BIOMETRIA NOS ESTÁDIOS

Sua entrada no estádio agora depende do reconhecimento facial; entenda

DIVULGAÇÃO/PALMEIRAS

Palmeiras é o principal cliente da Bepass

Palmeiras é o principal cliente da Bepass; Allianz Parque já se adequou a nova regra federal

Publicado em 22/6/2025 - 13h00

Os estádios de futebol com capacidade superior a 20 mil pessoas agora são obrigados a implementar o reconhecimento facial, conforme determina a nova Lei Geral do Esporte. A medida, que representa um avanço tecnológico no combate à violência nos eventos esportivos, também levanta debates sobre custos de implementação e privacidade de dados dos torcedores.

"No ano passado, fizemos uma pesquisa e a média de aprovação foi de 98%. É praticamente unanimidade entre os torcedores, porque traz inúmeros benefícios. Temos a segurança de que ao nosso lado não estará alguém procurado pela polícia. Nosso sistema cruza dados com o Ministério da Justiça para identificar pessoas com mandados de prisão ou descumprimento de sentença", explica Ricardo Cadar, fundador da Bepass, empresa parceira de grandes arenas no Brasil, ao Economia Real.

A obrigatoriedade da biometria facial nos estádios brasileiros foi oficializada por meio de uma portaria do Ministério da Justiça e Segurança Pública, com base no artigo 148 da Lei Geral do Esporte. O principal objetivo é reduzir os casos de brigas, identificar foragidos e controlar o acesso de torcedores punidos. Os clubes e administradores de estádios têm até 31 de dezembro para se adequar.

Em Brasília, a Arena BRB Mané Garrincha, o segundo maior estádio do Brasil, já implementou a tecnologia de forma parcial. Segundo a administração, o reconhecimento facial já funciona em alguns setores e passará a cobrir toda a arena até a Copa do Mundo de Futebol Feminino, marcada para 2027.

"Alguns estádios podem não conseguir se adequar a tempo. E, sinceramente, não sei o que vai acontecer nesses casos. Como é uma lei federal, imagino que o Ministério Público Federal será o responsável pela fiscalização. O estádio que não cumprir pode ter o público limitado a 20 mil pessoas ou até ser impedido de receber jogos", alerta Cadar.

Para a reportagem, o especialista elenca as três principais vantagens do reconhecimento facial nos estádios. São elas:

  • Velocidade na entrada: O acesso ao estádio fica muito mais rápido. Não é necessário apresentar documento, QR code ou qualquer outro tipo de comprovação física. Basta mostrar o rosto para o sistema de reconhecimento facial liberar a catraca.
  • Fim do cambismo: Como o ingresso fica vinculado ao rosto do comprador, não há como revender ou repassar o bilhete. O sistema identifica se a pessoa na entrada é realmente a titular do ingresso, eliminando o mercado paralelo de ingressos.
  • Eliminação de ingressos falsos: O reconhecimento facial impede fraudes como o uso de prints ou cópias de ingressos. Antes, golpistas vendiam o mesmo ingresso para várias pessoas. Agora, somente o comprador autenticado consegue entrar.

A inspiração veio de países como Inglaterra, Itália e Espanha, onde o reconhecimento facial já ajudou a reduzir significativamente a violência em jogos considerados de alto risco.

Custos e viabilidade

Apesar do apoio da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o custo para implementação preocupa. A CBF já solicitou ao Governo Federal linhas de crédito específicas para auxiliar clubes da Série B e Série C. "Em média, o investimento mínimo por estádio é de R$ 1,5 milhão", detalha o fundador da Bepass.

Além do custo, entidades como o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e a Coalizão Direitos na Rede alertam para os riscos à privacidade.

O risco é que uma tecnologia criada para segurança vire ferramenta de vigilância em massa. É fundamental que haja transparência sobre quem acessa os dados e por quanto tempo essas informações serão armazenadas", afirma Mariana Valente, diretora do InternetLab.

Ricardo 'Bola' Santos, presidente da Associação Nacional das Torcidas Organizadas (Anatorg), reforça a preocupação: "Sabemos que há problemas de violência, mas a solução precisa respeitar o torcedor. Não podemos permitir a criminalização generalizada das torcidas."

O Governo Federal prometeu publicar um manual técnico com as especificações mínimas para os sistemas de reconhecimento facial e as diretrizes para o tratamento de dados biométricos. Enquanto isso, clubes e administradores de estádios buscam equilibrar segurança, privacidade e viabilidade financeira na corrida contra o prazo.

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