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Como as novas tarifas de Trump impactam as empresas brasileiras?

REPRODUÇÃO/DISCOVERY

Imagem de Donald Trump no documentário Unprecedented

Donald Trump; entenda como a tarifa de 50% sobre exportações brasileiras impacta empresas

Publicado em 10/7/2025 - 11h18
Atualizado em 10/7/2025 - 12h25

A taxação de 50% sobre produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, anunciada pelo presidente norte-americano Donald Trump, movimenta as negociações dos empresários nesta quinta (10). Neste cenário, especialistas ouvidos pelo Economia Real reforçam que os empreendedores brasileiros precisam se reinventar para não perder vendas nem prejudicar o faturamento da companhia nas próximas semanas.

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"As empresas brasileiras que exportam para os Estados Unidos precisarão se reinventar", afirma Daniel Cassetari, CEO da HKTC e especialista em comércio exterior. Segundo o executivo, o impacto do "tarifaço" pode ser absorvido pelo importador norte-americano ou repassado ao consumidor final, mas, em alguns casos, a margem para repasse é limitada.

"Se estivermos falando, por exemplo, de medicamentos produzidos no Brasil, o cenário é mais delicado. Esses produtos tendem a ficar mais caros, e deixar de exportar pode não ser uma opção viável. O consumidor norte-americano poderá pagar até 50% a mais pelo mesmo item", alerta.

Já em produtos considerados menos essenciais, como frutas ou alimentos com ampla oferta global, o risco é maior para o Brasil. "Nesses casos, o fator qualidade cede espaço ao fator preço. O consumidor dos EUA tende a buscar alternativas mais baratas, e isso pode fazer com que o Brasil perca mercado", explica.

A mesma preocupação é compartilhada por Stefânia Ladeira, líder das unidades de Operação de Comércio Exterior e Novas Soluções da Saygo Comex. "No caso, as empresas que já têm exportações acontecendo, precisam só garantir que elas estejam programadas para chegar antes do dia 1º de agosto. Porque, após o dia 1º, a carga pode sofrer as tarifas e, dependendo da forma como foi negociada, podem ficar como prejuízo para a empresa".

"Quem tem produtos em trânsito ou que estão chegando nos Estados Unidos precisa verificar exatamente como está o status dessas embarcações. Nesse momento, a recomendação inicial é calma, mas principalmente conversar bastante com os seus compradores americanos, para entender também qual é o posicionamento deles em relação a isso e como estão prevendo os próximos pedidos", complementa a executiva.

Entenda como o tarifaço afeta os contratos e os preços de exportação

Na carta enviada ao governo brasileiro na quarta (9), Trump informou que as tarifas serão cobradas a partir de 1º de agosto diretamente nos Estados Unidos, ou seja, o exportador brasileiro não arca com esse custo tributário de forma direta.

Quem paga é o importador norte-americano. Ele é quem decide se repassa ou não o valor ao consumidor final. O exportador brasileiro não paga tributo sobre a exportação em si", explica Cassetari.

Ainda assim, os reflexos recaem sobre o Brasil, especialmente em contratos que já foram firmados. "Os seus produtos para o cliente final nos Estados Unidos vão ficar mais caros, porque as tarifas são uma sobretaxa de impostos", diz Stefânia.

"Hoje, quando você faz a sua precificação de exportação, você vai colocar até onde está a sua responsabilidade. Há algumas formas de responsabilidade que também envolvem os impostos, como é o caso do DDP. Então, se você vende DDP e já estimou os impostos desconsiderando a tarifa, você precisa validar e verificar todas as negociações que você fez", reforça.

Em termos de vendas internacionais, dois conceitos são fundamentais para a gestão de contratos: DDP (Delivered Duty Paid) e DDU (Delivered Duty Unpaid). No modelo DDP, o vendedor cobre todos os custos da operação, incluindo impostos e taxas alfandegárias, até a entrega no destino final.

Já no DDU, o comprador é quem assume esses encargos adicionais ao receber a mercadoria em seu país. A escolha entre esses modelos impacta diretamente o planejamento financeiro do exportador, especialmente em momentos de instabilidade tributária como o atual.

Stefânia recomenda atenção especial a operações futuras: "Caso contrário, todas as novas operações que você for cotar, você precisa considerar a questão das tarifas com o que a gente tem hoje, para exatamente evitar que você fique com algum tipo de prejuízo nesse sentido. Mas lembrando: as tarifas são americanas, quem tem que pagar no final são as empresas americanas, mas ela tem que fazer parte da sua precificação, se você vende ela como, por exemplo, DDP".

O que fazer para reduzir riscos e proteger as exportações

Para Cassetari, a melhor maneira de se proteger contra riscos no comércio exterior é apostar na diversificação de mercados internacionais. Isso significa ir além dos principais parceiros comerciais e explorar novas regiões com potencial de consumo.

"Exportar para Itália, Espanha e Portugal pode parecer diversificado, mas todos pertencem à União Europeia. Se o bloco enfrentar uma crise, os três mercados serão impactados simultaneamente", explica.

"O ideal é atuar em blocos econômicos distintos: países africanos, asiáticos, regiões da América do Sul fora do Mercosul, e também outros mercados da Europa. Isso cria uma malha robusta de destinos", complementa.

Stefânia reforça a importância de uma análise mais profunda da operação: "Primeiro ponto agora, e o mais importante caso você não tenha, é fazer uma verificação dos seus produtos. Quem exporta isso para os Estados Unidos? Quais as outras tarifas que foram aplicadas para esses países? O preço médio? E também conversar com o seu comprador".

Mesmo com tarifas elevadas, ela lembra que muitos produtos ainda têm valor estratégico para os compradores norte-americanos. "Apesar das tarifas serem altas, os compradores americanos colocaram uma programação. Eles precisam desses produtos lá, talvez a empresa brasileira tenha passado por todo um processo de validação até chegar lá. Então essa mudança não é tão rápida, ela pode acontecer gradativamente".

Às vezes, a compra pode não ser finalizada por causa dos impostos. Porém, em outro cenário, o produto não vai conseguir ser comprado com a mesma qualidade de outro país. Assim, as empresas americanas repassarão esse aumento para os clientes finais", reforça.

Outro fator a ser analisado é a imprevisibilidade das tarifas norte-americanas. "Amanhã essa tarifa pode ser zerada ou subir para 60% ou mais. Isso depende do governo dos Estados Unidos, e não há controle sobre isso", reforça Cassetari. "Desde o início do ano, quando começaram os primeiros sinais, as empresas já deveriam ter se preparado. A leitura mais prudente é: não conte com o mercado americano agora", completa.

A especialista também orienta o empresário brasileiro a tomar as próximas decisões com base em dados: "Ele precisa ter muita consciência de quanto que exporta para os Estados Unidos, quanto que esse produto tem relevância lá. Essa conversa com os compradores é muito importante, esse relacionamento mais próximo. E, por fim, também começar a entender outras rotas. Esse produto, para onde mais eu posso exportar? Como posso escolher quais produtos vão para outros mercados, caso eu perca contratos e negociações?"

"Talvez possa ter a tarifa, talvez não tenha. Podemos ter retaliação ou não, o que faz com que o empresário fique alerta aos desdobramentos. Só que, ao mesmo tempo, o empresário já precisa tomar algumas decisões importantes, e ter dados e informação na mão auxilia bastante nesse momento", finaliza Stefânia.

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