REFORMA TRIBUTÁRIA
ILUSTRAÇÃO/CHATGPT
Ilustração criada por IA mostra empresário analisando planilhas e preocupado com impostos
Publicado em 17/7/2025 - 6h00
A Reforma Tributária ainda não entrou em vigor, mas já impõe uma pergunta urgente a todos os empreendedores: se sua empresa passasse a receber apenas o valor líquido das vendas, sem o imposto no caixa, você conseguiria fechar as contas do mês? Apesar de o tema ainda estar em fase de regulamentação e testes, já é possível desenhar cenários e criar estratégias para garantir a sustentabilidade dos negócios.
"Muita empresa sobrevive hoje porque consegue girar esse dinheiro do imposto no mês. Sem ele, vai ter que recorrer a crédito, buscar linha em banco, rever estratégia. Não é exagero: isso pode tirar muita gente do mercado se não houver planejamento", alerta Plínio Reis, sócio-fundador da Bart Gestão Tributária, ao Economia Real.
Essa mudança no pagamento dos tributos será possível graças ao split payment, termo em inglês que significa "pagamento dividido". Na nova lógica da Reforma Tributária, o valor dos impostos será automaticamente separado no momento da venda (seja no Pix, cartão ou boleto) e repassado diretamente ao governo. A empresa não terá mais acesso temporário a esse montante, o que afeta diretamente sua liquidez e fluxo de caixa no curto prazo.
"Hoje, a empresa vende por R$ 1 mil e tem R$ 300 de impostos. Só que ela recebe R$ 1 mil no caixa e só vai pagar o tributo no mês seguinte. Com isso, usa esse dinheiro para pagar fornecedor, salário, aluguel. Mas com o split payment, ela só vai receber R$ 700 e os R$ 300 vão direto para o governo", explica o especialista em planejamento fiscal para empresas.
Na prática, isso representa uma mudança radical no fluxo de caixa, especialmente para setores como varejo e e-commerce, que são extremamente sensíveis ao capital de giro. A gestão financeira, que hoje se apoia no fôlego de ter o imposto "temporariamente" em mãos, será completamente reconfigurada.
Marcos Hübner Flores, auditor-fiscal da Receita Federal e coordenador da Reforma Tributária no órgão, explica que essa ferramenta de pagamento automático de tributos só entra em vigor em 2027 — e, ainda assim, será opcional e restrita às transações entre empresas (B2B).
Enquanto muitos empresários aguardam a regulamentação definitiva para agir, outros já reavaliam estratégias e desenham cenários nas planilhas. De acordo com Reis, esse movimento antecipado define quem sairá na frente.
"Se você deixar para pensar nisso no meio da reforma, quando a concorrência já tiver se adaptado, vai ser tarde. O planejamento precisa começar agora, com ou sem texto definitivo", reforça.
DIVULGAÇÃO E REPRODUÇÃO/YOUTUBE
Plínio Reis e Marcos Hübner Flores
Apesar de a Reforma ainda estar em fase de regulamentação, há sim formas práticas de se antecipar. Segundo o sócio-fundador da Bart, os empresários devem seguir duas frentes desde já:
Pegue o valor do seu faturamento atual e retire a alíquota de imposto (que pode variar entre 10% e 40%, dependendo do setor). Depois, pergunte-se: com o que sobra, consigo pagar salários, fornecedores, aluguel e demais despesas?
"Se a resposta for 'não', ou mesmo um 'não sei', é hora de se preocupar. Porque quando a chave virar, o imposto não vai mais passar pelo seu caixa. E você pode ter que recorrer a banco ou outro recurso financeiro para manter a operação rodando", alerta o tributarista.
Além do impacto no caixa, muitas empresas enfrentarão aumento da carga tributária. Isso significa que, para manter a mesma margem, o produto pode ter que subir de preço — o que nem sempre é viável, especialmente em setores com alta concorrência online.
"No e-commerce, qualquer reajuste pode derrubar as vendas. Se o celular que hoje custa R$ 1 mil for impactado por um aumento de imposto de R$ 300 para R$ 400, o empresário precisa decidir: absorve isso na margem ou sobe para R$ 1,1 mil e arrisca perder vendas?", questiona Reis.
Por isso, fazer simulações de precificação com base nas novas alíquotas esperadas é essencial. A empresa precisa entender se terá espaço para repassar esse custo ao cliente ou se terá que reestruturar sua operação para manter a competitividade.
Este conteúdo integra a série especial do Economia Real sobre a Reforma Tributária. Publicamos novos textos às terças e quintas, com análises práticas para quem quer se preparar desde já para as mudanças no sistema tributário brasileiro.
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