IMPACTO GERAL
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Mulheres conversam na frente de computador; debate sobre pejotização ganha novas frentes
Publicado em 16/4/2025 - 9h00
A decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de suspender todos os processos sobre a pejotização no Brasil impacta diretamente as relações de trabalho em inúmeras empresas. Ao longo dos próximos meses, a Corte debaterá se essa forma de contratação infringe ou não as regras trabalhistas em vigor.
A pejotização ocorre quando uma companhia contrata uma pessoa para uma função fixa e, em vez de assinar a Carteira de Trabalho, solicita que ela abra uma empresa (geralmente um MEI - Microempreendedor Individual) e emita notas fiscais recorrentes — substituindo, na prática, o salário mensal.
Desde a Reforma Trabalhista de 2017, quando foi autorizada a terceirização da atividade-fim das empresas, esse modelo de contrato PJ ganhou espaço em diversos setores da economia. A prática viabiliza novas formas de prestação de serviço, com mais flexibilidade de horários e entregas tanto para contratantes quanto para contratados.
Contudo, essa "facilidade" também trouxe desafios: empresas que contratam como PJ, mas exigem rotinas compatíveis com vínculo empregatício formal; ex-funcionários que entram na Justiça para reivindicar direitos como demissão e rescisão; entre outros conflitos.
Na decisão publicada na última segunda-feira (14), o ministro afirmou que "parcela significativa das reclamações em tramitação nesta Corte foram ajuizadas contra decisões da Justiça do Trabalho que, em maior ou menor grau, restringiam a liberdade de organização produtiva".
É fundamental abordar a controvérsia de maneira ampla, considerando todas as modalidades de contratação civil/comercial”, complementa Mendes.
Nesta reportagem, o Economia Real detalha sete pontos sobre a decisão do STF, seus impactos nas relações trabalhistas e as diferenças entre contrato CLT e PJ. Confira:
Segundo Thereza Carneiro, advogada trabalhista e sócia do CSMV Advogados, todos os processos que envolvem a discussão sobre este tema serão paralisados, independentemente da instância.
Assim, os casos ficam congelados e só serão retomados quando o Supremo formar maioria e estabelecer uma decisão definitiva sobre o tema.
Sim. De acordo com a advogada, a contratação via PJ continua legal.
"Uma empresa pode contratar prestadores de serviço para qualquer atividade, inclusive a atividade-fim. Diferente do passado, em que essa prática era presumida como fraude à legislação trabalhista, hoje as relações PJ têm mais respaldo jurídico, graças a recentes decisões do STF", explica.
"Pode, mas o processo ficará paralisado. Existe ainda a possibilidade de se discutir a competência da Justiça, e o caso migrar da Justiça do Trabalho para a Justiça comum, já que envolve duas pessoas jurídicas", afirma Thereza.
À primeira vista, não é possível afirmar se a decisão é positiva ou negativa. Para a advogada, a decisão traz mais conforto para as empresas contratantes sobre a validade desta relação. Para os empresários, a leitura inicial é de que quando a decisão for tomada, as companhias terão mais segurança jurídica.
"A repercussão geral é importante para pacificar o entendimento. Ter clareza sobre o que pode ou não pode ser feito trará estabilidade jurídica para o ambiente de negócios, independentemente de qual lado for beneficiado", diz Paulo Merotti, sócio da Equus Capital.
Segundo a contadora Thaís Ribeiro Niedzwiecki, da Comthá Contábil, o contrato CLT oferece diversos benefícios trabalhistas, como:
Já o contrato PJ garante um salário líquido maior, mas o trabalhador precisa pagar seus próprios impostos e benefícios. Em contrapartida, o modelo proporciona autonomia, flexibilidade de horário e a chance de atender múltiplos clientes.
Não! Um profissional PJ atua como prestador de serviço, com liberdade para definir o ritmo de trabalho. Por lei, não pode haver subordinação, exclusividade, pessoalidade ou habitualidade, elementos que caracterizam vínculo empregatício.
Ou seja, o PJ pode aumentar a renda atendendo mais de uma empresa e tem maior poder de decisão sobre seu tempo e tarefas.
Sim! A especialista contábil destaca a importância de contratos formais entre empresa e prestador, com cláusulas claras. Apesar das vantagens, o modelo PJ exige um planejamento financeiro sólido.
"É necessário prever valores para honorários, impostos e despesas fixas. O PJ também deve formar uma reserva de emergência, já que os contratos podem ser encerrados sem aviso prévio", alerta Thaís.
Outro ponto importante é a aposentadoria. O MEI paga uma taxa mensal com valor mínimo de contribuição ao INSS. Para garantir um valor maior no futuro, o ideal é contribuir com um valor adicional ou investir em alternativas como previdência privada, títulos públicos ou fundos de investimento.
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