DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS
MAGNET.ME/UNSPLASH
Mulher preenche post-its durante brainstorm; especialista detalha estratégia de produtos
MATHEUS CEBALLOS, MsC
redacao@economiareal.com.brPublicado em 11/6/2025 - 10h24
Quando falamos em desenvolvimento de produtos, ainda é comum ouvir que tudo começa com um problema gritante e uma solução genial. Mas a verdade é que nem todo produto nasce de uma dor óbvia. Muitas vezes, os melhores produtos do mercado não resolvem apenas problemas explícitos, resolvem atritos invisíveis. Eles não surgem apenas para preencher lacunas. Melhoram experiências que o cliente nem sabia que poderiam ser melhores. Ou criam novas formas de fazer algo antigo, de forma tão fluida que se tornam indispensáveis.
E é por isso que, no meu entendimento, uma das frases mais superestimadas no mundo de produtos é: "Apaixone-se pelo problema". Aos defensores dessa frase, proponho um desafio: qual era o problema gritante que justificava o surgimento dos tablets? Ou melhor: qual é a dor real que a inteligência artificial (IA) resolve hoje?
A verdade é que nenhum desses produtos nasceu para apagar incêndios. Eles nasceram para agilizar, simplificar e elevar o que já era feito — mesmo que, antes deles, já fosse possível fazer de outro jeito.
Toda tarefa que a IA executa, um humano é capaz de fazer. Mas a IA faz com mais velocidade, precisão e constância. Ela resolve o que antes era tolerado: a demora, o retrabalho, os pequenos erros — não uma dor latente, mas uma oportunidade escondida.
E é justamente aí que muitos erram ao começar um produto: achando que só vale desenvolver o que nasce de uma dor "gritante".
Antes da primeira linha de código, antes do MVP, antes do protótipo… vem algo que muita gente ignora: a fase de descoberta. É nela que se define se o produto vai ser relevante — ou só mais uma boa ideia sem tração.
É o momento de parar de criar para si mesmo e começar a criar a partir do que o mercado realmente precisa — ou deseja. A Apple não lançou o iPhone porque faltava câmera ou tela sensível ao toque.
Ela lançou porque entendeu que as pessoas queriam fazer mais, com menos atrito. Mais conexão, menos fricção. Mais poder, menos complexidade. A inovação estava na percepção de facilidade, não em uma dor escancarada.
Descoberta não é feeling. É escuta qualificada. Se você está desenvolvendo um novo produto, a pergunta inicial não é: "O que vamos criar?", e sim: "O que as pessoas já estão tentando fazer — e por que ainda é difícil?".
Ou, de forma mais direta: "O que já existe, mas pode ser feito de maneira muito melhor?". Descoberta é um processo ativo, não um brainstorm no Miro. Ela envolve:
E aqui vai um lembrete importante: você não é seu cliente. O que parece óbvio pra você pode ser irrelevante para ele.
Antes de pensar em MVP, pense: "Qual mensagem eu quero validar com ele?". Muita gente constrói MVPs tentando provar que a ideia funciona. Mas esquece de validar se o problema realmente importa para o usuário.
Você pode ter a solução perfeita… para um problema que ninguém quer pagar para resolver. Então, questione:
É aqui que grandes negócios começam: num ajuste pequeno, mas recorrente, que entrega um ganho claro. MVP não é uma versão "capada" da sua visão. É a forma mais rápida e barata de entender se o valor prometido faz sentido.
Você não precisa de um app completo. Precisa de um teste inteligente. Pode ser:
A pergunta não é "o que vamos lançar?", mas: "o que precisamos aprender — com o menor esforço possível?".
O erro mais comum? Executar com pressa — e validar tarde demais. O MVP mal construído não apenas falha. Ele entrega sinais errados. Pode fazer você desistir de uma boa ideia, só porque a pergunta foi mal feita.
Por isso, o começo importa tanto. Inovação não é só resolver uma dor. É entregar algo tão alinhado ao que o cliente deseja, que ele nem percebe que precisava — mas agora não consegue mais viver sem.
Grandes produtos não nascem da genialidade isolada. Nascem de escuta, intenção e contexto. Antes de se preocupar com o que lançar, pare e pergunte: "O que eu realmente preciso entender e validar primeiro?".
Porque produto que começa bem… termina melhor.
*As opiniões do colunista não refletem, necessariamente, o posicionamento do Economia Real.
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.