ENTENDA

Golpe da loja desconhecida vira febre entre compras na internet

Estudo revela que golpes em compras digitais causam prejuízos de até R$ 3.780 e expõem riscos crescentes de fraudes online com uso de IA.

NEGATIVE SPACE/PEXELS

Pessoa realiza compra com cartão na internet; golpe da loja desconhecida cresce no Brasil

Publicado em 21/7/2025 - 9h35

O comércio brasileiro vem sendo impulsionado há anos pela ascensão das compras digitais e pela digitalização dos meios de pagamento, como a criação do Pix. No entanto, o alto volume de movimentações financeiras nesse ambiente abriu espaço para outro mercado: o da fraude digital. Entre eles, o mais recorrente é o "golpe da loja ou empresa pouco conhecida", responsável por 15,8% dos casos, com prejuízo médio de R$ 740 por vítima.

Com base em mais de 5 mil denúncias recebidas pela plataforma SOS Golpe entre janeiro e maio de 2025, o estudo "Mapa de Fraudes em Compras Digitais no Brasil" — elaborado pela CloudWalk em parceria com a Silverguard e lançado há uma semana — revela o impacto econômico dessas práticas criminosas, que afetam consumidores, empresas e o ecossistema financeiro como um todo. Os dados mostram que os golpes em compras online representaram quase metade de todas as fraudes denunciadas no período. 

Em seguida, aparecem o "golpe da loja ou empresa clonada", com 8,5% dos registros e perda média de R$ 520, e o "golpe do vendedor de itens usados", que apresenta prejuízo médio mais elevado: R$ 1.810. A modalidade com maior valor médio de perda é o "golpe do vendedor intermediário", que chega a R$ 3.780 por vítima.

Entre os estados mais afetados, o Distrito Federal lidera o ranking, seguido por Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Já Rondônia, Tocantins e Mato Grosso concentram as maiores perdas médias, ultrapassando R$ 2.000 por vítima. No universo digital, o WhatsApp aparece como canal envolvido em 54% dos golpes, reforçando o papel das redes sociais na disseminação dessas fraudes.

O "golpe da loja desconhecida" costuma ser divulgado por meio de anúncios atrativos nas redes sociais. A vítima acessa o site de uma loja virtual aparentemente confiável, realiza a compra, mas nunca recebe a confirmação ou o produto. A empresa desaparece da internet, deixando o consumidor no prejuízo.

Durante o 20° Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji, realizado em São Paulo, Marcia Netto, cofundadora e CEO da Silverguard, destacou que a maioria absoluta dos golpistas é brasileira: "Cerca de 98% das nossas denúncias são do Brasil!", afirmou.

Apesar disso, especialistas alertam para o risco crescente de internacionalização dos golpes digitais com o uso da inteligência artificial generativa, como o ChatGPT. Ferramentas de IA estão sendo utilizadas por criminosos para criar lojas falsas, produzir deepfakes e aplicar fraudes em larga escala. Por outro lado, essas mesmas tecnologias são empregadas por instituições financeiras para desenvolver algoritmos sofisticados de combate às fraudes.

O relatório também revela a profissionalização dos crimes digitais, com o uso de "CNPJs de laranjas" — empresas de fachada criadas para encobrir a origem dos golpes e aumentar sua credibilidade. Em apenas um ano, a utilização de CNPJs falsos em fraudes online dobrou, passando de 34% para 67%.

Para Rafael Fernandes, promotor público e coordenador de planejamento institucional no Ministério Público de Minas Gerais, o cenário ainda é desafiador: "A taxa de elucidação desses casos ainda é baixa, a responsabilização penal também, embora tenhamos alguns casos bem-sucedidos", pontuou durante o evento da Abraji.

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