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Por que brasileiros largam tudo aqui e vão lutar na Guerra da Ucrânia

REPRODUÇÃO/GLOBO

Dois soldados em pé segurando a bandeira do Brasil

Dois soldados com a bandeira do Brasil; Brasileiros lutam na guerra entre Ucrânia e Rússia

Publicado em 21/7/2025 - 12h05

Promessa de altos salários e o desejo de retomar uma identidade militar têm levado brasileiros a largarem tudo para lutar na guerra entre Ucrânia e Rússia. Atraídos por anúncios em redes sociais com promessas de até R$ 26 mil por mês, esses combatentes estrangeiros se alistam por conta própria, mas enfrentam riscos altíssimos

Murilo Lopes Santos, de 26 anos, foi um desses brasileiros. Ex-militar do Exército Brasileiro, ele morreu em combate na linha de frente e havia sido recrutado por meio de campanhas digitais voltadas a estrangeiros. "Conte apenas para sua família, e para mais ninguém, onde está indo, com quem e por quê", dizia um dos anúncios exibido em reportagem do Fantástico, da TV Globo, no último domingo (20).

As publicações, muitas delas disseminadas no Instagram e em grupos fechados, prometiam salários de até US$ 5 mil por mês (cerca de R$ 26 mil). Na prática, o salário de combatente estrangeiro na Ucrânia é inferior a esse valor e há dificuldades para enviar dinheiro ao Brasil, já que os pagamentos são feitos em moeda local, a hryvnia ucraniana.

Santos estava há um ano e nove meses no país do Leste Europeu. Após dar baixa no Exército, não conseguiu se fixar no mercado de trabalho e viu no alistamento voluntário uma chance de reviver sua vocação. "Ele não se encontrava aqui. Desde que chegou lá, era uma pessoa realizada", contou Rosângela Santos, mãe do jovem.

Embora venham de regiões diferentes do Brasil, os combatentes compartilham trajetórias semelhantes: jovens, ex-militares ou entusiastas da vida armada, sem estabilidade profissional. Alguns voltaram vivos. Outros seguem desaparecidos. E muitos perderam a vida.

É o caso de Rafael Paixão, que ficou gravemente ferido após pisar em uma mina terrestre. Ele perdeu parte da perna esquerda e passou por cinco cirurgias. "O plano agora é, primeiramente, me recuperar. Depois colocar a prótese e procurar a minha família. Eu tive muita sorte de estar vivo e contando essa história hoje", relatou.

Outras famílias vivem um drama ainda mais profundo: o desaparecimento. Gabriel Lopacinski e Antônio Júnior sumiram na linha de frente, e, até hoje, não há informações concretas sobre seus paradeiros. A paranaense Alieteia Cornelo, mãe de Gabriel, e Thaynah Gomes, esposa de Antônio e residente na Espanha, dividem a mesma angústia.

"Eles não pensam no depois, em tudo o que essa decisão acarreta", lamenta Alieteia. "Cinco mil dólares valem a sua vida? Não. Porque o prejudicado não é só quem vai, é toda a família ao redor", afirma Thaynah, que ainda guarda esperança de reencontrar o marido.

Segundo o Itamaraty, nove brasileiros já morreram e 16 seguem desaparecidos desde o início da guerra. Em nota ao Fantástico, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que está disponível para prestar assistência consular a cidadãos localizados na Ucrânia e na Rússia, mas ressaltou que precisa ser acionado pelo próprio interessado ou por familiares.

Já a embaixada da Ucrânia no Brasil informou que apenas o Estado-Maior das Forças Armadas da Ucrânia tem autorização para divulgar números oficiais de combatentes estrangeiros. Sobre os desaparecidos, a diplomacia ucraniana admitiu que eles podem ter morrido, com corpos ainda não resgatados, ou estarem em cativeiro russo.

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