NEUROCIÊNCIA
KATRIN BOLOVTSOVA/PEXELS
Ideias ao redor do cérebro; especialista mostra como dopamina afeta relações com dinheiro
Publicado em 27/5/2025 - 9h45
Você já se pegou comprando algo só porque estava de mau humor? Tipo: "vou comprar uma airfryer roxa porque meu dia foi um lixo" ou investindo em criptomoedas só porque um influenciador aleatório no TikTok disse que "vai explodir"? Ou largou o celular para dormir, mas um minuto depois já estava rolando o feed — e, no dia seguinte, nem lembra o que comprou? Sinto em dizer, mas você está sendo manipulado... pelo seu próprio cérebro.
E, com tanta tecnologia nos cercando, tudo fica mais viciante. Ou melhor: há um excesso de dopamina no cérebro, o neurotransmissor do prazer. Bem-vindo à interseção entre neurociência e educação financeira.
Você sabia que um cérebro adulto tem cerca de 86 bilhões de neurônios? Quase o mesmo número de estrelas da Via Láctea. Tudo isso em uma estrutura que pesa apenas 1,5 kg. Mais impressionante ainda: as conexões neurais no cérebro somam cerca de 160 mil km — quase quatro voltas na Terra! Essas conexões ocorrem por meio das sinapses, com destaque para um protagonista: a dopamina.
A dopamina é um neurotransmissor associado à sensação de prazer, recompensa e motivação. Mas ela também pode ser o maior sabotador do nosso raciocínio financeiro. Quando liberada em excesso, passamos a priorizar emoções imediatas, deixando de lado o pensamento de longo prazo.
O resultado? Compras por impulso, investimentos baseados em hype, decisões financeiras irracionais. Ao ver um investimento que rendeu alto no passado, por exemplo, somos levados pela emoção, esquecendo que retorno passado não garante retorno futuro. Essa busca constante por prazer imediato pode transformar o mercado financeiro em um verdadeiro cassino.
E mais: pesquisas mostram que o vício em dopamina está mais ligado à expectativa do prazer do que ao prazer em si. É por isso que tanta gente aposta de novo mesmo após perder: o prazer está na sensação de "pode ser agora".
A dopamina, em excesso, aumenta nossa impulsividade. E o nosso cérebro — com sua neuroplasticidade, ou seja, capacidade de se adaptar — reforça os comportamentos que geram prazer. Criamos "atalhos" cerebrais para o prazer imediato, o que forma vícios. Isso explica desde o vício em apostas esportivas (bets) até os gastos recorrentes em compras desnecessárias.
No mercado financeiro, esse comportamento aparece no chamado FOMO (Fear of Missing Out), o medo de "perder a oportunidade". Compramos ações na alta, sem avaliar os fundamentos, só para "não ficar de fora". Isso aumenta o risco de comprar ativos no pico e perder dinheiro após uma correção.
Também existe o efeito manada: quando um risco (real ou imaginado) provoca uma onda de vendas. O medo coletivo leva os investidores a se desfazerem de ativos sem estratégia, o que pode derrubar a bolsa. Para frear esse pânico, a B3 aciona o circuit breaker — uma pausa técnica para conter o desespero.
Essa impulsividade também é alimentada pelas redes sociais e pelo marketing digital. Já percebeu que, ao clicar em uma peça de roupa, seu feed se enche de itens semelhantes? Isso é personalização algorítmica, que mantém nosso sistema de dopamina ativado.
O mesmo vale para ofertas relâmpago, descontos limitados e propagandas invasivas no WhatsApp, tudo pensado para estimular compras por impulso.
Se você se identifica, vale seguir algumas estratégias:
Se você já está no "modo dopamina em excesso", saiba que o reequilíbrio é possível, embora possa vir acompanhado de sintomas como tristeza, ansiedade, insônia e dificuldade de foco. Para ajudar nesse processo:
A dopamina não é uma vilã. Ela é essencial para motivação, bem-estar e produtividade. O desafio está em manter esse sistema sob controle, evitando que o cérebro transforme prazer imediato em decisões que sabotam o futuro financeiro.
Se os sintomas forem intensos ou persistentes, procure ajuda profissional. Psicoterapia e acompanhamento médico são importantes para quebrar ciclos de compulsão.
Equilibrar dopamina é mais do que neurociência, é inteligência emocional. E quando aplicamos isso ao nosso bolso, ganhamos não só mais clareza nas decisões, mas também mais paz para prosperar.
*As opiniões da colunista não refletem, necessariamente, o posicionamento do Economia Real.
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.