2ª REFORMA DA PREVIDÊNCIA
MONICA SILVESTRE/PEXELS
Idosos sentados em banco na praia; entenda como se preparar para ter uma aposentadoria tranquila
Publicado em 8/7/2025 - 10h00
Qual o valor do amanhã para você? Para quem é da geração X, 50+ como eu, o valor do amanhã, por muito tempo, simplesmente não existia. Com a hiperinflação que vivíamos, o futuro acabava no hoje mesmo – numa tarde de remarcação de preços. Esse passado dificultou o preparo financeiro de uma geração inteira para a velhice.
Um estudo da Serasa mostra que 60% dos brasileiros iniciam o planejamento financeiro da aposentadoria com apenas cinco anos de antecedência. O resultado? Chegam à aposentadoria sem poupança suficiente para manter o padrão de vida. Não à toa, 53% dos aposentados continuam trabalhando para complementar a renda. E mais: 60% já precisaram recorrer a empréstimos para pagar despesas básicas.
Para os mais jovens que não viveram essa era de hiperinflação, vale um breve resumo do que enfrentamos. Nas décadas de 1980 e início de 1990, vivíamos uma realidade quase cinematográfica. Assim que o salário caía na conta, era uma corrida aos supermercados para estocar o que fosse possível.
Lembro de passar pelo menos uma hora e meia na fila do caixa com meus pais. Cem reais viravam vinte ao fim do mês. A dívida externa herdada do regime militar explodiu. Em 1984, ela representava 54% do PIB, contra os 15,7% de 1964. A inflação entregue ao primeiro presidente civil chegou a 223% ao ano, saltando para 2.000% em quatro anos. Nos primeiros três meses do governo Collor, a inflação anualizada ultrapassou os 6.000%.
Quem podia, protegia o dinheiro na poupança. Mas a maioria da população sequer tinha acesso a bancos. Era dinheiro guardado debaixo do colchão – literalmente perdendo valor. Entre 1985 e 1994, passamos por cinco planos econômicos e diversas mudanças na moeda: cruzeiro, cruzado, cruzado novo, cruzeiro real... Até que em 1994, veio o Plano Real, trazendo estabilidade e uma nova possibilidade: planejar.
Infelizmente, a geração X e parte da geração Y cresceram num ambiente onde o futuro era incerto demais para ser planejado. Isso dificultou o aprendizado de gestão financeira, o controle de orçamento e a cultura de investimento de longo prazo. São essas gerações que agora começam a se aposentar – muitas sem reserva ou planejamento.
Aí entra a psicologia financeira. A hiperinflação foi, talvez, a maior desarticuladora da educação financeira no Brasil. As crenças formadas nesse cenário de caos ainda impactam gerações.
Por outro lado, as gerações Z e Alpha já crescem em um ambiente mais estável e com acesso a conteúdos gratuitos sobre finanças pessoais no YouTube, sites bancários e plataformas como a B3 Educação. Mas é um movimento recente.
Hoje, mais de um terço da população ainda acredita que poderá viver com o valor pago pelo INSS – sem sequer saber quanto é esse valor. Segundo o Datafolha, 25% não tem metas para o futuro nem faz qualquer planejamento financeiro, pois estão focados em lidar com dívidas do presente.
O seguro mais contratado? O funerário (29%). Apenas 9% da população possui plano de previdência privada. O Brasil precisa urgentemente de uma nova Reforma da Previdência – não apenas para aumentar a idade mínima de aposentadoria, mas para reestruturar todo o sistema.
O rombo previdenciário deve dobrar até 2060, segundo o governo, por causa do envelhecimento acelerado da população. A taxa de fecundidade caiu para 1,57 filho por mulher em 2023, e a expectativa de vida subiu para 76,4 anos.
Hoje, há 1,7 trabalhador formal contribuindo para cada beneficiário. Há dez anos, eram cinco. Esse desequilíbrio compromete a sustentabilidade do sistema previdenciário.
Em 12 meses até março, o déficit da Previdência somou R$ 311 bilhões. Incluindo servidores públicos e militares, o número salta para R$ 1,2 trilhão.
*As opiniões do colunista não refletem, necessariamente, o posicionamento do Economia Real.
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