OPINIÃO
REPRODUÇÃO/META
Mark Zuckerberg, CEO da Meta, ficou atrapalhado com as falhas do óculos Meta Ray-Bans Display
Publicado em 24/9/2025 - 11h00
A corrida pelos óculos inteligentes ainda enfrenta obstáculos de usabilidade, preço e aceitação social. Se o Google Glass fracassou ao tentar ser futurista demais sem oferecer praticidade, a Meta aposta em parcerias com Ray-Ban e Oakley para unir tecnologia e estilo. Mas falhas em demonstrações públicas e o preço premium de US$ 799 levantam dúvidas sobre a maturidade desses dispositivos e reforçam uma lição importante: inovação só se sustenta quando entrega valor real ao usuário.
Em 2013, o Google Glass parecia abrir caminho para uma revolução. A ideia de transformar os óculos em interface digital parecia promissora, mas o projeto foi descontinuado rapidamente. O motivo não estava apenas no hardware limitado, mas também na rejeição social causada por questões de privacidade e pelo design pouco atraente. A experiência não entregava conveniência, mas desconforto.
A Meta tenta corrigir esse histórico com lançamentos como o Ray-Ban Meta Display e o Oakley Meta Vanguard. Além do apelo estético, os modelos oferecem display interno de alta resolução, tradução em tempo real, integração com inteligência artificial, comandos de voz e gestos para atividades cotidianas. A proposta é ambiciosa: fazer dos óculos um substituto funcional do celular em algumas tarefas.
No entanto, os primeiros testes mostraram fragilidades. Em uma demonstração culinária, o dispositivo errou a sequência de uma receita. Em outra situação, o gesto de atender chamadas falhou porque o equipamento estava em modo de descanso. Esses detalhes, aparentemente pequenos, derrubam a confiança no produto, especialmente quando ele se apresenta como "o futuro".
Além disso, o preço elevado coloca a Meta em um dilema. Com valor de US$ 799, o consumidor não compra apenas inovação, mas espera consistência e confiabilidade. Glitches, falhas de bateria e desconexões minam essa expectativa. Para conquistar o público, os óculos precisam ser leves, confortáveis, elegantes e, sobretudo, entregar experiência fluida.
Outro desafio é a usabilidade social. Assim como aconteceu com o Google Glass, o desconforto com a privacidade pode limitar a adoção. A Meta aposta em design mais discreto e indicadores visíveis de uso, mas a aceitação só será validada em larga escala.
No fim, o sucesso dos óculos inteligentes não depende apenas de recursos tecnológicos avançados, mas da capacidade de resolver problemas reais no cotidiano. Traduzir uma conversa em tempo real ou capturar momentos sem tirar o celular do bolso são exemplos de valor percebido. Para isso, é essencial que o software seja estável, a bateria confiável e as funções bem integradas.
A experiência do usuário é o campo de batalha definitivo. Marketing e hype criam expectativas, mas o que define a adoção em massa é a percepção de conveniência sem atritos. Prometer o futuro não basta: é preciso provar que a tecnologia melhora a vida no presente.
Para pequenas e médias empresas, bem como startups que sonham em inovar, fica a lição: inovação não é apenas lançar tecnologia nova, mas garantir que ela seja usável, desejável e culturalmente aceita. O caso dos óculos inteligentes mostra que estilo, experiência e validação em cenários reais são tão importantes quanto os recursos técnicos.
*As opiniões do colunista não refletem, necessariamente, o posicionamento do Economia Real.
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