'REI DOS EMPRÉSTIMOS'
REPRODUÇÃO/GLOBO
Jobson Antunes Ferreira, conhecido como 'rei do empréstimo', foi preso pela PF na quinta (21)
Publicado em 25/8/2025 - 10h44
Um ex-oficial da Marinha Mercante, que chegou a usar mais de 30 identidades falsas, é apontado pela Polícia Federal (PF) como o chefe de um dos maiores esquemas de fraude empresarial do país. Conhecido como "rei dos empréstimos", Jobson Antunes Ferreira abriu 334 empresas de fachada e movimentou mais de R$ 2 bilhões em operações fraudulentas.
"A gente descobriu que ele geria uma verdadeira empresa do crime", afirmou o delegado Bruno Bastos Oliveira, da PF de Niterói (RJ), em entrevista ao Fantástico, exibido pela Globo no domingo (24).
O ex-marinheiro foi preso na última quinta (21) ao lado da mulher, Cláudia Márcia, em um condomínio de luxo em Niterói. Ele usava uma estrutura para obter empréstimos bancários com documentos falsos e recrutava laranjas até entre pessoas em situação de rua, ao oferecer desde dinheiro até cestas básicas e bebidas alcoólicas.
Segundo a investigação, o primeiro golpe foi aplicado nos anos 2000, quando Jobson abriu empresas fictícias para obter crédito e salvar um negócio de material de construção que estava à beira da falência. Desde então, o método se repetiu e se profissionalizou: empresas fantasmas eram abertas em endereços reais, geralmente do mesmo ramo de atividade, para dar aparência de legitimidade.
Em apenas um minimercado, por exemplo, a polícia encontrou registros de 30 "mercearias" diferentes. Em outro local, havia 13 empresas cadastradas. Todas funcionavam apenas no papel: não tinham funcionários, produtos ou atividade real, mas possuíam vale-refeição e contas regulares para simular operações.
O esquema também contava com contadores cúmplices e, segundo a PF, até gerentes de bancos recebiam vantagens para liberar empréstimos. "Normalmente eu dou 5% para o gerente. Tudo tem que ser pago", disse Jobson em uma das gravações obtidas pelos investigadores.
Os empréstimos fraudulentos eram quitados parcialmente, com o pagamento das primeiras parcelas, para mascarar o golpe. Depois de dez ou doze meses, as prestações eram interrompidas sob a justificativa de dificuldades financeiras.
O dinheiro, segundo a PF, foi usado para a compra de imóveis de alto padrão, inclusive a casa em que Jobson e a mulher foram presos. Ele já havia sido detido em 2024, mas continuou operando o esquema de dentro da cadeia, mesmo com tornozeleira eletrônica.
Ao ser interrogado, ainda tentou subornar o delegado. "Será que não tem como me ajudar? Eu vou gastar dinheiro no advogado... não posso gastar aqui?", disse.
Em nota, o advogado Jair Pilonetto, que defende o casal, afirmou que "os acusados não cometeram os crimes imputados e que a inocência será comprovada no decorrer da instrução processual".
A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) também se manifestou, ao repudiar qualquer envolvimento de funcionários de instituições financeiras e informar que realiza treinamentos periódicos para identificar transações suspeitas.
Segundo a reportagem do programa da Globo, Jobson e Cláudia devem responder por estelionato qualificado, organização criminosa, lavagem de dinheiro e financiamento fraudulento. "Ele detalhava cada fraude sem constrangimento. Achava que não fosse ser pego", concluiu o delegado.