E AGORA?
Uso de IA para criar currículos cresce, mas excesso de padrões prontos levanta alerta entre recrutadores; autenticidade vira diferencial.
GABRIELLE HENDERSON/UNSPLASH
Recrutadoras avaliam currículos; uso de inteligência artificial vira nova dor de cabeça
Publicado em 1/8/2025 - 6h00
Ferramentas como o ChatGPT têm sido cada vez mais utilizadas por candidatos na hora de preparar currículos e se preparar para entrevistas de emprego. No entanto, o "currículo perfeito" criado com inteligência artificial (IA) começa a se tornar uma dor de cabeça para recrutadores e empresas.
"Abrimos duas vagas para o nosso time de SDRs, e algo que me impactou bastante foi perceber que a maioria dos candidatos enviou currículos com exatamente a mesma estrutura, com padrões nitidamente gerados por inteligência artificial. Na minha opinião, isso mina a percepção de autenticidade", afirma Louise Borges, gerente de marketing da MXM Sistemas.
Nos Estados Unidos, 46% dos profissionais já recorreram à IA para escrever ou revisar o currículo, segundo pesquisa da ResumeBuilder. Para 70% deles, isso aumentou o retorno de recrutadores, um dado que reforça a eficácia do uso da tecnologia no processo de busca por emprego.
No Brasil, no entanto, recrutadores começaram a identificar padrões repetitivos, frases prontas e discursos genéricos entre candidatos, sinais que levantam dúvidas sobre a autenticidade das experiências apresentadas. "No fim das contas, não é o ChatGPT que vai ser contratado, é o humano, que precisa ressaltar seu valor agregado e diferencial", afirma Maria Eduarda Silveira, headhunter e fundadora da BOLD HRO.
A especialista destaca que a IA pode ser uma aliada poderosa no processo seletivo, especialmente na preparação para entrevistas, revisão de textos e organização de ideias. O problema surge quando o candidato se apoia demais na tecnologia e utiliza respostas prontas, sem reflexão crítica ou personalização.
O uso passivo e automático da inteligência artificial pode comprometer o raciocínio, especialmente entre os mais jovens", alerta Maria Eduarda.
Segundo as especialistas, currículos personalizados, com linguagem verdadeira e experiências consistentes, têm muito mais chances de se destacar no mercado. Frases genéricas, inconsistências no discurso e a falta de domínio sobre as próprias conquistas são indícios de que o candidato não tem total propriedade sobre o que está dizendo.
Para os recrutadores, o problema não está na inteligência artificial no mercado de trabalho, mas no uso inconsciente e excessivo da tecnologia. "A IA pode (e deve) ser aliada, mas jamais substituta do intelecto humano treinado, sensível e estratégico", comenta Maria Eduarda.
Segundo ela, a dependência exagerada da tecnologia, principalmente em cargos estratégicos, pode comprometer habilidades-chave como pensamento crítico, curiosidade e capacidade analítica — cada vez mais valorizadas pelas empresas.
A recomendação é clara: use a IA como apoio. Recorra à tecnologia para revisar currículos, organizar seu storytelling e simular respostas. Mas na hora de se apresentar, seja no papel, seja presencialmente, seja autêntico, verdadeiro e estratégico. No final das contas, é essa autenticidade que transforma um bom candidato em um profissional memorável.