INSIGHTS DE NY

Cultura que não atravessa fronteiras nunca foi cultura — só hábito

REPRODUÇÃO/CANVA

Equipe unida em escritório

Equipe unida em escritório; especialista em cultura traz insights da Brazilian Week em NY

Publicado em 15/5/2025 - 8h30

Todo ano, dezenas de empresas brasileiras tentam cruzar a fronteira: internacionalizar, captar fora, abrir operação em outro país, sentar à mesa dos grandes. E todo ano, algumas se frustram.

Não é por falta de produto. Nem de coragem. É por falta de cultura consciente.

Na Brazilian Week, aqui em Nova York, o que mais se ouve é: "O Brasil tem um potencial enorme". Mas o que não se fala — e precisa ser dito — é que potencial sem consistência cansa o investidor. E cultura inconsistente não atravessa a ponte.

Cultura que só funciona em território conhecido não é cultura — é hábito disfarçado. Quando uma empresa opera bem apenas no Brasil, é comum escutar: "Nossa cultura é diferente, aqui todo mundo se entende". Claro. Porque está todo mundo no mesmo código, no mesmo improviso, na mesma zona de conforto.

Mas basta colocar essa empresa em outro contexto — com fuso, com compliance, com accountability real — que a cultura desmonta. Por quê?
Porque ela nunca foi consciente. Nunca foi ensinada. Nunca foi vivida com método.

Consciência cultural é saber o que, na sua empresa, é essencial — e o que é só vaidade local. Empresas maduras sabem nomear o que é inegociável. Sabem separar valores de slogans. Sabem traduzir comportamento em processo.

Aqui fora, ninguém quer ouvir que "a empresa é uma família". Eles querem saber como você garante consistência na tomada de decisão. Como você promove. Como você demite. Como lida com conflito.

É cultura no detalhe — ou vira risco no contrato.

A cultura que escala é a que tem clareza, prática e consequência. A cultura da sua empresa é medida na velocidade com que as decisões são tomadas. No tipo de problema que o CEO resolve pessoalmente. E na forma como o time entrega sem depender de uma única pessoa.

Isso não se improvisa na hora do pitch. Isso se constrói todo dia.

Em resumo:

  • Cultura sem clareza vira ruído.
  • Cultura sem prática vira discurso.
  • Cultura sem consequência vira piada.

Se sua empresa quer escalar, abrir capital, buscar investimento fora: invista antes na sua cultura. Mas não qualquer cultura. Aquela que aguenta atravessar a fronteira sem se perder no caminho.


*As opiniões da colunista não refletem, necessariamente, o posicionamento do Economia Real.

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