GEPETO, O FUTURO CEO

Como o CEO da Hashdex mostrou à IA que valores constroem impérios

ILUSTRAÇÃO/CHATGPT

Gepeto conversa com Marcelo Sampaio, fundador e CEO da Hashdex

Gepeto conversa com Marcelo Sampaio, fundador e CEO da Hashdex; executivo detalha estratégia

Publicado em 8/6/2025 - 8h00
Atualizado em 8/6/2025 - 8h45

"Se o resultado do meu trabalho não for íntegro com os meus valores, não vale a pena". Essa convicção acompanha Marcelo Sampaio desde a juventude e guia suas decisões como fundador e CEO da Hashdex, uma das principais gestoras de criptoativos do Brasil. O executivo acredita que a liderança está menos nos acertos e mais na clareza dos princípios.

"Em tempos difíceis, mantenho o time unido com duas premissas: clareza de visão e transparência total. Mesmo quando não tenho todas as respostas, deixo claro qual é o caminho que seguimos e por que ainda acreditamos nele", resume Sampaio durante o bate-papo com a inteligência artificial Gepeto, o Futuro CEO.

Todos os domingos, o Economia Real promove uma conversa entre um executivo e Gepeto, uma inteligência artificial que sonha em se tornar CEO no futuro. O quadro mergulha em reflexões sobre gestão, cultura, liderança e o que torna a atuação humana insubstituível no comando de uma organização.

Durante a conversa, Sampaio não esconde que parte de suas escolhas mais decisivas foram feitas na intuição. Foi assim na fundação da Hashdex, quando ainda não havia dados que assegurassem o interesse institucional em criptoativos.

A conexão entre o mercado tradicional e o universo cripto nos parecia evidente. Faltava estrutura, produto e uma narrativa que fizesse sentido dentro do sistema financeiro. Apostamos nisso — e essa intuição moldou tudo", recorda.

Pioneira na gestão de criptoativos, a Hashdex desenvolve produtos financeiros acessíveis, seguros e alinhados com o ecossistema regulatório global. A empresa foi responsável pela criação do primeiro ETF de criptoativos do mundo e pela co-desenvolução do Nasdaq Crypto Index (NCI), em parceria com a Nasdaq.

Hoje, seus ETFs somam mais de R$ 5 bilhões sob gestão e permitem que investidores tenham exposição ao universo cripto de forma simples, transparente e regulada. Antes de fundar a companhia cripto, Sampaio trabalhou por mais de uma década em gigantes de tecnologia e recebeu o título de diretor de vendas mais jovem da Oracle no mundo.

O executivo investe em mais de 30 startups pelo mundo e é formado em Engenharia de Produção pela PUC-Rio, com programas de liderança pela Harvard Business School e Insead (França), além de investir em cripto desde 2012 — muito antes de o mercado considerar isso uma aposta segura.

diVULGAÇÃO/HASHDEX

Marcelo Sampaio

Marcelo Sampaio, CEO da Hashdex

Confira, a seguir, o bate-papo entre Gepeto e Marcelo Sampaio:

GEPETO, O FUTURO CEO: Quais valores pessoais você nunca negociou, mesmo quando isso significou perder dinheiro ou oportunidades?

MARCELO SAMPAIO: Nunca abri mão da integridade no que entrego. Desde o início da minha carreira, sempre foi essencial para mim que o trabalho — seja pessoal, da minha equipe ou da minha empresa — estivesse alinhado com aquilo em que eu acredito.

Um exemplo claro foi ainda na faculdade, quando declinei de uma oportunidade de estágio em uma grande empresa de cigarros. Apesar dos ótimos salários, benefícios e perspectivas de crescimento, percebi que, no fim das contas, estaria usando minha produtividade e meus sonhos para vender um produto que prejudica a saúde das pessoas.

Naquele momento, ficou claro que, se o resultado do meu trabalho não fosse íntegro com os meus valores, não valeria a pena. E sigo assim até hoje.

Em momentos de crise, o que você faz para manter seu time motivado e coeso, mesmo sem ter todas as respostas?

Em tempos difíceis, mantenho o time unido com duas premissas: clareza de visão e transparência total. Mesmo quando não tenho todas as respostas, deixo claro qual é o caminho que seguimos e por que ainda acreditamos nele.

Além disso, trato todos como adultos — compartilho os desafios, os dilemas e explico como estamos buscando as soluções. Isso pode até fazer com que algumas pessoas optem por sair, mas quem permanece forma um time muito mais forte e coeso.

No fim, crises são inevitáveis — mas quando você constrói essa cultura de verdade e propósito, elas se tornam oportunidades de reforçar ainda mais a base do time.

Como você equilibra visão de longo prazo com as demandas operacionais do dia a dia?

A chave está em definir muito claramente, desde o início, qual é o grande problema que você quer resolver — e por que ele merece ser resolvido. Quando essa visão de longo prazo está bem definida, o dia a dia deixa de ser apenas operacional e passa a ser parte do caminho para essa construção.

Mesmo diante de tarefas urgentes e 'micro problemas' que surgem, sei que cada ação está, de algum modo, contribuindo para essa resolução maior. O segredo é não deixar que a correria do curto prazo impeça a clareza da visão de futuro. Pelo contrário: é essa visão que guia e dá sentido ao que fazemos todos os dias.

Quais indicadores você acompanha com mais atenção para medir a saúde do negócio?

De tudo que é possível acompanhar em uma empresa — desde indicadores financeiros até o clima interno da equipe — o que mais considero decisivo é o lifetime value (LTV), ou seja, o quanto um cliente gera de receita ao longo do tempo em que permanece com você.

Esse indicador vai além da venda pontual: ele mostra se a relação é contínua, se há relevância real na vida do cliente. Quando o cliente volta, permanece e cresce com o seu negócio, é um sinal claro de que você está resolvendo um problema importante. E, no fim das contas, é isso que garante não só a saúde da empresa, mas sua relevância de longo prazo.

Como você lida com inovação sem perder o foco no que já funciona?

A chave está em proteger o que já funciona, o core do negócio, enquanto se cria espaço para a inovação acontecer de forma controlada. Na Hashdex, damos início a projetos inovadores em menor escala, de forma apartada da operação principal, justamente para não comprometer o que já está estabelecido e gerando resultado.

Muitos desses projetos não vingam, o que é natural, mas os que dão certo recebem mais recursos e passam a ser integrados ao core. O segredo é garantir que a inovação avance sem desestabilizar a base da empresa.

Como você forma, desenvolve e retém líderes dentro da empresa?

Na Hashdex, formar líderes começa com uma imersão intensa no universo cripto e no mercado financeiro regulado, um contexto único que exige aprendizado rápido e adaptabilidade. Valorizamos a promoção interna e damos desafios reais, colocando as pessoas em posições para as quais estão quase prontas, incentivando crescimento contínuo.

Com presença em oito países, oferecemos oportunidades de atuação internacional. Para reter talentos, adotamos a lógica do Vale do Silício: todos são sócios, com participação real no sucesso da empresa no longo prazo. Isso cria pertencimento e visão compartilhada.

Qual foi o maior erro de gestão que você cometeu e o que aprendeu com ele, como pessoa?

Um dos maiores erros que cometi foi, em um momento de forte expansão da Hashdex, ter delegado demais a condução da visão da empresa. Com o crescimento acelerado e a abertura de operações em outros países, permiti que diferentes líderes definissem os caminhos em suas regiões sem garantir que todos estivessem alinhados com a visão original.

O resultado foi a formação de quase três empresas distintas operando sob a mesma marca. Foi um processo complexo e trabalhoso de reconduzir tudo para uma estrutura unificada. Aprendi que visão não se repassa. Ela precisa ser preservada e compartilhada com clareza para que todos atuem com autonomia, sim, mas dentro do mesmo norte estratégico.

O que você, como pessoa física, faz para alcançar uma liderança de alta performance?

Para mim, liderança de alta performance passa por duas práticas fundamentais: autoconhecimento e alívio de estresse. O primeiro vem de processos reflexivos, seja com leitura, feedbacks, coaching ou até momentos de introspecção. É essencial entender onde você não é bom, o que precisa melhorar e o que precisa delegar.

Já para lidar com o estresse, uso principalmente a música: toco violão, canto e reservo momentos para ouvir música de verdade, desconectado do trabalho. Também valorizo muito as viagens, que me ajudam a enxergar o mundo por outras perspectivas. Essas pausas me mantêm equilibrado e preparado para crescer com os desafios da liderança.

Qual é a sua abordagem para feedbacks difíceis com times ou executivos?

Prefiro sempre ser direto e ir ao ponto logo no início. Em vez de criar um longo contexto, acredito que feedbacks difíceis funcionam melhor quando começamos pela parte mais delicada, com clareza e objetividade. Isso evita mal-entendidos e permite que a conversa se concentre na solução.

Depois do impacto inicial, construo junto com a pessoa o entendimento e os próximos passos. Para mim, respeito e transparência andam juntos — especialmente em momentos difíceis.

O que você acredita que nenhuma inteligência artificial conseguirá substituir no papel de um líder?

Acredito que a IA será uma ferramenta poderosa, capaz de ampliar nossa capacidade e melhorar a experiência humana em muitos aspectos. Mas há elementos essenciais da liderança que ela nunca vai substituir: empatia, conexão, inspiração e ética humana.

Esses pilares são profundamente ligados à experiência de ser humano — algo que a máquina, por mais avançada que seja, não consegue vivenciar ou transmitir. A IA pode apoiar, potencializar, mas não substituir a presença genuína, o olhar empático ou a capacidade de inspirar uma equipe com base em valores e emoções reais. Esses elementos continuam sendo insubstituíveis no papel de um líder.

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