COMPLICADO
JOEDSON ALVES/AGÊNCIA BRASIL
Pessoa faz contas com ajuda do celular; educação financeira faz falta na vida dos brasileiros
Publicado em 13/8/2025 - 8h00
Mais da metade dos brasileiros (55%) afirma entender pouco ou nada sobre educação financeira, segundo pesquisa da Febraban (Federação Brasileira de Bancos). Mesmo assim, 91% consideram o tema importante. O estudo também revelou que cerca de 4 em cada 10 entrevistados estão endividados, principalmente pelo mau uso do cartão de crédito — uma forma de empréstimo de fácil acesso, mas com os juros mais altos do mercado.
Atualmente, de acordo com a Serasa, 77 milhões de brasileiros possuem dívidas em atraso — o maior número desde 2016. Isso apesar de, desde julho de 2023, o Banco Central exigir que instituições financeiras ofereçam programas de educação financeira aos clientes. Se não fossem os mutirões de renegociação, o cenário seria ainda pior: nos últimos cinco anos, os bancos renegociaram 33 milhões de contratos, um recorde histórico.
Mas por que tantos ainda não têm acesso à educação financeira? Nos últimos quatro anos, 40 milhões de brasileiros entraram no sistema bancário, impulsionados pelo Pix, pelas contas abertas para receber o auxílio emergencial e pelo avanço das fintechs.
Essa inclusão trouxe benefícios, como maior controle sobre o dinheiro e acesso a investimentos, mas também expôs milhões a serviços bancários e de crédito sem conhecimento adequado sobre seu funcionamento. Resultado: mais uso de crédito caro e aumento da inadimplência.
Há ações para mudar essa realidade. Em julho, o Ministério da Educação lançou o programa Na Ponta do Lápis, voltado para alunos do ensino básico, especialmente beneficiários do Pé-de-Meia. O objetivo é ensinar sobre uso consciente do dinheiro, planejamento financeiro, impostos e tomada de decisões. A adesão de estados e municípios é opcional, mas aqueles que participarem receberão apoio técnico, recursos e capacitação para professores.
O Banco Central também criou, em 2020, o programa Aprender Valor, que leva educação financeira nas escolas de ensino fundamental, integrando o tema às disciplinas já existentes. Até agora, alcançou 24 mil escolas, em 58% dos municípios, mas o número ainda está distante das 122 mil escolas públicas da etapa. A meta é incluir o ensino médio a partir de 2026.
Outra iniciativa é o Meu Bolso em Dia, da Febraban em parceria com o Banco Central. A plataforma gratuita analisa a saúde financeira do usuário e, com uso de inteligência artificial, indica trilhas de aprendizado personalizadas. Mais de 250 mil pessoas — em sua maioria de baixa renda — já se cadastraram. Usuários frequentes por seis meses reduziram dívidas em atraso.
Para Amaury Oliva, diretor de Sustentabilidade e Educação Financeira da Febraban, o Brasil ainda enfrenta desafios estruturais: "Por muitos anos de inflação alta, desaprendemos a planejar o futuro. Há também o tabu de falar sobre dinheiro e o imediatismo de consumir antes de poupar. É preciso mudar essa lógica".
A solução, segundo ele, exige esforço conjunto entre governo, empresas e cidadãos: políticas públicas eficientes, programas de conscientização e prática diária da educação financeira dentro de casa.
*As opiniões do colunista não refletem, necessariamente, o posicionamento do Economia Real.
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