SÓCRATES AO GPT

Professor ou algoritmo? O novo duelo pelo futuro da educação

ILUSTRAÇÃO/CHATGPT

Ilustração com Sócrates e robô em alusão a inteligência artificial juntos em sala de aula

Ilustração com Sócrates e robô em alusão a inteligência artificial juntos em sala de aula

Publicado em 6/8/2025 - 9h00

A educação nem sempre foi institucionalizada. Na Grécia Antiga, aprender era um ato de convivência, escuta e provocação. Sócrates não usava lousa nem apostilas — usava perguntas. Caminhava pelas ruas de Atenas instigando jovens a refletir sobre ética, justiça e existência. Platão, seu discípulo, transformou esses diálogos em escritos e fundou o que muitos consideram a primeira academia formal da história. Nascia ali a semente do pensamento ocidental e da educação como instrumento de transformação.

Com o tempo, o modelo oral deu lugar a estruturas mais rígidas: universidades medievais, escolas iluministas, sistemas com currículos fixos e avaliação padronizada. A pedagogia, ciência voltada ao ensino de crianças e jovens, passou a ditar os rumos da educação escolar. Era funcional, mas limitava a diversidade de ritmos e contextos de aprendizagem.

Com a industrialização, o ensino foi massificado. Salas cheias, métodos uniformes, foco na repetição. O aluno passou a ser tratado como recipiente, e o professor, como transmissor de conteúdo. O sistema funcionava, mas engessava. A criatividade perdeu espaço para a obediência. A autonomia cedeu lugar à padronização.

Até que surgiu a andragogia, o estudo da educação de adultos. Com ela, veio uma nova lógica: adultos aprendem com propósito. Trazem vivências, querem resolver problemas reais e exigem aplicabilidade imediata. Isso não representava apenas uma mudança de público, mas de mentalidade: ensinar deixou de ser transferir conhecimento e passou a ser construir sentido junto com quem aprende.

Durante muito tempo, esse modelo permaneceu restrito a treinamentos corporativos e EADs. Mas agora ele protagoniza uma transformação global. A era digital trouxe ferramentas novas, mas por muito tempo a lógica tradicional resistiu.

Até que veio a ruptura: a popularização dos smartphones, o acesso constante à informação e as plataformas sob demanda mudaram a forma como aprendemos. O aluno saiu da posição de receptor e assumiu o protagonismo no processo de aprendizagem.

E, com isso, surgiu uma nova figura no cenário educacional: a inteligência artificial. Hoje, a IA na educação é capaz de identificar lacunas de aprendizagem, sugerir trilhas personalizadas e corrigir atividades com base em dados. Permite que o aprendizado aconteça no ritmo do aluno, no horário que ele escolher, com foco no que realmente precisa. Algo que nenhum modelo tradicional conseguiu escalar com sucesso.

Mas o papel do professor não desaparece. Ele se transforma. Assim como Sócrates era mais guia do que instrutor, o educador contemporâneo se torna mentor, curador, provocador intelectual. Ainda insubstituível, agora conta com um assistente que nunca dorme: um algoritmo treinado para apoiar, acompanhar e sugerir caminhos. É o surgimento dos professores digitais sob demanda.

O propósito da educação sempre foi o mesmo: ajudar o ser humano a entender melhor o mundo — e a si mesmo. As ferramentas mudam. A missão, não. Da ágora grega aos modelos baseados em IA, o que atravessa toda essa história é a busca por autonomia, clareza, criticidade e transformação.

A inteligência artificial aplicada à educação nos conduz a uma nova era. E isso não diz respeito apenas à eficiência. Diz respeito ao respeito à individualidade. Trata-se de ampliar acesso, reduzir desigualdades, oferecer ensino personalizado em larga escala. Aquilo que, por décadas, representou o maior desafio da educação, dar atenção individual sem perder escala, finalmente começa a se concretizar.

Eu, que acompanho a evolução tecnológica há anos, sempre enxerguei esse ponto como um divisor de águas: personalização com estrutura, autonomia com intencionalidade. O que antes era privilégio de poucos, agora pode ser desenhado para muitos.

Seja você educador, gestor, empreendedor ou apenas alguém curioso sobre o futuro: o novo ciclo já começou. As experiências educacionais estão mudando. A forma como aprendemos, e ensinamos, nunca mais será a mesma.

E a pergunta que fica é: Você vai continuar explicando as coisas como em 1950… ou vai começar a formar pessoas como se já estivéssemos em 2030?


*As opiniões do colunista não refletem, necessariamente, o posicionamento do Economia Real.

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