EXCLUSIVO
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
A atriz Beatriz Segall caracterizada como Odete Roitman, vilã da novela Vale Tudo (1988)
Publicado em 10/5/2025 - 6h00
Odete Almeida Roitman está entre nós, mas engana-se quem pensa na vilã interpretada por Debora Bloch na novela Vale Tudo, em exibição na Globo. No TikTok, um perfil alimentado por inteligência artificial (IA) tem ganhado dinheiro gerando vídeos virais com a imagem da atriz Beatriz Segall (1926-2016), a Odete da trama original de 1988. A prática provoca um debate sobre os limites legais do uso de imagens de pessoas mortas e pode parar na Justiça.
A "influenciadora" Odete já batizou seus mais de 46 mil seguidores como Roitman Lovers e acumula 580 mil curtidas em vídeos curtos repletos de comentários ácidos. Um dos mais famosos ultrapassou 1,2 milhão de visualizações e diz: "Querida, você tem que ser ruim de vez em quando, porque se você for pau para toda obra, toda hora vai ter uma obra".
No quadro Minuto de Sabedoria, a "presidente" da companhia aérea TCA critica com ironia os brasileiros: "Pobres sempre escolhem com muito cuidado e cautela a pessoa errada para se relacionar". Esse vídeo já soma mais de 902 mil reproduções.
Outro post popular, com 878 mil visualizações, traz o aviso: "A sua opinião não combina com o meu look. Não vou usar". Nem o remake da novela escapa da língua ácida da inteligência artificial:
O único erro novelesco é aquela tatuagem horrorosa da Raquel [Taís Araujo] com o nome da filha Maria de Fátima [Bella Campos]. Na segunda briga, ela já deveria ter ido à dermatologista e apagado com laser. Manuela [Dias, autora do remake], ainda dá tempo! Se quiser o número da minha dermatologista, ela é ótima. Veja como está minha pele aos 99 anos", ironiza
A personagem digital também opina sobre as polêmicas entre Cauã Reymond e Bella Campos: "Falem mal, falem Cauã, mas falem de mim. Veremos se a Globo decidirá se César passará por uma superdemonização facial com algum Dr. Rey de baixo custo e reaparece como Leandro Lima". Confira alguns vídeos:
@odetealmeidaroitman Minutos de Sabedoria da Odete Roitman 💋 #valetudo#odeteroitman#demonio#ex#minutosdesabedoria♬ som original - Odeteroitman
@odetealmeidaroitman Minutos de Sabedoria da Odete 💋 #valetudo#odeteroitman#pobre#bijuteria#minutosdesabedoria♬ som original - Odeteroitman
@odetealmeidaroitman Não Usarei !!!!!! #odeteroitman#valetudo#suaopnião#minutosdesabedoria♬ som original - Odeteroitman
Apesar da ironia afiada, o caso reacende o debate sobre o uso de IA no entretenimento e a exploração da imagem de pessoas que não estão vivas para fins lucrativos. O perfil cobra R$ 29,90 em assinaturas e pode monetizar os vídeos conforme as regras do TikTok --quanto maior o número de visualizações, maior será a quantia recebida pela página.
Para o Economia Real, os advogados Raphael Santana, mestre em direito digital pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), e Natasha do Lago, criminalista e sócia do Ráo & Lago Advogados, são categóricos: não há crime tipificado atualmente no que o perfil realiza.
O uso de deepfake ou IA com fins satíricos ainda está em zona cinzenta na legislação brasileira. "Caso a Globo entenda como violação de direitos autorais, poderá judicializar. Se a atriz estivesse viva, ela poderia processar o autor do perfil por crime de injúria ou difamação. Mas, como está morta, não há enquadramento penal por injúria ou difamação", explica Natasha.
Santana faz um paralelo com a ação publicitária da Volkswagen que uniu Elis Regina (1945 - 1982) com a filha Maria Rita em 2023. "Juntas", as cantoras dirigem o mesmo veículo, mas com os respectivos modelos de cada época. A campanha foi eleita o melhor comercial do Brasil em 2024 e também acendeu debates sobre o uso da inteligência artificial no mercado publicitário.
"Quando estava viva, a Elis nem poderia imaginar que existira essa tecnologia. Como a família participou da ação, juridicamente o caso é mais simples: a família concordou. Porém, existem outras questões jurídicas naquele caso, como as pessoas acreditarem que a Elis dirigiu o carro, mas não temos respostas na legislação para afirmar se existe alguma questão ou não".
Na visão do especialista, caso a família da cantora não tivesse concordado com o comercial, ela poderia pleitear uma indenização na Justiça, mas nada que levasse alguém à prisão.
O Economia Real questionou a Globo e o TikTok sobre o tema, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem. Os descendentes de Beatriz Segall não foram localizados e o perfil no TikTok não conta com um espaço de contato.
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