JOSÉ EDUARDO OMETTO
REPRODUÇÃO/GLOBO
José Eduardo Ometto Pavan e a mulher Rosana Ferrari; casal foi assassinado no interior de SP
Publicado em 23/6/2025 - 11h05
José Eduardo Ometto Pavan, empresário de uma das famílias mais tradicionais do setor de açúcar e álcool, e sua mulher, Rosana Ferrari, diretora de uma escola infantil, foram assassinados em abril. De acordo com informações divulgadas no domingo (22), a investigação do crime apresentou uma reviravolta que colocou os próprios advogados do casal como principais suspeitos.
"Uma pessoa que conhecia bem o local. Nossa equipe de investigação constatou que o alarme da chácara disparava, mas naquela ocasião, com ele, não disparou", afirmou o delegado William Marchi, responsável pelo caso, em entrevista ao Fantástico, exibido pela Globo.
Segundo as investigações da Polícia Civil, o casal foi morto a tiros em uma trama que envolve falsificação de documentos, fraudes patrimoniais e apropriação indevida de bens milionários.
José Eduardo e Rosana estavam casados há 24 anos e não tinham filhos. Discretos e com poucos amigos, viviam em Araraquara (SP), mas costumavam passar os finais de semana em uma chácara na turística cidade de São Pedro (SP).
No dia 6 de abril, um vizinho estranhou o portão da propriedade aberto. Ao entrar para verificar, encontrou os corpos do casal e acionou a polícia. Outro detalhe intrigante foi o sumiço dos celulares das vítimas. "Por que as vítimas teriam sido mortas na área externa e levadas para dentro da casa?", questionou o delegado.
Os investigadores então começaram a refazer os passos das vítimas. No dia 4 de abril, o casal abasteceu o carro em um posto de combustíveis e seguiu para a chácara. Câmeras de segurança registraram o trajeto entre Araraquara e São Pedro.
Um detalhe chamou a atenção: ao passar pela propriedade, José Eduardo acelerou de forma incomum, comportamento que levantou suspeitas da família. Uma testemunha afirmou ter visto José Eduardo acompanhado de outras pessoas na Estância Morro Verde, em São Pedro, no que aparentemente seria uma negociação para alugar a propriedade.
Com base em um levantamento cibernético que rastreou os celulares presentes na região, a polícia chegou aos dois primeiros suspeitos: Edinaldo José Vieira, vindo da Praia Grande, litoral de São Paulo, e Carlos César de Oliveira, conhecido como "Césão", de São Carlos.
Césão, segundo a investigação, é segurança particular dos advogados Fernanda e Hércules Barroso, donos do escritório que prestava serviços ao casal e agora principais suspeitos de mandar matar os próprios clientes.
O conflito teve origem em 2013, quando José Eduardo adquiriu 16 unidades de um apart-hotel em São Carlos. Problemas estruturais paralisaram a obra, e o empresário, que também era engenheiro, assumiu a responsabilidade para evitar prejuízos. Com o tempo, as dívidas aumentaram e José Eduardo criou uma empresa para proteger seu patrimônio, o que foi considerado fraude pela Justiça.
Na tentativa de resolver a situação, ele transferiu os bens para uma nova holding em nome dos advogados. A justificativa foi o pagamento de honorários, no valor de R$ 12 milhões — cifra considerada irreal pela polícia.
"A vítima passou a holding para o nome da advogada. Eles mascararam a operação como uma doação em pagamento. Todos os demais imóveis também foram transferidos para os advogados", afirmou a delegada Juliana Ricci.
Em 27 de março de 2025, a Justiça deu ganho de causa a José Eduardo, reconhecendo a ilicitude das transferências. Apenas sete dias depois, o casal foi assassinado.
Além de se apropriar dos imóveis, os advogados teriam falsificado decisões judiciais e cobrado custas processuais inexistentes. O casal depositava os valores exigidos, sem saber que os documentos eram falsos e o dinheiro, desviado.
Na residência dos advogados, a polícia apreendeu três armas de fogo. Todos os quatro suspeitos — os dois advogados e os dois executores — foram presos preventivamente no dia 17 de junho.
A defesa de Fernanda e Hércules Barroso declarou, em nota: "O caso ainda está em fase de inquérito, e não há nenhum fato concreto sobre a participação de nossos clientes no crime. Eles estão colaborando com as investigações e já foi solicitado habeas corpus para que respondam em liberdade." As defesas de Edinaldo e Césão não responderam aos pedidos do Fantástico.