CHOQUE CULTURAL
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Jovens em escada; geração Z apresenta novos comportamentos e exige mudanças nas empresas
Publicado em 17/6/2025 - 7h00
A geração Z chacoalha cada vez mais o mercado de trabalho – e, segundo o pesquisador Dado Schneider, isso não é nenhuma surpresa. O especialista acredita que o impacto dos jovens do séc. XXI é semelhante ao que os hippies provocaram na sociedade há cinco décadas.
"Eu vivi o final da era hippie e posso garantir: o choque cultural é o mesmo. A geração Z está fazendo com o mundo corporativo o que os hippies fizeram com os costumes sociais nos anos 70", afirma o doutor em Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) em entrevista ao Hub do 30-.
Segundo o especialista, o principal erro das empresas é esperar que a Geração Z siga os mesmos padrões de carreira, comprometimento e hierarquia que moldaram os profissionais de décadas anteriores. "Tem gestor com 45 anos que quer comandar o jovem de hoje como foi comandado quando tinha 25. Só que o mundo mudou, o jovem mudou e o trabalho mudou", diz.
Schneider acredita que os sinais de que isso aconteceria eram visíveis há mais de dez anos, mas foram ignorados. "Eu dizia lá atrás que eles não iriam respeitar as lideranças do jeito tradicional, que eles não fariam carreira longa nas empresas e que priorizariam a qualidade de vida. Na época, riram de mim. Agora, parece que virei vidente", brinca.
Entre os comportamentos mais marcantes da geração Z no mercado de trabalho, o pesquisador destaca a busca por equilíbrio entre vida pessoal e profissional, o questionamento da autoridade e a rejeição a modelos hierárquicos rígidos.
Essa geração cresceu vendo os pais estressados, sempre reclamando de falta de tempo. Eles decidiram que não vão repetir esse modelo. Não querem virar o gerente que trabalha 70 horas por semana", afirma.
Outro fenômeno é o aumento da rotatividade. Muitos jovens aceitam empregos apenas para juntar dinheiro e realizar projetos pessoais. "Eles entram, juntam uma grana e saem. Seja para viajar, fazer um curso ou abrir um negócio próprio. Para eles, o emprego é um meio, não um fim", explica.
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Dado Schneider, doutor em Comunicação
Assim como os hippies dos anos 70 quebraram padrões com o "amor livre" e a contracultura, a geração Z traz novos códigos de comportamento, linguagem e estética para o mundo corporativo. "Na minha época, o choque era o cabelo comprido e as roupas coloridas. Hoje, são os cabelos roxos, as gírias digitais e a forma como eles se posicionam sobre gênero, propósito e saúde mental. O impacto é o mesmo: uma geração dizendo que o mundo precisa mudar", compara.
Schneider também aponta que, se os hippies tivessem redes sociais na década de 70, o efeito teria sido tão viral quanto os movimentos que a Geração Z protagoniza hoje. "Eles têm uma capacidade de conexão e mobilização que nenhuma geração anterior teve", afirma.
Para o especialista, o desafio agora está nas mãos das lideranças. "O maior problema é que as empresas continuam operando com a cabeça do século 20, enquanto a Geração Z já nasceu no século 21", diz.
Segundo ele, é preciso reformular processos, culturas e até os modelos de liderança para lidar com um público que valoriza flexibilidade, autonomia e propósito real – não apenas no discurso. "Eles não vão mudar. Quem precisa mudar são as empresas", conclui.
*As opiniões do colunista não refletem, necessariamente, o posicionamento do Economia Real.
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