JÚLIA LÁZARO

Ela viu o marido pagar imposto demais e criou um negócio para resolver isso

DIVULGAÇÃO/MITFOKUS

Imagem de Júlia Lázaro, CEO da Mitfokus Contabilidade Médica

Júlia Lázaro, CEO da Mitfokus Contabilidade Médica; administradora criou empresa após dor do marido

Publicado em 6/6/2025 - 6h30

Se até especialistas em impostos consideram o sistema brasileiro complexo, imagine os profissionais da saúde, como os médicos, que têm rendas elevadas, mas pouco conhecimento sobre planejamento tributário e investimentos. A administradora Júlia Lázaro identificou essa dor dentro da própria casa e, ao decifrar mais de 250 mil regras tributárias, criou um negócio que já atende mais de cinco mil médicos em todo o Brasil.

"Sou casada com um médico e, enquanto trabalhava em multinacional, via que a empresa tinha uma estrutura robusta para identificar oportunidades tributárias. Porém, quando conversava com meu marido ou outros médicos, eles não faziam a menor ideia do que era isso e acabavam pagando impostos demais", afirma Júlia, CEO da Mitfokus Contabilidade Médica, em entrevista ao Economia Real.

Foi assim que ela deixou o emprego com carteira assinada para fundar uma consultoria especializada em planejamento tributário para médicos. "Eles têm tanta aversão ao Fisco que dizem: 'Prefiro pagar mais só para não ter problemas'", relata.

"Começamos como uma consultoria de planejamento tributário, o que permitia com que esses profissionais tivessem uma redução de até 70% dos impostos em conformidade com a lei. Porém, os médicos ficavam inseguros, pois geralmente são atendidos por contadores generalistas que não conheciam os benefícios do setor da saúde. Expandimos nossa atuação para uma empresa de tecnologia e desenvolvemos uma plataforma que centraliza e simplifica a contabilidade", complementa.

A startup conta com assinaturas mensais a partir de R$ 249 e disponibiliza serviços como abertura de empresas (geralmente, um médico precisa abrir um CNPJ para ter a própria clínica ou realizar um plantão em um grande hospital), emissão de notas fiscais, planejamento tributário, livro caixa, entre outros.

Contudo, com a expansão nacional, veio um novo desafio: cada cidade tem uma regra tributária diferente. Logo, o planejamento feito para um médico em São Paulo (SP) não pode ser igual ao de um profissional de Campinas (SP).

"Hoje temos em torno de 450 municípios homologados no sistema, e cada cidade tem regras personalizadas. Assim, tivemos que criar mais de 250 mil regras de negócio para conseguir emitir notas fiscais em todas essas localidades", afirma.

Questionada pela reportagem, a empresária não revela os números de faturamento da empresa, mas reforça que a companhia tem clientes em todo o país.

Mais mudanças com a Reforma Tributária

A Reforma Tributária, aprovada pelo Congresso em 2023 e com implementação prevista a partir de 2026, tem como objetivo simplificar a cobrança de impostos no país. Ela substituirá tributos como PIS, Cofins, ICMS e ISS por um modelo de IVA Dual, composto pelo IBS (estadual e municipal) e a CBS (federal). Embora a proposta traga avanços, ela também gera incertezas.

"Hoje, uma empresa paga entre 10% e 15% de impostos sobre o faturamento. Quem não faz planejamento tributário pode chegar a 20%", afirma Júlia. Com a Reforma, a alíquota média será de 28%, mas o setor de saúde terá uma redução de 60% sobre essa média — o que resulta, na prática, em uma alíquota efetiva de cerca de 11%, segundo especialistas.

"Mesmo assim, pode haver um acréscimo de até 4 pontos percentuais em relação ao que os médicos pagam hoje. Isso exige atenção redobrada e planejamento eficiente para evitar prejuízos", alerta.

Outro ponto crítico, segundo a CEO, é a escolha dos fornecedores. Com o novo modelo de cobrança, os impostos pagos ao longo da cadeia de produção poderão ser compensados, desde que o fornecedor esteja no regime adequado.

"Se o fornecedor for optante do Simples Nacional, ele não vai gerar créditos tributários. Por isso, pode ser mais vantajoso escolher fornecedores no Lucro Presumido ou no Lucro Real, que permitem o abatimento dos impostos", comenta.

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