TECIDO DO FUTURO
DIVULGAÇÃO/MUUSH
Antonio Carlos de Francisco e amostras de "couro vegano"; Muush produz biotecido com micélio
Publicado em 6/9/2025 - 11h00
Após 20 anos nas quadras, o professor de Educação Física Antônio Carlos de Francisco se aposentou em 2019, mas decidiu voltar à ativa em 2022 com uma missão curiosa: produzir couro sustentável a partir de fungos, bem longe de qualquer contato com animais. Para transformar esse sonho em realidade, ele conseguiu um investimento de cerca de R$ 3 milhões e agora pretende ver as primeiras roupas feitas com o novo tecido em breve.
"Eu sentia a obrigação de retornar uma parte da minha atuação na instituição, nessa nova área que a sociedade me ajudou a financiar na minha formação. Então, produzimos um material nobre, com baixa pegada hídrica, baixa emissão de carbono e que pode trazer benefícios ao planeta", explica o fundador e CEO da startup Muush ao Economia Real.
A companhia aposta no micélio, a raiz dos fungos, como matéria-prima central para criar um biotecido ecológico capaz de substituir o couro animal em segmentos como moda, automotivo e moveleiro. Além de reduzir o impacto ambiental, a inovação abre espaço para o Brasil competir no mercado global de materiais sustentáveis, avaliado em bilhões de dólares.
Para assegurar eficiência, a Muush decidiu cultivar o micélio internamente. O modelo reduz riscos de contaminação e aumenta a taxa de aproveitamento da matéria-prima, que já supera 98%.
"Como os processos estão sendo refeitos e atualizados constantemente, a gente tem um controle maior sobre eles e um ganho de aprendizagem muito maior do que se deixássemos com os outros. Um dos nossos produtos é a quantidade de conhecimento gerado", destaca o ex-docente.
O processo produtivo reaproveita resíduos agroindustriais, como serragem. O material é tratado, recebe a introdução dos fungos e, em uma sala de cultivo, se transforma em uma "pele biológica". Após um tratamento sustentável, o resultado é o "couro vegano".
O que sobra ainda é triturado e moldado, com o potencial de virar embalagens, placas acústicas, itens de conforto térmico e até objetos de decoração. Além da moda, o tecido já desperta interesse de setores como o automobilístico e o de design de interiores.
A ideia é oferecer uma alternativa viável e escalável, que atenda a diferentes indústrias sem abrir mão da sustentabilidade", explica o empreendedor.
No horizonte, a Muush projeta ampliar parcerias com grandes marcas e explorar o mercado internacional. "Já mandamos [algumas amostras do tecido] para a Suíça, para Portugal e também para a França. Temos contato com o Reino Unido, com a Áustria e já conversamos com o pessoal da Colômbia. Esses são os mercados que a gente vislumbra como mais próximos. Nada foi concretizado ainda, mas já temos esses contatos", afirma.
O desafio, agora, é escalar a produção sem perder o caráter sustentável. "Queremos deixar um legado, mostrar que dá para você ser economicamente rentável, sustentável em todos os aspectos: econômico, social e ambiental", conclui Francisco.
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