LUCAS BUENO
Lucas Bueno, brasileiro de 20 anos, fugiu da Ucrânia após se alistar como voluntário, enfrentando guerra, risco e desertor.
REPRODUÇÃO/RECORD
Lucas Bueno foi lutar na Guerra da Ucrânia, mas voltou às pressas para o Brasil em pouco tempo
Publicado em 8/9/2025 - 15h10
Lucas Bueno deixou o interior do Paraná para se alistar como voluntário na Guerra da Ucrânia, com a promessa de que atuaria na área de tecnologia do Exército da Ucrânia. Porém, ao chegar no país europeu, descobriu que teria de lutar na linha de frente do confronto com a Rússia, o que fez ele tomar uma atitude arriscada: fugir do quartel e andar mais de 20 quilômetros a pé para escapar dos militares e conseguir voltar ao Brasil.
"Foi um tiro no escuro em questão de sobrevivência. Agir por instinto foi a única opção", desabafou Bueno em entrevista ao Domingo Espetacular, transmitido pela Record no domingo (7).
O jovem de 20 anos, natural de Francisco Beltrão (PR), se alistou voluntariamente por meio de um site de recrutamento e assinou um contrato para atuar com drones e sistemas de guerra eletrônica. Ele mesmo custeou todos os gastos da viagem: passaporte, passagem aérea e roupas adequadas ao rigoroso inverno europeu.
A realidade, no entanto, foi bem diferente da prometida. Bueno contou que, durante o treinamento, os voluntários recebiam 400 dólares mensais. Após a conclusão, os salários variavam de 850 dólares (cerca de R$ 4 mil) para operadores de guerra eletrônica até 4,5 mil dólares (R$ 25 mil) para atiradores ou metralhadores.
Durante sua estadia, ele testemunhou a morte de três colegas: um atingido por uma mina terrestre, outro capturado e o terceiro desaparecido já na primeira missão. O cenário de risco e violência fez Lucas decidir romper o contrato, o que automaticamente o classificou como desertor.
Em 24 de julho, o jovem enviou um e-mail à Embaixada do Brasil na Ucrânia com um pedido de ajuda, mas recebeu como resposta que o governo não poderia interferir em assuntos internos das Forças Armadas ucranianas.
Na madrugada do mesmo dia, reuniu seus pertences e deixou a cidade de Isan. Caminhou cerca de 16 km até conseguir carona para uma cidade maior, percorreu 620 km até Kiev e, em seguida, cruzou a fronteira com a Polônia.
Na fronteira polonesa, enfrentou seu maior obstáculo: o passaporte indicava vínculo ativo com o Exército da Ucrânia. Ele conseguiu convencer os soldados de que sua situação estava regularizada e pôde seguir viagem. De Varsóvia, embarcou para Viena, depois Etiópia e, por fim, retornou a São Paulo no mês passado.
Apesar da fuga arriscada e da experiência traumática, Bueno não desistiu do sonho de viver na Europa. Agora, ele pretende juntar dinheiro no Brasil para retornar ao continente de forma legal e segura, como civil. "Quero muito voltar para a Europa, porque a vida lá é diferente. A guerra é uma escolha extrema, que muda completamente a própria vida e a dos familiares", concluiu.