NÃO É FAMÍLIA
TIM GOUW/PEXELS
Chefe irritado na frente da equipe; negócio pode virar um peso quando dono assume papel de 'pai'
Publicado em 5/6/2025 - 8h00
Tem muito dono bem-intencionado por aí caindo numa armadilha disfarçada de gestão humanizada. Aquela famosa frase: "Aqui somos uma família". A intenção é bonita. Mas o efeito… nem sempre.
Porque, na prática, quando você transforma empresa em família, você também transforma problema de gestão em problema emocional.
E aí o que acontece?
Só que empresa não é família. E tá tudo bem.
Na família, o vínculo é incondicional. Na empresa, o vínculo é profissional. Na família, você acolhe independente da entrega. Na empresa, você acolhe e exige entrega.
Confundir esses papéis não gera cultura forte. Gera cultura confusa. E sabe quem paga essa conta? O próprio dono.
Que começa a trabalhar dobrado pra compensar o que não tem coragem de exigir. Que vira bombeiro de problema que não é dele. Que sustenta salário de gente que não entrega, só pra não viver o desconforto da decisão difícil.
Cuidado: Quando você não tem clareza do seu papel como dono, o time também não entende o papel dele.
E, sem perceber, você cria um ambiente que:
O que isso gera? Gente que espera ser cuidada, não desenvolvida. Equipes que querem colo, não contexto. Lideranças que fogem do desconforto e terceirizam o problema pra cultura, pro RH, pro universo.
Gestão madura não é afeto vazio. É cuidado com consequência.
É entender que, justamente porque a gente se importa, a gente dá feedback profissional, cobra, confronta e toma decisão difícil.
Empresa não é família. Empresa é um ambiente onde pessoas adultas se reúnem pra gerar resultado, crescer, se desenvolver e construir algo relevante.
E sabe qual é a boa notícia? Quando a cultura organizacional é madura, ninguém precisa de vínculo emocional pra dar o melhor de si.
O que sustenta a entrega não é afeto forçado. É clareza, segurança psicológica, autonomia, responsabilidade e senso de dono.
Se você é dono, líder ou fundador, guarda essa régua: papel de líder não é ser pai, nem mãe, nem amigo.
É ser referência, é ser exemplo e é ser guardião da cultura. Porque, no final do dia, quem confunde empresa com família…
Acaba cuidando de adulto como se fosse criança, e carregando nas costas um negócio que deveria andar com as próprias pernas.
*As opiniões da colunista não refletem, necessariamente, o posicionamento do Economia Real.
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