GEPETO, O FUTURO CEO
Odivan Cargnin fundou a Razonet ao prever a disrupção da contabilidade e defende que ética e propósito vêm antes de qualquer resultado.
ILUSTRAÇÃO/CHATGPT
IA Gepeto conversa com Odivan Cargnin, CEO da Razonet; executivo defende ética na carreira
Publicado em 26/10/2025 - 12h00
Atualizado em 27/10/2025 - 7h00
Para Odivan Cargnin, CEO da Razonet, não existe dilema entre ética e resultado. Ele acredita que qualquer decisão sem integridade pode até parecer vantajosa no curto prazo mas, inevitavelmente, cobra um preço.
"Na vida pessoal e nos negócios, não tem outro caminho que não seja agir sempre com ética, integridade, transparência e respeito nas relações", resume Cargnin durante o bate-papo com a inteligência artificial Gepeto, o Futuro CEO.
Todos os domingos, o Economia Real promove uma conversa entre um executivo e uma inteligência artificial que sonha em se tornar CEO no futuro. No quadro, os entrevistados compartilham aprendizados sobre liderança, inovação, cultura e os dilemas humanos por trás das grandes decisões de negócio.
Na conversa, Cargnin reforça a importância de alinhar a visão de longo prazo com as decisões do presente. Para ele, até mesmo as ações operacionais do dia a dia precisam estar conectadas à construção de um objetivo maior e isso só é possível com um time engajado, competente e alinhado ao propósito da empresa.
Foi justamente esse olhar para o futuro que o levou a fundar a Razonet. Inspirado por livros sobre organizações exponenciais e eventos de tecnologia, Cargnin apostou na ideia de que o setor contábil seria disruptado, mesmo sem dados concretos que comprovassem essa tendência na época.
O que vai acontecer com a contabilidade nos próximos anos é o mesmo que aconteceu com os serviços financeiros na última década", projeta.
Odivan Cargnin é CEO da Razonet, empresa de contabilidade digital que une tecnologia e propósito para transformar a gestão contábil de PMEs. Contador e advogado, também atua como CFO e diretor de relações com investidores da Irani Papel e Embalagens. Com mais de 25 anos de experiência no setor financeiro, fundou a Razonet com a missão de criar uma nova geração de escritórios contábeis — mais ágeis, digitais e conectados às dores do empreendedor brasileiro.
diVULGAÇÃO
Odivan Cargnin, CEO da Razonet
Confira o bate-papo entre Odivan Cargnin e Gepeto:
GEPETO, O FUTURO CEO - Quais valores pessoais você nunca negociou, mesmo quando isso significou perder dinheiro ou oportunidades?
ODIVAN CARGNIN - Na verdade eu entendo que esse dilema não existe. Qualquer coisa que você faça sem ética, te leva, inexoravelmente, a perder oportunidades ou mesmo perder dinheiro. É só uma questão de tempo. Na vida pessoal e nos negócios não tem outro caminho que não seja agir sempre com ética, integridade, transparência e respeito nas relações.
Como você equilibra visão de longo prazo com as demandas operacionais do dia a dia?
É sempre importante ter bem clara a visão de futuro, onde queremos chegar. E depois alinhar o que fazemos hoje com essa visão de futuro. Desta forma, mesmo nas demandas operacionais, do dia a dia, estaremos construindo este futuro sonhado. Contar com pessoas incríveis e alinhadas com essa visão é fundamental para esta jornada.
Quais indicadores você acompanha com mais atenção para medir a saúde do negócio?
Em todo negócio existem indicadores chaves para serem acompanhados. Em negócios digitais, como da Razonet, os principais são o Clima Organizacional, que mede a condição do ambiente interno da empresa e o NPS - Net Promoter Score, que mede a satisfação dos clientes. Estes dois sustentam o negócio.
E existem outros indicadores relevantes, como, CAC - Custo de Aquisição de Clientes, Churn - Índice de perda de clientes, LTV/CAC - que mede quanto cada cliente deixa de resultado para a empresa. E tem os indicadores econômicos de fluxo de caixa, crescimento do faturamento, custos e de retorno do capital investido.
Qual decisão você tomou com base na intuição, e não nos dados, que mudou os rumos da sua empresa?
A própria decisão de criação da Razonet. Após ler alguns livros sobre organizações exponenciais e participar de eventos de tecnologia, cheguei a conclusão que o setor de contabilidade iria ser disruptado no Brasil.
Havia sinais neste sentido, mas nenhum dado concreto que isso iria acontecer. Eu diria que estamos apenas no início desta disrupção. O que vai acontecer com a contabilidade nos próximos anos é o mesmo que aconteceu com os serviços financeiros nos últimos 10 anos.
Em momentos de crise, o que você faz para manter seu time motivado e coeso, mesmo sem ter todas as respostas?
É ter um propósito. Sou contador e advogado e tenho minha carreira toda na área financeira, como CFO e RI da Irani Papel e Embalagens, empresa listada no Novo Mercado da B3. Já passei por várias crises agudas, como a do subprime em 2008, a recessão no Brasil em 2015-2016 e mais recentemente a pandemia, que eu diria foi o grande teste de stress.
Em nenhuma destas crises o mundo acabou. Tendo um propósito claro, encontramos forças para superar estes momentos difíceis e ganhamos musculatura para a próxima etapa da jornada.
Como você lida com inovação sem perder o foco no que já funciona?
É preciso ter ambidestria ou, como dizem ultimamente, multidestria. É preciso garantir que o básico funcione bem para poder se dedicar ao novo. Indicadores de gestão ajudam nisso. Mas o que faz a diferença mesmo é ter pessoas incríveis e alinhadas no propósito na jornada. Um time competente garante que a empresa funcione bem em todas as frentes.
Como você forma, desenvolve e retém líderes dentro da empresa?
Dando muita autonomia e responsabilidade. As pessoas têm muito mais capacidade do que pensamos. Elas só precisam de apoio, espaço para fazer o que pensam e orientação estratégica. Quando os líderes entendem onde queremos chegar e tem autonomia para agir eles produzem resultados fantásticos, ficam motivados e motivam todo o time.
Qual é a sua abordagem para feedbacks difíceis com times ou executivos?
Quando os feedbacks são dados de forma periódica, ou mesmo em tempo real, não ficam acumulados para situações que exigem momentos difíceis. Quando se faz feedbacks contínuos geralmente a própria pessoa chega sozinha na conclusão que precisa mudar e evita que haja momentos difíceis. Feedbacks difíceis, na minha visão, só existem se o processo contínuo de feedback não foi bem feito.
Qual foi o maior erro de gestão que você cometeu e o que aprendeu com ele, como pessoa?
Economizar na comunicação. Achar que as pessoas entenderam o que eu estava pensando e dizendo. A maioria das dificuldades que se cria no ambiente corporativo é por falta de comunicação clara.
Sempre temos muitas coisas para fazer e intuímos que as pessoas estão entendendo tudo o que acontece dentro da empresa. Hoje eu procuro pecar pelo excesso de comunicação do que correr o risco de me comunicar pouco e mal.
Se você tivesse que ensinar uma única lição sobre liderança para um jovem que está começando, qual seria?
Seja um lifelong learner. Busque estudar e aprender a vida toda. Nunca deixe de se desenvolver, tanto em competências técnicas, para ter autoridade na sua área de atuação, quanto em competências comportamentais, as soft skills.
A combinação de profundo conhecimento técnico com habilidades de gestão são fundamentais para a construção de uma carreira sólida, em qualquer ramo de atividade. Tenho uma filha de 22 anos e um filho de 19 anos e é isso que digo para eles.
O que você, como pessoa física, faz para alcançar uma liderança de alta performance?
Tenho um planejamento de alocação de tempo em coisas que entendo serem fundamentais para alta performance. Em primeiro lugar cuido da minha saúde, faço academia no mínimo 5 vezes por semana, pela manhã, e pratico corrida. A corrida, para mim, é onde os insights aparecem. É incrível. Sempre digo que a corrida é o momento em que sou mais criativo e produtivo.
Na maioria dos dias durmo muito cedo e isso me permite dormir no mínimo 8h. Procuro ter sempre muita harmonia dentro de casa, onde converso muito com minha esposa e meus filhos. Isso me dá paz e tranquilidade para me dedicar ao aprendizado contínuo, leitura e fazer a gestão das equipes. Gosto muito de finanças, tecnologia e empreendedorismo e estou sempre buscando conhecimento nestas áreas. fazendo cursos, lendo e participando de eventos.
O que você acredita que nenhuma inteligência artificial conseguirá substituir no papel de um líder?
Tenho usado muito a inteligência artificial e estou testando quase todos os modelos que são lançados, pelas diversas empresas. O que noto é que a inteligência artificial é muito boa em acelerar o processo de aprendizado e de execução de atividades, pois consegue juntar muito conhecimento acumulado em questão de instantes, mas ela não produz ideias genuínas.
A criação do novo, aquilo que não existe ainda e depende de intuição, só os humanos conseguem fazer. É necessário uma mente humana para gerar insights genuínos. O mesmo vale para a gestão de pessoas. Humanos precisam de calor humano, de acolhimento, de alguém que escute de verdade, de empatia. Nenhuma inteligência artificial consegue fazer isso.