes, mas o empreendedor que se preparar desde já, com gestão eficiente e apoio de contadores, vai atravessar 2026 com mais resiliência", diz Beraldi.
A sondagem também aponta mudanças de comportamento entre os setores. Enquanto a indústria apresenta sinais de recuperação, o comércio sofre desaceleração.
A alta dos rendimentos reais e o desemprego em níveis historicamente baixos mantêm a renda das famílias, mas a falta de confiança do consumidor impacta o varejo, especialmente em segmentos que dependem de crédito.
As PMEs continuam crescendo, mas num ritmo bem menor do que no pós-pandemia. Setores mais sensíveis à confiança do consumidor, como o comércio varejista, estão mais penalizados. Já a indústria tem puxado parte da recuperação recente", analisa Beraldi.
O economista reforça que, mesmo em meio à incerteza, há oportunidades para quem se antecipa. "Períodos de turbulência também abrem espaço para inovação. Vemos um movimento crescente de digitalização e profissionalização das pequenas empresas. Ferramentas de gestão permitem ao empreendedor ganhar produtividade e tempo para pensar no negócio", diz.